segunda-feira, 27 de maio de 2019

Dead Can Dance na Aula Magna, Lisboa (23-05-2019)

"Dead Can Dance, com a passagem do tempo na Aula Magna já esgotada."

No dia 23 de Maio de 2019, fui à Aula Magna, em Lisboa, ver os Dead Can Dance, grupo musical constituído por dois membros, o inglês Brendan Perry e a australiana Lisa Gerrard, a propósito da digressão dos quase 40 anos de carreira entitulado "A Celebration - Life & Works 1980-2019".
A minha introdução para os Dead Can Dance foi através da editora 4AD. Por volta de 2005, tinha 15 anos em que comecei a descobrir artistas ligados à música independente que nunca tinha ouvido, nomeadamente os artistas contratados pela 4AD, de nomes como Cocteau Twins, Dead Can Dance (como referi anteriormente), Pixies ou This Mortal Coil. E em perfeita sintonia com as sonoridades (bem como as capas) negras, enigmáticas e fantasmagóricas que a editora tinha revelado nos anos 1980. No entanto, essa tal descoberta possa reflectir o meu interesse até aos dias de hoje. Isso faz parte da minha vida pessoal. 
O primeiro disco dos Dead Can Dance que eu ouvi foi um disco de colectânea que tem como titulo "A Passage In Time", de 1991. Antes de eu explorar a discografia inteira deles, "A Passage In Time" demonstra a selecção de temas compostos e gravados entre 1985 a 1991, a escolha das canções foi bastante diversificada, sem nenhuma falha. E esta compilação é um belo cartão de visita para quem quer descobrir a discografia da banda. "The Host Of Seraphim" é a primeira canção que eu ouvi e fiquei impressionado com tudo aquilo que fizeram até aí. Os cantos étnicos por parte da Lisa Gerrard e do Brendan Perry, os drones de teclados atmosféricos e ao mesmo tempo fantasmagóricos para adicionar um efeito dramático e aquela forte influência da música oriental, música medieval, world music, darkwave e neoclássica. Embora seja linear de identificar os estilos em que eles tocam. Eles tem a própria personalidade. E ao ouvir os álbuns de estúdio como os aclamados "Spleen and Ideal" (1985), "Within The Realm Of A Dying Sun" (1987), "The Serpent's Egg" (1988) e "Aion" (1990) acabou por se tornar uma das minhas bandas favoritas, a par dos Cocteau Twins, de todos os tempos. Normalmente, é difícil de escolher o meu preferido, mas de facto o "Within The Realm of a Dying Sun" será o meu favorito pela quantidade de vezes que eu ouço com uma produção cristalina, e tem vários temas que gosto, como é o caso de "Cantara", "Anywhere Out Of The World", "Xavier", “Summoning Of The Muse” ou até o instrumental "Windfall". 
Por outro lado, vi-os duas vezes ao vivo, uma no Coliseu de Lisboa e a outra no NOS Primavera Sound, no Porto, em finais de Maio de 2013, a propósito da digressão mundial do álbum regressado "Anastasis", lançado em 2012. Em termos de performances foram maravilhosas. Para além de tocar todas as músicas desse álbum de 2012, tocaram algumas antigas, o que está de acordo com a setlist e o resultado final foi uma experiência formidável.
Recentemente, decidi vê-los outra vez a propósito da digressão da comemoração dos quase 40 anos de carreira e a minha expectativa era muito elevada. Antes disso, estive a ver um percussionista alemão chamado David Kuckhermann, que foi a primeira parte do concerto dos Dead Can Dance.
Durante o concerto, Kuckhermann improvisa os solos de Hang drums (instrumento de percussão composto por um prato de bateria de ferro, também apelidado de Pan), de maracas e de tamborim clássico. No entanto, são 30 minutos de espectáculo. Gostei de ver. O bom artista de abertura.
Em relação aos Dead Can Dance, o concerto foi altamente triunfante que quase nem descrevo as palavras como é que eu me sinto. O espectáculo demorou cerca de 2 horas. A magia das vozes e da interpretação das canções estavam bem presentes nesta imaculada actuação. Como esta planeado na setlist, Brendan e Lisa decidiram revisitar temas antigos de todos os álbuns realizados nos 1980s, nos 1990s e no principio dos 2010s e mais um tema recente, "Dance of the Bacchantes", do último disco "Dionysius", álbum editado no ano passado, que muita das pessoas como eu nunca ouviram na Aula Magna. No entanto, ouvimos os acordes iniciais de teclados mágicos ao som de "Anywhere Out Of The World", com a voz de Brendan Perry a assumir ao microfone. Uma excelente maneira de começar o espectáculo. No tema seguinte "Mesmerism" interliga um toque meio oriental e ao mesmo tempo "medievalesco" memorável. A conjugação vocal, cantado em uníssono, entre Brendan e Lisa, bem como o uso de bouzouki a cargo do Brendan e o uso de yangqin (o dulcimer martelado chinês) a cargo de Lisa estão no caminho certo. Os restantes membros, que são músicos de sessão, conseguem manter o poder das performances para uma multidão completamente rendida.
Após as duas canções de abertura, houve um momento de surpresa que me faça surpreender como é o caso do esquecido "Labour Of Love", uma sonoridade muito próxima do rock gótico do que aquilo que veio logo a seguir, onde podemos encontrar este tema disponibilizado nas sessões do radialista John Peel, gravado em 1984. Mas uma coisa que me surpreende ainda mais é a canção "In Power We Entrust The Love Advocated", com Brendan Perry a cantar, retirada do primeiro álbum homónimo (1984). As linhas de guitarra oceânicas e serenas por parte de Brendan será sempre bem-vindo, evocando o sentido de atmosfera e de beleza estética, provavelmente o perfeito momento do espectáculo. Pouco tempo depois, o assombroso “Xavier”, outra vez com Brendan a cantar, é de certeza absoluta o meu tema favorito deles, os sons de cravos soam tão idêntico e magistral e as harmonias vocais por parte de todos os membros pareceram divinais. Houve também momentos arrepiantes que se destacam nesta perfeita setlist com as canções cantadas pela Lisa Gerrard como a eufórica "Sanvean", a arábica e espiritual "Yulunga (Spirit Dance)" ou até mesmo a sensacional "The Host of Seraphim", com uma tonalidade abaixo do normal soando tão incrível ao vivo como no estúdio. Ou com as canções cantadas pelo Brendan Perry como a inacreditável "The Carnival Is Over" ou o soberbo "Amnesia".
A voz profunda e barítona de Brendan transmite a emoção intensa, enquanto a voz poderosa e transcendental da Lisa é algo de único que até me arrepia ainda mais.
Depois de terem terminado o alinhamento original com a folk mediterrânica "Dance Of The Bacchantes", com Lisa na voz, nos encores, Brendan e a teclista de sessão regressaram ao palco para interpretar a "Song To The Siren", original de Tim Buckley e que anos mais tarde foi popularizada através da versão do colectivo da 4AD, This Mortal Coil, com um arranjo semi-diferente, ouvindo apenas a guitarra serena por parte do Brendan e do teclado ambiental. Depois disso, Lisa e os restantes músicos regressaram ao palco e interpretaram a indelével "Cantara", com Lisa na voz, e a multidão ficou toda rejubilada logo no inicio da canção. E esse tal efeito transmite a sensação orgânica.
E depois disso, os músicos de sessão (com a excepção dos dois teclistas) saíram do palco. Lisa e Brendan vieram sozinhos no palco. Ela a interpretar a "The Promised Womb" e ele a interpretar a indestrutível "Severance".
Posto isto, desses três concertos que vi, gostei mais deste e também foi o melhor concerto que eu assisti em termos de alinhamento e da performance. O alinhamento das canções teria sido uma espécie de best-of de toda a carreira dos Dead Can Dance, que passou por géneros musicais tão diferentes como a darkwave, neoclássica, música medieval, rock gótico ou até a world music. Foi um dos concertos que ficará na minha memória.



David Kuckhermann




Dead Can Dance









Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/dead-can-dance/2019/aula-magna-lisbon-portugal-b907916.html

Anywhere Out Of The World
Mesmerism
Labour Of Love
Avatar
In Power We Entrust The Love Advocated
Bylar
Xavier
The Wind That Shakes The Barley
Sanvean
Indoctrination (A Design For Living)
Yulunga (Spirit Dance)
The Carnival Is Over
The Host Of Seraphim
Amnesia
Autumn Sun (Deleyaman cover)
Dance Of The Bacchantes

Encore:
Song To The Siren (Tim Buckley cover)
Cantara

Encore 2:
The Promised Womb
Severance

domingo, 12 de maio de 2019

Madrugada no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (10-05-2019)

No dia 10 de Maio de 2019, fui à sala de espectáculos Lisboa Ao Vivo ver os Madrugada, a propósito da digressão da comemoração dos 20 anos do álbum de estreia "Industrial Silence", originalmente lançado em 1999.
Em relação ao nome da banda "Madrugada" pareceu-me bizarro, eu pensei (e julgava) que eles eram portugueses mas não, na realidade são noruegueses. A cena das bandas estrangeiras a utilizar termos portugueses baralha-me por tudo e por nada. E não tenho problemas com artistas nacionais que escrevem letras em estrangeiro. Para mim faz toda a diferença. Ainda assim, de Noruega, prefiro os a-ha.
A descoberta dessa banda foi através de um amigo meu que me recomendou. 
Antes disso, estive a ver uma banda portuguesa formada em Coimbra chamada A Jigsaw, que foi a primeira parte do concerto dos Madrugada.
Nesta actuação, os A Jigsaw vão buscar influências da folk, da country alternativo/gótico e de nomes como Tom Waits, Nick Cave ou Tindersticks, o que eu acho maravilhoso. Pessoalmente, gostei bastante da actuação deles com músicas introspectivas e melodias fantásticas. Os contos de histórias ao que eles escrevem nas músicas são sensacionais. A voz rouca por parte do vocalista, guitarrista e líder da banda tem característica semelhante à do Tom Waits, na sua forma de cantar. A voz feminina transmite uma sensação poderosa, o que eu achei adorável. As secções do violino e do piano a cargo dos restantes membros foram estrondosas. Eles tiveram muito bem dispostos no palco. O resultado final foi uma surpresa agradável.
Quanto aos Madrugada foi admirável. As músicas deles fazem lembrar Nick Cave and The Bad Seeds mas com elementos folk, country e do psicadelismo. Neste concerto em que o dramatismo das canções, bem como as boas letras tornou-se algo apropriado. Eles cantam em inglês, tal como os A Jigsaw. O vocalista Sivert Høyem, com a sua pandeireta na mão a bater na palma da outra mão, transmite uma atitude carismática para o público de Lisboa Ao Vivo mais honesto. O guitarrista Cato Thomassen mostrou uma adequada performance no que toca o virtuosismo e a técnica. Os Madrugada entraram no palco e tocaram o álbum "Industrial Silence" na integra. O concerto começou com os temas mais rock como "Vocal" e "Higher". Passando pelos momentos intimistas como "Shine", simplesmente gostei da secção de pedal steel de guitarra nesta música, ou até mesmo a "This Old House", cujos temas exemplificam a sua versatilidade musical, incorporando as raízes da música americana, nomeadamente a country, mesmo acompanhando com os solos de harmónica a cargo do guitarrista e teclista Christer Knutsen. E naquele momento em que eles tocaram a "Strange Colour Blue", um momento magnífico da noite, os meus ouvidos entraram-me em transe. Com um arranjo fantástico. Uma canção cheia de mistério e suspense. A projecção vocal do Sivert é excelente ao longo do tema e é realmente qualquer coisa. O alinhamento acaba com os temas introspectivos como "Beautyproof" e "Electric", outro momento que se destacou.
Apesar de não explorar o suficiente a discografia toda que eles realizaram para além desse, os Madrugada pareceram-me uma banda fixe.
No encore, os Madrugada regressaram ao palco para interpretar alguns dos temas que fazem parte dos álbuns que vêm a seguir ao "Industrial Silence". O sinistro e bluesy "Black Mambo" achei fantástico, os toques de sinos tubulares por parte do Christer Knutsen pareceu-me arrebatador como se tivéssemos a estar numa casa assombrada recheada de espíritos maléficos, fantasmagóricos e de outros elementos sobrenaturais. E este tema em geral é parecido como um tema perdido dos Crime and The City Solution ou "Red Right Hand" do Nick Cave. De seguida, o "Hands Up - I Love You" foi um tema muito bom, as linhas de baixo dedilhadas por parte do Frode Jacobsen, bem como a secção melódica de piano a cargo de Christer foram altamente memoráveis. A festa acaba com os últimos dois ou três temas como o glorioso "Majesty" e o frenético "The Kids Are On High Street".
Ao todo, foi uma maravilhosa descoberta a essa banda que nunca tinha ouvido falar antes. Alguns dos meus amigos através do Facebook adoram-lhes. E pronto, foi assim que os Madrugada deram um bom concerto no Lisboa Ao Vivo e valeu a pena ver.


A Jigsaw






Madrugada
 

(Lost Highway in Blue)


 




Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/madrugada/2019/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-6b90ced6.html


Vocal
Belladonna
Higher
Sirens
Shine
This Old House
Strange Colour Blue
Salt
Norwegian Hammerworks Corp.
Beautyproof
Quite Emotional
Terraplane
Electric

Encore:
Black Mambo
Hands Up - I Love You
Only When You're Gone
What's On Your Mind?
Majesty
The Kids Are On High Street
Valley Of Deception