sábado, 14 de dezembro de 2019

BALANÇO 2019

2019 foi um grande ano para à música, no que diz respeito à realização dos álbuns de artistas ou bandas, tal como em 2018 e 2012, desde inicio dos 2000s. Quando digo grandes álbuns, refiro-me aqueles que me marcaram e que mexeram comigo devido às escutas repetidas no meu iTunes ou Spotify. Os filmes, não tanto devido aos remakes desnecessários. As séries da TV tem-se aguentado e até crescido nestes dias, algumas delas a roçar a genialidade. 
Este ano os lendários da música como Mark Hollis (Talk Talk), Keith Flint (The Prodigy), Dick Dale, Scott Walker, José Mario Branco, Ric Ocasek (The Cars), Daniel Johnston, Roky Erickson (The 13th Floor Elevators), Ginger Baker (Cream) e David Berman (Silver Jews/Purple Mountains) calaram-se as bocas mas nada esquecidas. Pelo menos não está a transformar-se numa espécie de 2016 (cujo ano em que a música morreu, mas até, em 2016, também tem álbuns sensacionais). 
Normalmente, a escolha dos melhores discos e melhores concertos do ano tem sido uma tarefa muito complicada, porque as pessoas, às vezes, podem não memorizar quais são os que gostaram mais. 
Portanto aqui vai a lista dos melhores do ano.

Os 20 Melhores Discos Do Ano:
01. Nick Cave and The Bad Seeds - "Ghosteen"
02. Lingua Ignota - "Caligula" 
03. Swans - "Leaving Meaning"
04. Weyes Blood - "Titanic Rising"
05. Angel Olsen - "All Mirrors"
06. The Comet Is Coming - "Trust In The Lifeforce Of Deep Mystery"
07. Mão Morta - "No Fim Era O Frio"
08. Lana Del Rey - "Norman Fucking Rockwell"
09. Purple Mountains - "Purple Mountains"
10. DIIV - "Deceiver"
11. Drab Majesty - "Modern Mirror"
12. Fountaines D.C. - "Dogrel"
13. Black Midi - "Schlagenheim"
14. Chromatics - "Closer To Grey"
15. Sharon Van Etten - "Remind Me Tomorrow"
16. Big Thief - "U.F.O.F." + "Two Hands"
17. Orville Peck - "Pony"
18. Leonard Cohen - "Thanks For The Dance"
19. Thom Yorke - "Anima"
20. Chelsea Wolfe - "Birth Of Violence"

5 (ou 6) Menções Honrosas:
The Twilight Sad - "It Won't Be Like This All The Time"
Xiu Xiu - "Girl With A Basket Of Fruit"
Boy Harsher - "Careful"
Alcest - "Spiritual Instinct"
Have A Nice Life - "Sea Of Worry"
Kim Gordon - "No Home Record"

Os 10 Melhores Concertos Do Ano (mais os 5 como bónus):
01. Dead Can Dance @ Aula Magna 
02. Pixies @ Campo Pequeno
03. Peter Hook and The Light @ Aula Magna
04. Grace Jones @ NOS Alive
05. Godspeed You Black Emperor @ Lisboa Ao Vivo
06. Mão Morta @ Lisboa Ao Vivo 
07. The Psychedelic Furs @ Lisboa Ao Vivo
08. The Waterboys @ Campo Pequeno
09. The Cure @ NOS Alive
10. The Smashing Pumpkins @ NOS Alive
11. Echo and The Bunnymen @ Lisboa Ao Vivo
12. Weyes Blood @ B.Leza Clube
13. Tool @ Altice Arena
14. Massive Attack @ Campo Pequeno
15. Gogol Bordello @ EDP Vilar De Mouros

A Revelação Do Ano:
Orville Peck / Fountaines D.C

A Canção Do Ano:
Angel Olsen - "Lark" / Swans - "The Hanging Man"

O Regresso Do Ano:
Tool (apesar do novo álbum não me encher as medidas e nem atingir o mesmo calibre dos discos anteriores, fiquei surpreendido pelo regresso e deram um concerto muito bom)

A Desilusão Do Ano:
Vampire Weekend - "Father Of The Bride" (que desperdício de tempo. Na altura gostei tanto deles nos tempos do primeiro disco homónimo e "Modern Vampires Of The City")
Beck - "Hyperspace" (rais-parta ao novo disco dele.... O que é que eu posso dizer alguma coisa, faltou a maior inspiração e talento, tal como o "Colors". A seguir ao emocional "Morning Phase", os 2010s não foram nada agradáveis para ele)
Cigarettes After Sex - "Cry" (bocejo do ano, embaraçoso do ano, nunca consegui ouvir até ao fim, desde que fiquei muito aborrecido com estes fulanos, sempre a mesma canção, a mesma fórmula, over and over again, as letras são do pior, a maior parte delas, até o meu coração ficou partido. Será mesmo necessário de acrescentar mais qualquer coisa?... Dasse.)

O Teledisco Do Ano:
Weyes Blood - "Movies"

2020?
À espera do novo álbum dos Dinosaur Jr., Death Grips, Tame Impala e The Jesus and Mary Chain.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Alcest no RCA Club, Lisboa (07-12-2019)

No dia 7 de Dezembro de 2019, fui ao RCA Club, em Lisboa, ver os franceses Alcest.
Nunca tinha ido ao Under The Doom Festival nos anos anteriores, mas quando reparei o cartaz dos nomes que vêm cá nesta nova edição (nos dias 6,7 e 8 de Dezembro, nos primeiros dois dias no RCA Club e no último dia, no Lisboa Ao Vivo), entre eles estava os Alcest, que irão estar no dia 7 de Dezembro. E então, optei por comprar só por um dia. E fiquei admirado e surpreendido com essa notícia.
Os Alcest são uma banda que é por vezes muito difícil de categorizar o estilo de música que eles tocam. As músicas deles são transcendentais e não são nada barulhentas, criando um sentido de beleza e da melancolia evocando uma atmosfera cada vez etérea e ao mesmo tempo sombria, uma mistura de black metal atmosférico com os elementos do shoegaze, pós-rock e dream pop. Como se os Ulver ou Burzum cruzasse com os Cocteau Twins, My Bloody Valentine ou até mesmo os Slowdive ou Sigur Rós.
A sonoridade black metal não é propriamente conhecida por vozes limpas, mas sim por gravações ruidosas, muito próximas do lo-fi, blast beats, guitarras arranhadas, tremolo pickings, vozes guinchadas e escuridões nas capas. Provavelmente um dos sub-géneros do metal mais complexos nesta cena. Lembro-me quando ouço o disco de estreia dos noruegueses Ulver, em meados dos 1990s, no inicio de carreira deles antes de virar para às tendências electrónicas e experimentais, eles conseguiram incorporar elementos do black metal com a conjugação de harmonia de vozes etéreas e por vezes, nem sempre, guinchadas, passando pelas secções acústicas inspiradas na folk escandinava, dando a atmosfera transcendental e gélida, bem como o dramatismo às canções. Aquelas vozes limpas ao que os Ulver cantam soam tão melódica e profunda fazendo-me imaginar de espreitar a paisagem florestal invernosa ao pôr do sol. Mas voltando ao assunto mais importante.
Os dois primeiros álbuns dos Alcest, "Souvenirs D'un Autre Monde" (2007) e "Écailles De Lune" (2010), foram a minha introdução para a banda que descobri via Internet sobre os melhores álbuns de shoegaze, estes foram os dois dos meus favoritos no catálogo deles. O relacionamento entre o black metal e do shoegaze pode ser incompreendido alguns dos ouvintes mas acabou por se tornar um género algo totalmente novo e inovador. O líder da banda e multi-instrumentista, Stéphane "Neige" Paut, tem a própria personalidade, com aquelas guitarras acima dos 11 recheadas de reverbs, ritmos lentos, um pouco de blast beats, vozes sonhadoras e, de vez em quando, grunhidas, acompanhando algumas nuances da neofolk e do pós-rock para transmitir o sentido de atmosfera do outro lado do mundo, e fez parte de alguns projectos como Amesoeurs (era ele e mais os membros dos Les Discrets, por onde o baterista Winterhalter convidou o Neige para fazer parte dos Alcest, numa altura em que os Amesoeurs estava a terminar). O que é certo em que eles não sabem fazer maus discos, continuam a fazer música com qualidade, embora que o "Shelter" (2014), um disco muito ambiental e menos metálico, não ser o ponto fulcral da carreira deles, tem alguns momentos bonitos que valeram a pena escutar. Já com o "Kodama" (2016), o outro dos meus favoritos, e o mais recente, "Spiritual Instinct", editado este ano, voltaram a incorporar as tendências do shoegaze e do pós-metal como tinha acontecido nos primeiros trabalhos e o resultado final surpreenderam-me, não vou dizer que tudo é óptimo mas sim muito peculiar e singular. E então decidi ver os Alcest no RCA Club.
O concerto arrancou com uma soundcheck do tema instrumental "Onyx", como introdução, apenas com o uso de camadas de distorção de guitarras. Os Alcest subiram ao palco e ouvimos então os primeiros acordes com o tema "Kodama". Dirigi-me ao fundo da plateia cercado por uns inúmeros fãs dos Alcest e dos Paradise Lost. Ainda assim, as guitarras, os ruídos e as vozes cintilantes do Niege estão bem presenciados neste concerto de pós-metal com espirito. Uma boa maneira de começar o espectáculo. Um momento desejável da noite. Neige, Winterhalter e companhia estiveram bem dispostos para o grande público no RCA Club. Na interacção com o público foi muito comunicativo. E ainda assim, prosseguimos com "Sapphire" e "Protection", dois temas do "Spiritual Instinct". E com esses efeitos transmitiram um clima da festa algo característico, apresentando para as audiências rendidas ao seu dispor. Já com a "Oiseaux de Proie", num regresso a "Kodama", um belo exemplo da conjugação das passagens mais calmas e outras mais pesadas, e essa característica resultou muito bem em palco, nos meus ouvidos. O momento perfeito para mim foi a interpretação da "Autre Temps", no álbum "Les Voyages De L'Âme". Nesta música acolhemos às secções de guitarras delicadas, bem como as melodias cativantes. E esses efeitos fizeram-me arrepiar. Os seguintes temas "Percées de Lumière", no "Écailles De Lune", e "Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles", num regresso a "Les Voyages De L'Âme", foram também belos momentos durante a actuação. E finalmente, muitas pessoas esperavam que tocassem algumas cenas do "Souvenirs D'un Autre Monde", a festa encerrou em plena emoção com a calma e bonita "Délivrance", tema que fecha o "Shelter".
E pronto foi um extraordinário concerto mas curto que deram para o público cheio emocionado no RCA Club. Foi precisamente uma hora de música emocionante, mas não foi dos melhores concertos dos Alcest que eu assisti. Para a próxima, toquem algumas malhas do "Souvenirs D'un Autre Monde".


