sábado, 14 de dezembro de 2019

BALANÇO 2019

2019 foi um grande ano para à música, no que diz respeito à realização dos álbuns de artistas ou bandas, tal como em 2018 e 2012, desde inicio dos 2000s. Quando digo grandes álbuns, refiro-me aqueles que me marcaram e que mexeram comigo devido às escutas repetidas no meu iTunes ou Spotify. Os filmes, não tanto devido aos remakes desnecessários. As séries da TV tem-se aguentado e até crescido nestes dias, algumas delas a roçar a genialidade. 
Este ano os lendários da música como Mark Hollis (Talk Talk), Keith Flint (The Prodigy), Dick Dale, Scott Walker, José Mario Branco, Ric Ocasek (The Cars), Daniel Johnston, Roky Erickson (The 13th Floor Elevators), Ginger Baker (Cream) e David Berman (Silver Jews/Purple Mountains) calaram-se as bocas mas nada esquecidas. Pelo menos não está a transformar-se numa espécie de 2016 (cujo ano em que a música morreu, mas até, em 2016, também tem álbuns sensacionais). 
Normalmente, a escolha dos melhores discos e melhores concertos do ano tem sido uma tarefa muito complicada, porque as pessoas, às vezes, podem não memorizar quais são os que gostaram mais. 
Portanto aqui vai a lista dos melhores do ano.

Os 20 Melhores Discos Do Ano:
01. Nick Cave and The Bad Seeds - "Ghosteen"
02. Lingua Ignota - "Caligula" 
03. Swans - "Leaving Meaning"
04. Weyes Blood - "Titanic Rising"
05. Angel Olsen - "All Mirrors"
06. The Comet Is Coming - "Trust In The Lifeforce Of Deep Mystery"
07. Mão Morta - "No Fim Era O Frio"
08. Lana Del Rey - "Norman Fucking Rockwell"
09. Purple Mountains - "Purple Mountains"
10. DIIV - "Deceiver"
11. Drab Majesty - "Modern Mirror"
12. Fountaines D.C. - "Dogrel"
13. Black Midi - "Schlagenheim"
14. Chromatics - "Closer To Grey"
15. Sharon Van Etten - "Remind Me Tomorrow"
16. Big Thief - "U.F.O.F." + "Two Hands"
17. Orville Peck - "Pony"
18. Leonard Cohen - "Thanks For The Dance"
19. Thom Yorke - "Anima"
20. Chelsea Wolfe - "Birth Of Violence"

5 (ou 6) Menções Honrosas:
The Twilight Sad - "It Won't Be Like This All The Time"
Xiu Xiu - "Girl With A Basket Of Fruit"
Boy Harsher - "Careful"
Alcest - "Spiritual Instinct"
Have A Nice Life - "Sea Of Worry"
Kim Gordon - "No Home Record"

Os 10 Melhores Concertos Do Ano (mais os 5 como bónus):
01. Dead Can Dance @ Aula Magna 
02. Pixies @ Campo Pequeno
03. Peter Hook and The Light @ Aula Magna
04. Grace Jones @ NOS Alive
05. Godspeed You Black Emperor @ Lisboa Ao Vivo
06. Mão Morta @ Lisboa Ao Vivo 
07. The Psychedelic Furs @ Lisboa Ao Vivo
08. The Waterboys @ Campo Pequeno
09. The Cure @ NOS Alive
10. The Smashing Pumpkins @ NOS Alive
11. Echo and The Bunnymen @ Lisboa Ao Vivo
12. Weyes Blood @ B.Leza Clube
13. Tool @ Altice Arena
14. Massive Attack @ Campo Pequeno
15. Gogol Bordello @ EDP Vilar De Mouros

A Revelação Do Ano:
Orville Peck / Fountaines D.C

A Canção Do Ano:
Angel Olsen - "Lark" / Swans - "The Hanging Man"

O Regresso Do Ano:
Tool (apesar do novo álbum não me encher as medidas e nem atingir o mesmo calibre dos discos anteriores, fiquei surpreendido pelo regresso e deram um concerto muito bom)

A Desilusão Do Ano:
Vampire Weekend - "Father Of The Bride" (que desperdício de tempo. Na altura gostei tanto deles nos tempos do primeiro disco homónimo e "Modern Vampires Of The City")
Beck - "Hyperspace" (rais-parta ao novo disco dele.... O que é que eu posso dizer alguma coisa, faltou a maior inspiração e talento, tal como o "Colors". A seguir ao emocional "Morning Phase", os 2010s não foram nada agradáveis para ele)
Cigarettes After Sex - "Cry" (bocejo do ano, embaraçoso do ano, nunca consegui ouvir até ao fim, desde que fiquei muito aborrecido com estes fulanos, sempre a mesma canção, a mesma fórmula, over and over again, as letras são do pior, a maior parte delas, até o meu coração ficou partido. Será mesmo necessário de acrescentar mais qualquer coisa?... Dasse.)

