sábado, 29 de setembro de 2018

Beach House no Coliseu dos Recreios, em Lisboa (25-09-2018)

"Fall back into place..."

No dia 25 de Setembro de 2018 fui à sala de espectáculos Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a ver os Beach House.
Conheci os Beach House, na altura quando lançaram o álbum "Teen Dream" (o terceiro de originais) de 2010, através da actuação no programa de tonight shows com o comediante Conan O' Brien onde interpretaram as canções como "Zebra" e "10 Mile Stereo" (pertencentes a esse mesmo álbum) e fiquei super espantado e admirado com a sonoridade da banda. Os talentos da vocalista e teclista Victoria Legrand (sobrinha do músico Michel Legrand) e do guitarrista Alex Scally demonstram a simplicidade, tornando-se memoráveis dentro da pop sonhadora (ou dreamy, se preferirem) com elegância. Adoro a combinação de guitarras delicodoces do Scally, a voz única e drones de teclados mágicos por parte da Victoria com as texturas simplificadas recheadas de reverb para criar uma perfeita harmonia. Poucos anos depois, quando lançaram o quarto álbum "Bloom", em 2012, a aventura do duo de Baltimore continua a explorar a mesma estética, uma espécie de sequela ao álbum anterior mas com uma produção muito homogénea, balanceada e cuidadosa, diversificando em cada um deles. Depois disso explorei os restantes trabalhos deles, os primeiros dois para além desses, e foram muito bons mas não tanto como os que vêm a seguir. Naquele momento que eu ouço o primeiro single "Sparks", naquela altura antes do lançamento do quinto "Depression Cherry", em 2015, com as guitarras rasgadas semelhantes às dos My Bloody Valentine, nem imagino se os Beach House voltassem a incorporar a nova sonoridade ou continuar com o mesmo estilo dos anteriores. E ao ouvir o "Depression Cherry", fiquei surpreendido pela sonoridade que se tenha evoluída ao longo dos anos. Essa santíssima trindade de álbuns ("Teen Dream", "Bloom" e "Depression Cherry") que dá os Beach House, uma das bandas mais emblemáticas dentro do movimento indie/dream pop deste século. Houve uns poucos momentos em que a banda pode não ter ideias suficientes ou não ter mudanças de estilo. "Thank Your Lucky Stars", editado no mesmo ano, poderia ser mais variado se não repetisse a mesma fórmula ao que fizeram nos álbuns anteriores. Metade dos temas são uma espécie de colecção perdida de lados-B, durante as sessões do "Depression Cherry".
Mas com o mais recente álbum "7", em 2018, os Beach House representam uma estética da nova sonoridade, incorporando elementos do neo-psicadelismo e do shoegaze. Graças à produção estrondosa e magistral a cargo do músico Peter Kember (conhecido como Sonic Boom, que fez parte da banda ligada ao movimento space rock Spacemen 3). "7" é um álbum mais aventureiro e diversificado desde "Teen Dream e "Bloom", que demonstra uma certa emoção e paixão ao que esperava e que se tornou um dos meus álbuns favoritos do ano.

Antes disso, estive a ver uma banda que se chama Sound of Ceres, que foi a primeira parte do concerto dos Beach House. Não os conhecia muito bem esses fulanos mas pareceram-me cativantes. No entanto, fiz uma pesquisa no goggle, descobrindo que os membros deste projecto fazem parte das bandas que são os Candy Claws, The Apples In Stereo e The Drums. A música destes Sound of Ceres parece-me algo onírico, repleta de mistério, conjugando com texturas pop de sintetizadores com influências da dream pop, do shoegaze e do neo-psicadelismo. A voz da Karen Hover (membro dos Candy Claws) parece-me etérea, muito reminescente à da Julee Cruise (conhecida como a interpretação do tema "Falling" da série Twin Peaks). Houve também spoken words relacionados com o silêncio, o pós-modernismo, entre outros. E foi um concerto único.

