terça-feira, 13 de março de 2018

Slowdive no Lisboa Ao Vivo (08-03-2018)

"The world is full of noise, yeah.... I hear it all the time"

No dia 8 de Março de 2018, fui à sala de espectáculos Lisboa Ao Vivo ver a banda inglesa Slowdive.
Os Slowdive são uma das minhas bandas favoritas de sempre dentro do movimento shoegaze, juntamente com os My Bloody Valentine e os Ride. A descoberta desse estilo que não ouvi falar tenha-se aguentado e evoluído até então, desde jovem. Por toda a panóplia que se tenha desenvolvido ao longo dos anos, shoegaze (bem como a dream pop) é o tipo de música que mais me acompanho, o rock alternativo/indie que vive das texturas de camadas de distorção. Como eu olho para os sapatos, desculpem tal a expressão, a combinação de melodias e harmonia de vozes etéreas com os ruídos de guitarras distorcidas, utilizando várias técnicas como o feedback, o reverb e os delays, criando uma paisagem sonora onírica, do qual fez-me querer imaginar se tivesse a viajar para o mundo dos sonhos. Contudo, posso então chamar o tal termo "Beautiful Noise".
Tal como os MBV e os Ride, os lendários Slowdive não sabem fazer maus discos e conseguem fazer as músicas com qualidade sem repetir a mesma fórmula. Antigamente, os Slowdive era uma banda completamente despercebida quando saem os três primeiros álbuns na altura do lançamento, mas um pouco tempo depois, após um hiato em 1995, tornaram-se um enorme sucesso de culto. Com a trilogia de discos perfeitos ("Just For A Day", "Souvlaki" e o ambiental mas próximo do pós-rock "Pygmalion") e vários EPs, lançados de 1991 a 1995, a conjugação de guitarras atmosféricas e "espiralescas" intercalando as vozes masculinas e femininas para dar uma harmonia perfeita que faz dos Slowdive, uma identidade muito própria para além de enorme beleza sonora com a produção cuidada, diversificando pouco e pouco. Se os MBV revelam a estética mais próxima do ruído, então os Slowdive revelam a estética mais próxima da pop sonhadora e de alguma forma não soando assim tão abrasiva e barulhenta como os MBV, ou tão poppy como os Ride. Também gosto do projecto musical deles, os Mojave 3, activos de 1995 a 2006, uma identidade muito próxima de música americana como a folk e country rock. E em relação ao novo álbum homónimo deles, ou seja, o quarto álbum de originais lançado em 2017, sucessor a "Pygmalion", o terceiro álbum de originais lançado há 22 anos, foi um regresso triunfante considerando o meu álbum de eleição de 2017.
Vi-os no NOS Primavera Sound 2014, no mesmo ano onde voltaram ao activo, que estiveram cá em Portugal pela primeira vez e deram um concerto fantástico. Fiquei super rendido de todo tamanho. E então, decidi vê-los outra vez.
Antes disso, estive a ver o concerto dos Dead Sea, que foi a primeira parte do concerto dos Slowdive. Não conhecia muito bem quem são esses rapazes e ao ver eles ao vivo pela primeira vez, fiquei  super espantado. O som dos Dead Sea faz-me lembrar os Cocteau Twins. Eu pensei que os Dead Sea eram ingleses, mas na verdade, são franceses. A vocalista, na forma de cantar, têm aquela voz semelhante à da Liz Fraser. A beleza característica de paisagens sonoras por parte do guitarrista tem uma característica singular à de Robin Guthrie. E o teclista surpreendeu aos restantes membros também. A minha revelação do concerto de abertura.
Quanto aos Slowdive, deram um concerto espectacular e tão sublime do principio ao fim como no Primavera de 2014. Eu estava mesmo à frente da plateia.
No palco, estava a Rachel Goswell (na voz, nas teclas, na guitarra e no tamborim), Neil Halstead (na voz e guitarra), Nick Chaplin (no baixo), Christian Savill (na guitarra) e Simon Scott (na bateria).
O concerto começou com o tema que abre o novo álbum homónimo, "SloMo". Daí ouvimos os sons de sintetizadores oceânicos, a conjugação das guitarras melodiosas criando a beleza e a escuridão intercalando com as duas vozes por parte da Rachel e do Neil. Esse efeito permanece ao público do Lisboa Ao Vivo totalmente motivado. Durante os momentos inigualáveis, a partir daí, quando tocaram a "Crazy For You" e "Star Roving", despertou-me a felicidade, extasiando o mais alto possível. O efeito semi prolongado de dois acordes repetitivos de guitarras encontrado no "Avalyn", do primeiro EP homónimo, testemunhou esse acontecimento. O outro ponto mais alto desta actuação para mim foi o belíssimo "Catch The Breeze". De toda a dinâmica presenciada, a actuação consegue atingir às minhas ambições. Já nos primeiros acordes ao som do espaçoso "Souvlaki Space Station" (com a Rachel a assumir à voz principal), os Slowdive demonstram as suas texturas fulgurantes incorporando algumas experimentações sónicas (o uso de delays, feedbacksreverb nas guitarras estão bem presentes nesta música, tal como as outras tocadas no estúdio e ao vivo) bem como as influências do ambient dub e do space rock. Passando alguns momentos mais assombrosos no que diz respeito à representação como no caso de "Blue Skied and Clear" e a dinâmica "No Longer Making Time". O alinhamento continua a aperfeiçoar intercalando os temas antigos com os temas do mais recente álbum. Com as outras pérolas perfeitas "When The Sun Hits", "Alison" e "Sugar For The Pill", esse efeito transmite a euforia espalhada para o grande público. O alinhamento original, antes do encore, acabou com a interpretação onírica de "Golden Hair" (outra vez com a Rachel a assumir à voz principal), original de Syd Barrett, que foi um dos momentos mais intimistas e ao mesmo tempo emotivas durante o concerto.
Por acaso, achei piada ao flamingo cor-de-rosa de plástico que estava colocado em cima do teclado da Rachel Goswell. Outra coisa que me fartei de rir é que o público deram o nome ao flamingo e chamaram-lhe "Flo". Achei a Rachel muito simpática e engraçada com bom sentido de humor, não só em termos de personalidade, mas também pelos seus talentos versáteis. Os restantes membros, incluindo o Neil Halstead, estiveram também muito bem dispostos. E a interacção com o público foi óptima.
No encore, pouco tempo depois, a balada acústica sinistra de "Dagger" ou a delicodoce de "40 Days" ou de "Don't Know Why" foram um dos momentos finais inesquecíveis que atingiram as minhas expectativas mais calorosas.
Depois dos Slowdive terem saído do palco, mantiveram a interacção com o público mais motivado e comunicativo do que nunca. A determinada altura, os técnicos de som deram-me a folha de setlist de canções que eles tocaram. E foi uma grande surpresa para mim.
E pronto, foi uma avassaladora e excelente experiência. Em termos da projecção da imagem, das performances e da qualidade do som está formidável. Não houve nenhuma falha onde posso encontrar. E este foi um dos concertos do ano que vai ficar para a história.


Dead Sea



Slowdive











Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/slowdive/2018/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-7bef92b4.html

SloMo
Slowdive
Crazy For You
Star Roving
Avalyn
Catch The Breeze
No Longer Making Time
Souvlaki Space Station
Blue Skied and Clear
When The Sun Hits
Alison
Sugar For The Pill
Golden Hair (Syd Barrett cover)

Encore: 
Don't Know Why
Dagger
40 Days