O Teledisco Do Ano:
Weyes Blood - "Movies"

2020?
À espera do novo álbum dos Dinosaur Jr., Death Grips, Tame Impala e The Jesus and Mary Chain.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Alcest no RCA Club, Lisboa (07-12-2019)

No dia 7 de Dezembro de 2019, fui ao RCA Club, em Lisboa, ver os franceses Alcest.
Nunca tinha ido ao Under The Doom Festival nos anos anteriores, mas quando reparei o cartaz dos nomes que vêm cá nesta nova edição (nos dias 6,7 e 8 de Dezembro, nos primeiros dois dias no RCA Club e no último dia, no Lisboa Ao Vivo), entre eles estava os Alcest, que irão estar no dia 7 de Dezembro. E então, optei por comprar só por um dia. E fiquei admirado e surpreendido com essa notícia.
Os Alcest são uma banda que é por vezes muito difícil de categorizar o estilo de música que eles tocam. As músicas deles são transcendentais e não são nada barulhentas, criando um sentido de beleza e da melancolia evocando uma atmosfera cada vez etérea e ao mesmo tempo sombria, uma mistura de black metal atmosférico com os elementos do shoegaze, pós-rock e dream pop. Como se os Ulver ou Burzum cruzasse com os Cocteau Twins, My Bloody Valentine ou até mesmo os Slowdive ou Sigur Rós.
A sonoridade black metal não é propriamente conhecida por vozes limpas, mas sim por gravações ruidosas, muito próximas do lo-fi, blast beats, guitarras arranhadas, tremolo pickings, vozes guinchadas e escuridões nas capas. Provavelmente um dos sub-géneros do metal mais complexos nesta cena. Lembro-me quando ouço o disco de estreia dos noruegueses Ulver, em meados dos 1990s, no inicio de carreira deles antes de virar para às tendências electrónicas e experimentais, eles conseguiram incorporar elementos do black metal com a conjugação de harmonia de vozes etéreas e por vezes, nem sempre, guinchadas, passando pelas secções acústicas inspiradas na folk escandinava, dando a atmosfera transcendental e gélida, bem como o dramatismo às canções. Aquelas vozes limpas ao que os Ulver cantam soam tão melódica e profunda fazendo-me imaginar de espreitar a paisagem florestal invernosa ao pôr do sol. Mas voltando ao assunto mais importante.
Os dois primeiros álbuns dos Alcest, "Souvenirs D'un Autre Monde" (2007) e "Écailles De Lune" (2010), foram a minha introdução para a banda que descobri via Internet sobre os melhores álbuns de shoegaze, estes foram os dois dos meus favoritos no catálogo deles. O relacionamento entre o black metal e do shoegaze pode ser incompreendido alguns dos ouvintes mas acabou por se tornar um género algo totalmente novo e inovador. O líder da banda e multi-instrumentista, Stéphane "Neige" Paut, tem a própria personalidade, com aquelas guitarras acima dos 11 recheadas de reverbs, ritmos lentos, um pouco de blast beats, vozes sonhadoras e, de vez em quando, grunhidas, acompanhando algumas nuances da neofolk e do pós-rock para transmitir o sentido de atmosfera do outro lado do mundo, e fez parte de alguns projectos como Amesoeurs (era ele e mais os membros dos Les Discrets, por onde o baterista Winterhalter convidou o Neige para fazer parte dos Alcest, numa altura em que os Amesoeurs estava a terminar). O que é certo em que eles não sabem fazer maus discos, continuam a fazer música com qualidade, embora que o "Shelter" (2014), um disco muito ambiental e menos metálico, não ser o ponto fulcral da carreira deles, tem alguns momentos bonitos que valeram a pena escutar. Já com o "Kodama" (2016), o outro dos meus favoritos, e o mais recente, "Spiritual Instinct", editado este ano, voltaram a incorporar as tendências do shoegaze e do pós-metal como tinha acontecido nos primeiros trabalhos e o resultado final surpreenderam-me, não vou dizer que tudo é óptimo mas sim muito peculiar e singular. E então decidi ver os Alcest no RCA Club.
O concerto arrancou com uma soundcheck do tema instrumental "Onyx", como introdução, apenas com o uso de camadas de distorção de guitarras. Os Alcest subiram ao palco e ouvimos então os primeiros acordes com o tema "Kodama". Dirigi-me ao fundo da plateia cercado por uns inúmeros fãs dos Alcest e dos Paradise Lost. Ainda assim, as guitarras, os ruídos e as vozes cintilantes do Niege estão bem presenciados neste concerto de pós-metal com espirito. Uma boa maneira de começar o espectáculo. Um momento desejável da noite. Neige, Winterhalter e companhia estiveram bem dispostos para o grande público no RCA Club. Na interacção com o público foi muito comunicativo. E ainda assim, prosseguimos com "Sapphire" e "Protection", dois temas do "Spiritual Instinct". E com esses efeitos transmitiram um clima da festa algo característico, apresentando para as audiências rendidas ao seu dispor. Já com a "Oiseaux de Proie", num regresso a "Kodama", um belo exemplo da conjugação das passagens mais calmas e outras mais pesadas, e essa característica resultou muito bem em palco, nos meus ouvidos. O momento perfeito para mim foi a interpretação da "Autre Temps", no álbum "Les Voyages De L'Âme". Nesta música acolhemos às secções de guitarras delicadas, bem como as melodias cativantes. E esses efeitos fizeram-me arrepiar. Os seguintes temas "Percées de Lumière", no "Écailles De Lune", e "Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles", num regresso a "Les Voyages De L'Âme", foram também belos momentos durante a actuação. E finalmente, muitas pessoas esperavam que tocassem algumas cenas do "Souvenirs D'un Autre Monde", a festa encerrou em plena emoção com a calma e bonita "Délivrance", tema que fecha o "Shelter".
E pronto foi um extraordinário concerto mas curto que deram para o público cheio emocionado no RCA Club. Foi precisamente uma hora de música emocionante, mas não foi dos melhores concertos dos Alcest que eu assisti. Para a próxima, toquem algumas malhas do "Souvenirs D'un Autre Monde".


Alcest








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/alcest/2019/rca-club-lisbon-portugal-539a6ba9.html

Onyx
Kodama
Sapphire
Protection
Oiseaux de Proie
Autre Temps
Percées de Lumière
Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles
Délivrance

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Ornatos Violeta no Campo Pequeno, Lisboa (06-12-2019)

"A cidade está deserta. E alguém escreveu o teu nome em toda a parte"

No dia 6 de Dezembro de 2019, fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os portuenses Ornatos Violeta.
Pela primeira vez, só vi metade da actuação deles no NOS Alive 2019 e foi muito bom, eu gostei. E a propósito da comemoração dos 20 anos do célebre segundo e último álbum "O Monstro Precisa de Amigos" de 1999, sucessor a energética "Cão!" de 1997, decidi ver os Ornatos outra vez, no Campo Pequeno.
Se o "Cão!" apresenta uma banda mais adulta, demonstrando uma mistura de punk, rock e funk com piscar de olho ao som dos Red Hot Chili Peppers ou dos Faith No More, então o "O Monstro Precisa De Amigos", o meu álbum favorito deles, revela a maturidade e a versatilidade do grupo, demonstrando o intimismo às canções, afastando a sonoridade funk rock do disco de estreia, encontrando o lado mais orgânico e abstracto do grupo com uma produção cuidada e a voz inconfundível e a escrita do carismático Manel Cruz encaixam-se de uma forma singular. Bem como os convidados especiais como os Corvos, que fazem a secção de cordas, o crooner Vitor Espadinha e Gordon Gano, o líder dos americanos Violent Femmes, que interpretam as canções "Ouvi Dizer" e "Capitão Romance". O resultado desses dois foi algo muito coesivo e único de um dos nomes mais respeitados da música nacional na década dos 1990s no que toca a evolução artística e a originalidade.
Lembro-me quando os Ornatos anunciaram a digressão da reunião da banda em 2012, nos Coliseus do Porto e de Lisboa, e não tive oportunidade de os ver.
Antes de eu entrar no Campo Pequeno, estava muita gente na fila de espera em várias secções, quer nas plateias quer nas bancadas.
Passaram alguns minutos e ouvimos os acordes do "Como Afundar", tema inédito, dirigi-me na plateia da frente em pé. Não sabia que o concerto fosse em 360º. No palco estava o líder Manel Cruz (voz e guitarra), Peixe (guitarra), Elísio Donas (teclas), Nuno Prata (baixo) e Kinörm (bateria).
Depois do "Como Afundar", passamos para os temas que fazem parte do "O Monstro Precisa de Amigos" na integra, como as belas "Tanque" ou "Para Nunca Mais Mentir" temperadas de acordes de guitarras do Manel Cruz e do Peixe.
Mas no momento perfeito em que tocaram a mais conhecida, ou seja, a balada à base do piano "Ouvi Dizer", o público, como eu, mantiveram a alegria e a felicidade, cantando em uníssono. E esse arrepio transcendeu-nos às minhas expectativas. E nesse momento em que o Manel Cruz obteve um sublime desempenho ao fazer as partes das falas (ou spoken words) do Vitor Espadinha, no fim da música.  Provavelmente, um dos aspectos positivos na actuação. Durante o concerto, Manel Cruz, Peixe e companhia conseguiram intercalar entre os temas mais rock como "O.M.E.M." e "Chaga" e os temas mais introspectivos como a bonita e charmosa "Coisas" e "Deixa Morrer". E com esses efeitos ajudaram a surpreender a vários espectadores rendidos. Houve também outros momentos em que tivemos as canções inéditas tais como "Como Afundar", "Há-de Encarnar" ou "Devagar", que foram rejeitadas durante as gravações do "O Monstro...". Já antes do concerto acabar, tivemos também outras pérolas como o dueto infalível "Capitão Romance" entre o Manel Cruz e o baixista Nuno Prata, que obteve um excelente desempenho ao fazer de Gordon Gano (que na versão do álbum mal conseguiu pronunciar as letras em português, o que acho hilariante), e "Dia Mau", tema mais orelhudo do "O Monstro..." que nunca consegui resistir.
Depois disso, voltaram para um extenso encore com os temas "A Dama Do Sinal", no álbum "Cão!", "Fim Da Canção", num regresso a "O Monstro Precisa De Amigos" ou "Débil Mental", num regresso a "Cão!". Houve um momento em que interpretaram a canção "Punk Moda Funk", no álbum "Cão!", eu achava piada ao primeiro verso desta música, fartei-me de rir desde a minha infância quando o Manel Cruz disse "quero mijar, agora quero mijar". Outro aspecto positivo da noite. Mais tarde, a festa encerrou com a canção acústica, gira mas curta "Raquel". Logo de seguida, os Ornatos despediram-se de audiência com o soundcheck do hino da RTP, "Derby Day", da autoria do compositor Robert Farnon, transformando a comunhão com o público mais honesto. No álbum "Cão!" também tem a esse sample quando acaba a canção "Raquel".
Posto isto, desses dois concertos que eu vi, este foi um dos concertos que valeu a pena ver em termos de alinhamento. Gostei bastante da actuação e estiveram bem dispostos. O Manel Cruz sentiu-se cada vez mais energético ao representar o palco. Grande animal. Na interacção com o público foi muito fixe. Esperemos que não vão demorar mais de 7 anos para mais concertos. 


Ornatos Violeta

 
 
 

 
 

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Como Afundar
Tanque
Pára de Olhar Para Mim
Para Nunca Mais Mentir
Ouvi Dizer
Nuvem
Notícias do Fundo
Há-de Encarnar
O.M.E.M.
Chaga
Coisas
Deixa Morrer
Devagar
Capitão Romance
Pára-me Agora
Dia Mau

Encore:
Tempo de Nascer
A Dama do Sinal
Fim da Canção

Encore 2:
Débil Mental
Punk Moda Funk

Encore 3:
Chuva (não estava no setlist escrito)
Dias da Fé
Raquel
(Derby Day) (Robert Farson song) (Hino da RTP)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

The Waterboys no Campo Pequeno, Lisboa (27-11-2019)

"I wish I was a fisherman"

No dia 27 de Novembro de 2019 fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os The Waterboys.
A banda liderada por escocês Mike Scott associou a uma exploração de variedade de estilos com os seus trabalhos essenciais e intemporais desenvolvidos nos anos 1980s (apenas nessa época em que tiveram um sucesso comercial) como "This Is The Sea" e "Fisherman's Blues". Não só pela alegria e rejubilante das músicas mas também tem muita poesia, literária e espiritualidade por parte das letras. O chamado termo "The Big Music", refere-se a aliança celta do surgimento de bandas pós-punk de inicio até meados desta década que se tornaram numa sonoridade antémica e emotiva desde os Simple Minds, U2 e por aí em diante. Os Waterboys revisitaram numa fusão entre o pós-punk, rock de estádio, produção sonora do género "wall of sound" e claro música folk/celta (ou se quiser chamar música tradicional irlandesa e escocesa) ao longo dos anos desde a formação. Apesar de não explorar os restantes trabalhos que vem seguir ao "Room To Roam", de 1990, eles continuam a fazer música com convicção. Quanto a mim, eles são quase semelhantes aos U2 mas só que não atingiram muita popularidade. Naquele momento que ouço as músicas deles, posso então imaginar de dar uma espetadela a paisagem rural esverdeada em terras altas da Escócia ou beber um scotch, dependendo do meu estado de espirito.
Lembro-me quando vieram cá pela última vez no Vilar de Mouros 2016 e não tive oportunidade de os ver devido aos meus compromissos. Como a minha expectativa elevada, decidi ver os The Waterboys no Campo Pequeno, a propósito da digressão do último álbum "Where The Action Is", editado este ano, do qual não cheguei a tempo de ouvir.
No palco estava o líder Mike Scott (voz, guitarra e piano), os quatro músicos irlandeses Steve Wickham (violino e guitarra), Aongus Ralston (baixo), Zeenie Summers e Jess Kav (segundas vozes), mais o músico vindo de Memphis, EUA, chamado Brother Paul Brown (teclas) e o inglês Ralph Salmins (bateria).
Em relação concerto foi totalmente majestoso. Mike Scott, com o seu vestido de chapéu de cowboy, óculos, blue jeans, camisola preta e blusão de ganga, uma espécie de cruzamento entre Van Morrison, Bob Dylan e Bruce Springsteen, esteve muito bem comunicativo ao representar o palco para o público cheio no Campo Pequeno rendido ao seu dispor. O resto da banda ajudou também.
O espectáculo começou com o "When Ye Go Away", uma canção rock cheia de alma com aqueles enormes toques de música celta. Um momento emocionante da noite. Após o solo incrível e cristalino de violino de Steve Wickham, o público, como eu, ficou completamente eufórico ao som de "Fisherman's Blues". Outro momento perfeito que nos façam arrepiar por completo. E a nível de coerência transmite às nossas ambições. Desde os belos solos de Wickham até à voz e guitarra fulgurante do Mike Scott. As influências da música celta estiveram bem presentes durante a actuação. Mas já com a frenética "Medicine Bow", os Waterboys continuam a manter a energia e o poder às canções, intercalando os lados mais rock e outros mais celta. Esses elementos evoluíram de uma forma exemplar. De seguida, pouco tempo depois, a nova música "Where The Action Is" não foi assim tão mau como pensava mas por acaso não desgostei, nada comparada com as obras primas da banda como "This Is The Sea". Por falar nisso, a canção desse álbum mencionado, "Old England", encontra-se o lado mais intimista da banda, com o Scott no piano, representando o sombrio e negro retrato sobre a pobreza da Inglaterra na época da Thatcher (fraternidade, vícios de droga, violência policial, e assim por diante). O teclista Brother Paul Brown, fã dos Kiss, tirando o casaco, demonstra os improvisos estrondosos no tema "Nashville, Tennessee" despertando as mentes das audiências super admiradas. Mas no momento infalível, para mim, em que tocaram a belíssima "This Is The Sea", com um arranjo diferente do que a versão original encontrada no álbum "This Is The Sea", fiquei surpreendido pelas performances do Mike Scott e companhia durante o espectáculo. A determinada altura, ficamos extasiados aos solos de Keytar explosivos e super fabulosos de Brother Paul Brown no bluesy heavy rock "Rosalind (You Married The Wrong Guy)", ele consegue solar e "shreddar" de uma maneira concisa no que diz respeito ao virtuosismo. Provavelmente, um dos aspectos positivos da festa que não conseguimos apontar falhas. No entanto, tivemos o direito aos solos de bateria de Ralph Salmins, como homenagem ao baterista Ginger Baker (da banda ligada ao movimento rock psicadélico dos anos 1960s, Cream) que morreu este ano, que tem como titulo "Blues For Baker". A seguir, tivemos o tema prolongado "We Will Not Be Lovers", outra pérola que podemos então encaixar os soberbos solos de violinos de Steve Wickham, bem como as guitarras fluidas de Mike Scott e as teclas do mago Paul Brown. Esses efeitos tiveram muito bem conseguidos que deram uma calorosa recepção ao público. Mais tarde, antes do fim do concerto, o Scott e o Wickham estavam sozinhos a interpretar a pérola "The Pan Within", outro momento perfeito que me deu arrepios. Depois disso, os restantes membros subiram ao palco e interpretaram a indelével "The Whole Of The Moon", com uma secção arrepiante ao piano por parte do Scott, bem como os solos funkalhados do baixo de Aongus Ralston no meio. Esses elementos mantiveram a alegria para uma multidão no Campo Pequeno.
No encore, regressaram ao palco com a outra pérola "A Girl Called Johnny" (uma espécie de tributo a cantora, escritora e poeta Patti Smith), com uns toques magníficos do piano do Mike Scott, outra vez. Depois do Scott tirar o blusão de ganga, mostrando uma camisola preta que contem uma frase "On The Road Again" (referenciando ao tema do cantor e escritor de canções ligado ao movimento country, Willie Nelson), e vestir o casaco longo de uma forma extravagante, a festa encerrou em grande espalhada por todo o público à versão de "Purple Rain", do saudoso Prince, como homenagem, que nos deixou há aproximadamente 3 anos (2016, o pior ano das nossas vidas), cantando em plenos pulmões. Provavelmente um dos inesquecíveis e melhores momentos da noite, senão um dos melhores. A verdadeira cereja no topo do bolo do Campo Pequeno.
E portanto, eles deram um concerto magistral, singular, divinal e esplendoroso. Foi uma experiência avassaladora que mantiveram a interacção com o público totalmente irrepreensível com carinho e honesto. O público, como eu, ficou adorado ao ver a actuação dos The Waterboys. Isso é que foi uma grande festa cheia de diversão e de alegria.


The Waterboys












Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/the-waterboys/2019/campo-pequeno-lisbon-portugal-339a2c21.html

When Ye Go Away
The Four Ages Of Man (William Butler Yeats cover)
Fisherman's Blues
Medicine Bow
Ladbroke Grove Symphony
Where The Action Is
Old England
Still A Freak
Nashville, Tennessee
This Is The Sea
Rosalind (You Married The Wrong Guy)
Blues For Baker
We Will Not Be Lovers
If The Answer Is Yeah
Morning Came Too Soon
The Pan Within
The Whole Of The Moon

Encore:
A Girl Called Johnny
Purple Rain (Prince cover)

domingo, 24 de novembro de 2019

The Legendary Tigerman e Maria de Medeiros no São Luiz Teatro Municipal, Lisboa (23-11-2019)

No dia 23 de Novembro de 2019, fui ao Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa, ver o The Legendary Tiger Man.
Vi-o pela primeira vez no Optimus Alive 2013, em Algés, no mesmo dia onde tocaram os Depeche Mode, e foi impressionante. O multi-facetado cantor e escritor de canções Paulo Furtado, ou seja o The Legendary Tigerman, demonstra a capacidade de tocar vários instrumentos para além da guitarra, ele tem todos os talentos possíveis como one-man band. Para além de ser fundador dos Wraygunn e dos Tédio Boys, ele criou álbuns sensacionais como "Fuck Christmas, I Got The Blues", "Femina" e o meu favorito "Misfit", editado no ano passado. As músicas dele são mais virados para o rock de garagem mais intensivo com pitadas de blues e do rockabilly. Ele tem estilo e carisma formidável, dos quais me façam arrepiar. 
Mais tarde, ao reparar os nomes que vão estar na comemoração dos 10 anos do Misty Fest, o The Legendary Tigerman e Maria de Medeiros (para além de ser actriz que entrou nos filmes como "Pulp Fiction" de Quentin Tarantino, ela também canta) foi um dos momentos que mais esperava, porque eu gosto de ambos e então decidi os ver.
O encontro de Maria de Medeiros e Paulo Furtado tem-se rodado nos últimos 10 anos desde o "Femina", álbum feito com participações femininas, entre elas estava a Maria de Medeiros, que cantou a "These Boots Are Made For Walking", escrita pelo Lee Hazlewood e interpretada pela Nancy Sinatra.
No palco estava o Paulo Furtado (na voz e guitarra), Maria de Medeiros (na voz), Paulo Segadães (na bateria), João Cabrita (no saxofone) e Filipe Rocha (no baixo).
Em relação ao concerto gostei de ver, e estiveram muito bem dispostos às actuações. A sua interacção com o público foi muito competente e tivemos o direito às versões de "Rumble", original do guitarrista ligado ao movimento rockabilly Link Wray, os temas "Tango Till They Sore" e "Jockey Full Of Bourbon" do Tom Waits, "24 Mila Baci" do Adriano Celentano ou a "Rock Around The Bunker" do Serge Gainsbourg. Esses, juntamente com a belíssima interpretação da "Shadow Girl" tema original do Legendary Tigerman e Maria de Medeiros foram as mais memoráveis durante a noite. Mas o momento mais alto para mim foi a maravilhosa versão da "These Boots Are Made For Walking", bem como o poema escrito pelo próprio The Legendary Tigerman, "Amor Quântico", nos encores. Esses efeitos mantiveram a rendição para o grande público mais charmoso com convicção.  
E portanto, deram um espectáculo singular, gostei também da forma como eles representam no palco com carinho e delicadeza. E foi uma experiência emocionante e única que não há grande coisa a acrescentar. 


The Legendary Tigerman e Maria De Medeiros

  






Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: ????????????????????????????

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

X-Wife no MusicBox, Lisboa (14-11-2019)

No dia 14 de Novembro de 2019, fui ao Musicbox, em Lisboa, a ver os portuenses X-Wife. A banda composta por um trio, João Vieira na voz e guitarra, Fernando Sousa no baixo e Rui Maia nos teclados e nas drum machines.
Os X-Wife é uma das bandas que acompanho até agora. O "Feeding The Machine" foi um dos primeiros álbuns que ouvi e descobri deles e fiquei impressionado. Os dois álbuns seguintes "Side Effects" e o "Are You Ready For The Blackout?" também valeram a pena ouvir.
Os X-Wife faz-me remeter daquela sonoridade em que mistura o indie rock incorporando tendências  do pós-punk e da electrónica, de meados até finais de 2000s, à semelhança dos The Rapture. 
E a propósito da comemoração dos 15 anos do disco de estreia "Feeding The Machine", decidi ver os X-Wife a interpretar a esse álbum na integra na MusicBox.
No entanto, revivendo o passado, o espectáculo começou com a apresentação dos temas do "Feeding The Machine". E ouvimos os três primeiros temas muito bem conseguidos como "New Old City", "Eno" e a energética "Fall", dos quais se despertaram o público animado no Musicbox. Houve aí um fulano que anda com o sapo cocas na mão a perguntar ao João Vieira (o líder da banda) "Onde é que arranjaste tanto estilo?", e respondeu-lhe "Foi lá na feira", ou qualquer coisa assim.
De seguida, as canções "Action Plan" e "The Sound Of You" continuaram a dimensionar os sons do rock agradáveis para o público quase cheio. Mas o efeito super positivo que me transcende foi a cativante "Rockin' Rio", que como o título indica, nunca actuaram no Rock In Rio, na altura do lançamento ainda não existia o festival em Portugal. Pouco tempo depois, já antes do concerto acabar, a "Taking Control" foi também um dos outros momentos belos que me chamou a atenção.
No encore, voltaram ao palco com a fabulosa interpretação do "Transmission", dos Joy Division, e a outra energética "Turn It Up", do segundo álbum "Side Effects".
E portanto, este foi um concerto que mais esperei e foi muito singular para o público carinhoso. A interacção com o público foi muito comunicativo. Na maneira como o João Vieira, Fernando Sousa e Rui Maia representam no palco foi intimista.  

X-Wife



  





Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist:

New Old City
Eno
Fall
Second Best
Action Plan
Clinic
The Sound Of You
Rockin' Rio
Outside
We Are
Taking Control

Encore:
Transmission (Joy Division cover)
Turn It Up

domingo, 10 de novembro de 2019

Godspeed You! Black Emperor no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (09-11-2019)

"A noite dos drones apocalípticos"