Quanto aos Beach House, pareceram-se tão genuínos tanto no estúdio como em ao vivo. Eu vi-os duas vezes no NOS Primavera Sound de 2016 e no Paredes de Coura de 2017 e foram fantásticos e tive uma imensa expectativa de os ver outra vez depois de ouvir o novo álbum "7", do qual achei-o maravilhoso que não me canso de ouvir. Uma coisa que eu sei é que a setlist poderá ser a maior parte das canções do 7 graças a esse nome da digressão deste álbum. Este alinhamento intercalou os temas antigos com os temas do novo álbum e esse tal objectivo foi totalmente alcançado. A magia das canções torna-se tão intensas e suntuosas que transporta aos ouvintes a irem para o céu. Com o tema que abre o concerto "Levitation", os Beach House desempenharam o papel crucial a esse tópico. De seguida, "PPP" e "Walk In The Park", representam o mesmo nível de efeito despertando ao público no Coliseu de Lisboa muito arrepiante. Esses três temas encaixam de uma boa forma. A pop onírica e cerebral dos Beach House torna-se cada vez mais robusta. Ao som dos teclados mágicos luminosos, a voz etérea e sonhadora da Victoria Legrand, as linhas de guitarras cintilantes e melodiosas do Alex Scally e os ritmos poderosos do James Barone como músico de sessão, a música deles trazia algo peculiar e único intercalando com a projecção da imagem, bem como a projecção das luzes fabulosas e coloridas. Como se tivéssemos a entrar num mundo das ilusões onde há efeitos de luzes desfocados, espirais (LSDs), os trips psicadélicos e os quadradinhos preto e branco ondulados. A partir do momento inesquecível em que tocaram a "Dark Spring" (tema que abre o "7") e "Lazuli", arrepiei-me por completo considerando o qual tão emocional nesta actuação. Pouco tempo depois, a "Space Song" daí é que me felicitei e ao sentir essa música é como se tivesse a flutuar no espaço, o arpeggio de teclas tocadas com uma nota acima, imitando o som do foguete de brincar a descolar. Os complementos vocais da Victoria bem como a instrumentação estão no topo do bolo. Houve também momentos imperdíveis devido ao extensivo uso de camadas de distorção de guitarras e das teclas no "Sparks" (o uso de hacking track das vozes está presente nesta canção) ou nos momentos finais ruidosos no épico e emocionante "10 Mile Stereo". Com os novos temas do recente álbum "Black Car" e "Drunk In L.A", os Beach House ganharam aqui a fortuna. Outros momentos excelentes em que demonstram o lado mais romântico da banda como "Wishes" e "Beyond Love". No encore, depois de encerrar o concerto com a "Lemon Glow", voltaram aos palcos com as duas pérolas "Myth" e até mesmo a "Dive" com final prolongado, soando ainda melhor ao vivo do que no estúdio. E portanto, deram um concerto excepcional que vai ficar na minha memória. O público ficou tão entusiasmado, tal como eu. 


Sound of Ceres



Beach House








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Levitation
Walk in the Park
PPP
Dark Spring
Lazuli
L'Inconnue
Rough Song
Sparks
Black Car
Space Song
Drunk in LA
10 Mile Stereo
Girl of the Year
Wishes
Beyond Love
Lemon Glow

Encore:
Myth
Dive (with extended outro)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

A Place To Bury Strangers no RCA Club, Lisboa (01-09-2018)

No dia 1 de Setembro de 2018, fui à sala de espectáculos RCA Club, em Lisboa, a ver os A Place To Bury Strangers. 
Antes disso, estive a ver os Numb.er, que foi a primeira parte do concerto dos A Place To Bury Strangers, e pareceram-me muito bons. Eu tenho fascino pela baixista, quando eu olhei para ela a entrar no palco e fiquei impressionado na forma de tocar e tem muito carisma que até me transpira de sensualidade. Isso faz-me derreter o coração. O som destes 5 jovens são muito próximos do post-punk e do krautrock e tem qualquer coisa de Suicide e dos Neu!. Eu gostei de ver.

Quanto aos A Place To Bury Strangers foi simplesmente cativante. A sonoridade shoegaze e post-punk destes americanos torna-se cada vez mais abrasiva e crua, com muito feedback e distorção nos pedais à mistura. Aquilo que os APTBS fizeram não são nada particularmente originais. Os The Jesus and Mary Chain e os My Bloody Valentine fizeram isso há muito tempo. Mas eles conseguem combinar as texturas do shoegaze (o rock alternativo que vive das texturas de camadas de distorção) de um desses nomes com uma sensibilidade synth punk dos Suicide ou uma sensibilidade space rock, descendentes de Spacemen 3, e de kraurock dos Neu!, safam-se a fazer isso tudo e têm a própria personalidade. Os primeiros dois álbuns lançados em finais dos 2000s, nomeadamente a "Exploding Head", conseguiram atingir a esse objectivo totalmente dito. Apesar dos restantes álbuns de não estarem na mesma altura do que os anteriores. Eles continuam a fazer músicas com qualidade, álbum após álbum. E a propósito do novo álbum "Pinned", ainda não tive tempo de ouvir. No fim das primeiras duas músicas, o guitarrista e cantor Oliver Ackermann esmagava a guitarra julgando ao pessoal que o concerto tivesse acabado mas não, os técnicos de som deram-lhe a outra guitarra. No meio do espectáculo, estava lá a baterista a tocar auto-harpa e cantar a solo. Depois disso saíram do palco e foram para a plateia do meio a tocar mais duas músicas aos espectadores, ouvindo o backing track de drum machines electrónicas de fundo. Para além disso, voltaram ao palco a tocar mais 4 ou 5 músicas até ao fim. Temas como "In Your Heart", I Lived My Life To Stand In The Shadow Of Your Heart" e "Ocean" foram um dos momentos mais altos desta setlist. Na maneira como o Oliver Ackermann e companhia apresentam no palco, tornou-se diversificado. E pronto foi logo o primeiro dia de Setembro deste ano, no fim do verão, a começar com o pé direito. 


Numb.er





A Place To Bury Strangers








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias