terça-feira, 24 de abril de 2018

Arcade Fire no Campo Pequeno, Lisboa (23-04-2018)

No dia 23 de Abril de 2018, fui à sala de espectáculos Campo Pequeno, em Lisboa, a ver os canadianos Arcade Fire a propósito da digressão "Infinite Content". Antes disso estive a ver os Preservation Hall Jazz Band, que foi a primeira parte do concerto dos Arcade Fire, e não foi assim nada de especial.
Em relação aos Arcade Fire, lembro-me quando marcaram a data do concerto na véspera da cimeira da NATO em 2010 e fiquei muito mas muito triste com essa notícia. A primeira vez que vi os Arcade Fire foi no Rock In Rio de Lisboa 2014 e infelizmente o concerto foi o mais fraco que existe e com muita pena minha de não poder assistir o concerto deles no SBSR 2011, a propósito da digressão do álbum "The Suburbs". Isso causou-me a extrema frustração.
Com os três primeiros álbuns "Funeral", "Neon Bible" e "The Suburbs", lançados de 2004 a 2010, os Arcade Fire foi uma das bandas que tenho acompanhado até então, na altura do lançamento desses álbuns referidos, e que demonstram os certos talentos dentro da sua panorama. Desde os coros a cargo dos membros da banda, o uso de vários instrumentos musicais (violinos, violoncelo, xilofones, guitarras, bateria, baixo, acordeão, harpa, teclado, entre muitos outros), orquestrações triunfantes e álbuns conceptuais. As canções deles são emotivas, épicas e majestosas. Há também momentos melancólicos, dramaticos e teatrais por parte da banda. A voz inconfundível do líder Win Butler. A sua mistura de rock com elementos de música pop barroca, o nível da escrita, a sua evolução artística tornaram-se bem memoráveis neste capítulo e o resultado dessa trilogia foi totalmente irrepreensível que fazem deles uma das bandas mais respeitadas dentro da cena indie rock. No álbum seguinte "Reflektor", em 2013, foi um passo na direcção fraca, incorporando elementos do rock artístico, da new wave e de disco, e o resultado final não foi mau mas obteve bons resultados graças aos singles como a faixa titulo (com o David Bowie como convidado especial), "Afrerlife" e "We Exist". 
A última vez que os vi foi no NOS Alive 2016 esgotado e deram um concerto fantástico, fiquei surpreendido pelas performances ajudando a interpretar vários temas dos quatro primeiros álbuns. O mais recente álbum, "Everything Now" foi uma tremenda desilusão com as tentativas da nova abordagem musical, os momentos mais virados às electrónicas de dança e outros mais pop à la ABBA, mas depois acabou por perder a inspiração ou não ter ideias suficientes durante as gravações (até o próprio Win Butler não gostou do "EN" e esperava que seja "o pior álbum", durante a entrevista ao jornal The Guardian). Quanto a mim pareceu-me tão confuso, desfocado e tão desiludido ao que eles representaram, as suas tentativas que eles tocaram neste álbum não conseguiram alcançar o seu poder e a sua energia. Tal como a maioria das pessoas, este é o meu álbum menos favorito na história, uma espécie de "Be Here Now" (referência ao álbum mal amado dos Oasis) deles.
Em relação a actuação deles no Campo Pequeno foi um bocadinho sonso. Em Estava muita gente na plateia e na bancada, e não sabia que o concerto fosse em 360º. Eu estava à frente da plateia e não consegui ver a projecção do ecrã.
No palco estava o Win Butler, a Régine Chassagne, o Richard Reed Parry, William Butler, Tim Kingsbury, Jeremy Gara, Sarah Neufeld, Tiwill Duprate e Stuart Bogie a tocarem vários instrumentos, canção após canção.
Durante a introdução, os Arcade Fire entraram no ringue como se estivesse a ver o campeonato mundial de boxe e começaram a tocar o tema "Everything Now", do qual nunca me encheu as medidas. Aprecio na maneira como eles actuaram no palco interpretando temas recentes intercalando com os temas antigos, dos quais são imperdíveis, no caso de "Rebellion (Lies)" e "Haiti" (com a Régine na voz principal). Durante o concerto dos Arcade Fire, houve momentos mais altos recheados de emoções, o William Butler saiu do ringue e subiu por cima de um escadote a improvisar o tambor durante a performance da "Rebellion (Lies)". Mas também houve um momento em que embirrei com a “Here Comes The Night Time” ainda em versão ao vivo, nunca gostei. Com o hino "No Cars Go", a banda liderada por Win Butler e Regine Chassagne começaram a alcançar os objectivos para o público espalhado ao seu dispor. Daí é que me felicitei por completo a essa música que tocaram. Mas depois, congelaram-se devido a outros momentos insípidos como "Electric Blue" (aqui nesta música, os falsetes da Régine soam uma imitação descarada a Prince e em termos de instrumentação não ajuda nada) e "Put Your Money On Me", essas duas do "Everything Now" nada soam melhor ao vivo do que no estúdio. As coisas voltaram a recuperar-se de uma nota muito positiva a partir do momento onde a Regine saiu do ringue e foi sozinha para a bancada a cantar a "It's Never Over (Oh Orpheus)" para o público. De seguida, com a trilogia de canções perfeitas encontradas no "Funeral" como "Neighborhood #4 (7 Kettles)", "Neighborhood #2 (Laika)" e "Neighborhood #1 (Tunnels)", fiquei extasiado pelas performances incríveis ao que deram no Campo Pequeno. De seguida, com os temas "The Suburbs" e "Ready To Start" os Arcade fire estiveram muito bem dispostos mantendo o público apreciado no Campo, nos momentos mais rock com clareza e outros mais dançáveis como "Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)" (com a Régine a assumir ao microfone) e "Reflektor" das quais me põem a sorrir na minha cara alegre. Mais à frente, Win Butler, quando eles tocaram a "Afterlife", saiu do ringue sozinho e foi para a bancada de frente a cantarolar ao pessoal no Campo Pequeno, incluindo o operador de câmara, enquanto as audiências, como eu, tiraram as fotos com os seus iPhones ou filmar. A determinada altura, antes do encore, o alinhamento original fechou com a outra pérola de sempre "Neighborhood #3 (Power Out)", tema que faz parte do "Funeral". 
No encore, os Arcade Fire regressaram ao palco ao som do sombrio "We Don't Deserve Love", o único aspecto positivo do maldito "Everything Now". Depois disso, o concerto acabou com a canção mais emblemática deles todos, a "Wake Up" com os Preservation Hall Jazz Band, como convidado especial, com o público a cantar em plenos pulmões até transpirar. E finalmente, os Arcade Fire saíram do ringue enquanto o resto da multidão cantou o reprise da parte do refrão da "Wake Up" com os seus coros "ooohoooohooohoooh..." e a versão improvisada de "Rebel Rebel", original de David Bowie, ao pé da porta interior dos touros antes de eles irem embora. E pronto, não foi dos melhores concertos que assisti, mas foi razoável no que diz respeito às performances. 

Preservation Hall Jazz Band


Arcade Fire

(William, you need more cowbell...)









Arcade Fire com os Preservation Hall Jazz Band como convidado especial

Os fãs a cantarolar a parte do refrão da "Wake Up"

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/arcade-fire/2018/campo-pequeno-lisbon-portugal-53ec331d.html

Everything Now (Continued) (with boxing intro)
Everything Now
Rebellion (Lies)
Here Comes The Night Time
Haiti
No Cars Go
Electric Blue
Put Your Money On Me
It's Never Over (Hey Orpheus)
Neighborhood #4 (7 Kettles)
Neighborhood #2 (Laika)
Neighborhood #1 (Tunnels)
The Suburbs
The Suburbs (Continued)
Ready To Start
Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)
Reflektor
Afterlife
Creature Comfort
Neighborhood #3 (Power Out)

Encore:
We Don't Deserve Love
Everything Now (Continued) (with Preservation Hall Jazz Band)
Wake Up (with Preservation Hall Jazz Band) (followed by reprise of chorus and David Bowie's "Rebel Rebel" played in the crowd during slow exit)