No dia 9 de Novembro de 2019, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os Godspeed You! Black Emperor.
O movimento pós-rock tenha-se desenvolvido produtivamente ao longo do tempo, significando aos vários ouvintes de usar a imaginação, sentir as suas experiências e transmitir as suas sensações. A sonoridade pós-rock parece algo cinemática em toda a natureza. O uso de instrumentos como a guitarra e a bateria, em termos de composição é mais focada na obtenção de texturas, dinâmicas e ambientes na sua forma mais clássica.
Os progenitores Talk Talk, que no inicio de carreira começaram com a new wave nos 1980s, e que anos mais tarde, nunca mais fizeram espectáculos ao vivo e decidiram mudar de caminhos diferentes, durante as gravações nos dois últimos álbuns, lançados entre finais de 1980s e inicio de 1990s antes do fim da banda. As músicas nasceram de horas de improviso, coladas mais tarde usando os equipamentos digitais e o produto final é uma mistura de rock, música clássica, música ambiente, jazz e avant-garde com canções compridas, e que lançou uma semente do sub-género do rock alternativo que se veio a designar de "pós-rock". Esses dois últimos álbuns ("Spirit Of Eden" e "Laughing Stock") não atingiram nenhum sucesso quando saem e que mais tarde acabaram de ser tornar um enorme sucesso de culto e que se inspirou inúmeras bandas como Mogwai, Radiohead (na fase Kid A/Amnesiac), Sigur Rós, Tortoise, Explosions In The Sky, Bark Psychosis (com o facto do crítico de música Simon Reynolds ter usado a esse termo em relação ao álbum "Hex" de 1994) e claro os Godspeed You Black Emperor. A outra banda mais importante desse movimento, os Slint, no seu último álbum "Spiderland", lançado em inicio de 1990s (na mesma altura do lançamento do "Laughing Stock" dos Talk Talk), é mais focado no breve silêncio, nas mudanças de volume, do tempo e das estruturas, incorporando influências do pós-hardcore. Mas voltando ao assunto mais importante.
Os Godspeed, a par dos Sigur Rós e da fase final dos Talk Talk, foram uma das primeiras bandas que me introduziram a esse movimento que desconhecia. O que é que gosto mais das músicas dos Godspeed são a estrutura de canções compridas como se tratassem de pequenas sinfonias, os field recordings, os samples, a construção dos drones de guitarras, o crescendo prolongado das dinâmicas, a mentalidade do noise rock, do punk e da música ambiental, os violinos orquestrais, as camadas de texturas e, claro, os reverbs para dar uma atmosfera concisa. Para além de ser fã dos Godspeed You Black Emperor, também gosto do projecto musical do mentor dos Godspeed, Efrim Manuel Menuck, os A Silver Mt. Zion (ou posso então chamar Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra).
Com as obras intemporais e sensacionais "F# A# ♾" (1997), "Slow Riot For Zero Kanada EP" (1999), "Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven" (2000), "Yanqui U.X.O" (2002) e o regressado "Allelujah! Don't Bend! Ascend!" (2012), os Godspeed You Black Emperor exploram ideias diferentes do que os restantes contemporâneos mencionados. Os samples de vozes, os crescendos de instrumentos em termos de intensidade, field recordings, texturas, noisedrones, experimentações sónicas, segmentos de peças musicais (que nasciam de uma banda sonora para o fim do mundo) e as mensagens muito politizadas, apocalípticas e de criticas sociais nos títulos das canções e nas capas com uma estética "punk". Estes elementos estão muito bem presentes no seu equipamento. Há algum critico de música que eu vi em qualquer site no review do álbum "Lift Your Skinny Fists..." que comparou os Godspeed com uma banda chamada os Swans, na fase "Soundtracks For The Blind", e não refiro aquela fase dos estilos pós-punk, noise, rock gótico, neofolk e industrial deles. Quanto a mim, eu não acho que os Godspeed soassem a Swans, eles incorporam as influências dos Swans para uma sonoridade algo completamente ambiciosa sem copiar ao que Swans tinham nascido no álbum "Soundtracks For The Blind", cada um tem um estilo diferente do que é habitual.
Lembro-me quando os Godspeed vieram cá pela última vez no NOS Primavera Sound 2014 e não tive oportunidade de os ver, porque tocaram à mesma hora da actuação dos Pixies em diferentes palcos. O álbum mais recente editado em 2017, "Luciferian Towers", embora não sendo tão majestoso como os primeiros quatro álbuns e um EP, os Godspeed conseguiram compor peças musicais com clareza em termos de texturas e de dinâmicas e pareceu-me muito melhor do que o anterior "Asunder, Sweet and Other Distress", do qual achei um bocadinho decepcionante devido à secção dos drones inacabada no meio, e por isso é que eles irão apresentar alguns dos temas do "Luciferian Towers" ao vivo. E então, com uma expectativa muito elevada, decidi ver os Godspeed no Lisboa Ao Vivo.
Mas antes disso, estive a ver uma banda chamada Light Conductor, que fizeram a primeira parte do concerto dos Godspeed.
Eu estava perto da porta de entrada quando os Light Conductor começaram às 20h30, pois houve uma enorme fila de espera. Quando entrei, já estava quase a acabar, só apanhei nos últimos 20 minutos. E foi pela primeira vez que os vi e gostei. As músicas deles servem para a construção dos drones prolongados nas teclas e nas guitarras em cada peça musical e só nos últimos 5 minutos de canção ouvem-se os ritmos electrónicos e da harmonia das vozes sussurradas com guitarras distorcidas por parte dos três membros da banda.
Quanto aos Godspeed You Black Emperor, que começaram às 21h30, nem consigo descrever os adjectivos de como me senti emocionado em que eles deram um concerto totalmente magistral no Lisboa Ao Vivo.
No palco estava o Efrim Manuel Menuck (na guitarra e nos tape recordings), Mauro Pezzente (no baixo), Mike Moya (na guitarra), Thierry Amar (no violoncelo e guitarra baixo), David Bryant (na guitarra e nos tape recordings), Sophie Trudeau (no violino), Aidan Girt (na bateria e percussão) e Timothy Herzog (na bateria e percussão). Acompanhando os dois realizadores (Karl Lemieux e Philippe Leonard) que fazem as projecções de imagens.
No entanto, acolhemos as secções emocionantes dos drones do violino e do violoncelo de Trudeau e Amar na primeira parte dramática e discreta do inédito "Hope" que me fazem antecipar do que vêm a seguir. Prosseguindo lentamente às guitarras cintilantes e tons fantasmagóricos que emocionam aos vários espectadores do que estão a sentir. E na segunda parte desta peça, a intensidade da dinâmica acrescenta progressivamente às camadas de texturas de instrumentos ao mais barulhento possível. Os Godspeed conseguem interligar as partes mais calmas com as partes mais barulhentas às dinâmicas por cada peça de uma forma mais detalhada. É como se tivéssemos a reparar os símbolos do tipo Yin e Yang, ou do tipo "luz e sombra". De seguida, "Bosses Hang", no "Luciferian Towers", interliga-se as três partes de um determinado suite, como os vários compositores de música erudita fazem. Vimos a cenografia de fundo das imagens de arranha céus em construção ao longo da música. Na primeira parte ouvimos o trio de guitarras fulgurantes do Menuck, do Bryant e do Moya, bem como na dinâmica secção rítmica fantástica do duo Girt e Herzog tocadas em compasso ternário. Na segunda parte, a intensidade muda-se para a parte mais calma, o uso de acordes bonitos de guitarras onde a melodia é dominante pela delicada secção de violinos da Trudeau. Na terceira a dinâmica e a tensão acrescenta encaixando os rasgos de guitarra, ritmos frenéticos e de violinos melódicos e no fim volta de onde foi iniciado, uma espécie de reprise da primeira parte. Um momento memorável do alinhamento. Outro tema inédito "Glacier", atinge-se o mesmo efeito do que a canção anterior mas de uma forma arrojada. Mas no verdadeiro momento imprescindível para mim foi a outra peça musical de três partes "Anthem For No State", no mesmo álbum mencionado, com uma introdução ambiental temperada de guitarras atmosféricas, cordas misteriosas e na última secção prolongada foi a melhor parte desta secção. Com aquelas belas cordas de violino, secções de guitarras, de bateria e de percussão extraordinárias tanto nas camadas de texturas como nas experimentações acompanhando as imagens de fundo de motins, manifestações e bombeiros voluntários a combater incêndios. De todos esses elementos fazem dos Godspeed um papel crucial da festa da noite. Outro inédito, "Cliff" é tão maravilhoso que me faz lembrar da sonoridade das obras intemporais ao que os Godspeed fizeram, acompanhando as imagens de fundo de corrupções políticas.
No fim do concerto, tocaram na integra o EP "Slow Riot For Zero Kanada", os dois mais prolongados "Moya" e "BBF3" (referência ao Blaise Bailey Finnegan III, que cantou com os Iron Maiden, num período incompreendido deles em finais de 1990s). A minha felicidade atingiu-me ao nível acima do normal durante a interpretação do tema "Moya", desde a secção fantasmagórica e belíssima de violinos e violoncelos a cargo de Trudeau e Amar na introdução. Passando pelos acordes cintilantes de guitarras e de xilofone de metal delicado. Prosseguindo às minhas partes mais favoritas de todo sempre com as melodias super memoráveis, ouvindo-se os belos riffs de guitarra e de violino, os crescendos, às camadas de texturas e a intensidade da música para dar a esse efeito dramático. Na última "BBF3" é uma espécie de continuação com o tema anterior mas ainda mais dramático, ouvindo o sample da voz do próprio Blaze Bailey a falar e demonstrando a cenografia de fundo das imagens de cocktails molotov, brutalidade policial e cidade em chamas. Na última secção, prossegue à mentalidade do punk e do noise rock com um fim muito, mas muito prolongado de rasgos de guitarras e de drones recheados de loops como se fosse símbolo do infinito. Isso faz sentido, a meu ver, porque é que chamaram o álbum de estreia "F# A# (infinity)". Ambos perfeitos momentos da noite com um valor atingido a 10 pontos espalhados por uma multidão cheia e completamente calorosa no Lisboa Ao Vivo.
No entanto, estiveram muito bem dispostos durante a apresentação no palco sem nenhuma falha e mantiveram a grande comunhão com o público.
São 7 músicas prolongadas no total de quase 2 horas, o resultado final alcançou o objectivo. E pronto, foi um concerto totalmente esplendoroso dos maiores génios do pós-rock. E a recepção do público, como eu, foi igualmente caloroso no Lisboa Ao Vivo. Espero que voltem daqui a um ano ou dois.
Godspeed You! Fellow People...


Light Conductor




Godspeed You! Black Emperor










Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/godspeed-you-black-emperor/2019/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-639d56cb.html

Hope Drone
Bosses Hang
Glacier
Anthem For No State
Cliff
Moya
BBF3