Alcest








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/alcest/2019/rca-club-lisbon-portugal-539a6ba9.html

Onyx
Kodama
Sapphire
Protection
Oiseaux de Proie
Autre Temps
Percées de Lumière
Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles
Délivrance

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Ornatos Violeta no Campo Pequeno, Lisboa (06-12-2019)

"A cidade está deserta. E alguém escreveu o teu nome em toda a parte"

No dia 6 de Dezembro de 2019, fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os portuenses Ornatos Violeta.
Pela primeira vez, só vi metade da actuação deles no NOS Alive 2019 e foi muito bom, eu gostei. E a propósito da comemoração dos 20 anos do célebre segundo e último álbum "O Monstro Precisa de Amigos" de 1999, sucessor a energética "Cão!" de 1997, decidi ver os Ornatos outra vez, no Campo Pequeno.
Se o "Cão!" apresenta uma banda mais adulta, demonstrando uma mistura de punk, rock e funk com piscar de olho ao som dos Red Hot Chili Peppers ou dos Faith No More, então o "O Monstro Precisa De Amigos", o meu álbum favorito deles, revela a maturidade e a versatilidade do grupo, demonstrando o intimismo às canções, afastando a sonoridade funk rock do disco de estreia, encontrando o lado mais orgânico e abstracto do grupo com uma produção cuidada e a voz inconfundível e a escrita do carismático Manel Cruz encaixam-se de uma forma singular. Bem como os convidados especiais como os Corvos, que fazem a secção de cordas, o crooner Vitor Espadinha e Gordon Gano, o líder dos americanos Violent Femmes, que interpretam as canções "Ouvi Dizer" e "Capitão Romance". O resultado desses dois foi algo muito coesivo e único de um dos nomes mais respeitados da música nacional na década dos 1990s no que toca a evolução artística e a originalidade.
Lembro-me quando os Ornatos anunciaram a digressão da reunião da banda em 2012, nos Coliseus do Porto e de Lisboa, e não tive oportunidade de os ver.
Antes de eu entrar no Campo Pequeno, estava muita gente na fila de espera em várias secções, quer nas plateias quer nas bancadas.
Passaram alguns minutos e ouvimos os acordes do "Como Afundar", tema inédito, dirigi-me na plateia da frente em pé. Não sabia que o concerto fosse em 360º. No palco estava o líder Manel Cruz (voz e guitarra), Peixe (guitarra), Elísio Donas (teclas), Nuno Prata (baixo) e Kinörm (bateria).
Depois do "Como Afundar", passamos para os temas que fazem parte do "O Monstro Precisa de Amigos" na integra, como as belas "Tanque" ou "Para Nunca Mais Mentir" temperadas de acordes de guitarras do Manel Cruz e do Peixe.
Mas no momento perfeito em que tocaram a mais conhecida, ou seja, a balada à base do piano "Ouvi Dizer", o público, como eu, mantiveram a alegria e a felicidade, cantando em uníssono. E esse arrepio transcendeu-nos às minhas expectativas. E nesse momento em que o Manel Cruz obteve um sublime desempenho ao fazer as partes das falas (ou spoken words) do Vitor Espadinha, no fim da música.  Provavelmente, um dos aspectos positivos na actuação. Durante o concerto, Manel Cruz, Peixe e companhia conseguiram intercalar entre os temas mais rock como "O.M.E.M." e "Chaga" e os temas mais introspectivos como a bonita e charmosa "Coisas" e "Deixa Morrer". E com esses efeitos ajudaram a surpreender a vários espectadores rendidos. Houve também outros momentos em que tivemos as canções inéditas tais como "Como Afundar", "Há-de Encarnar" ou "Devagar", que foram rejeitadas durante as gravações do "O Monstro...". Já antes do concerto acabar, tivemos também outras pérolas como o dueto infalível "Capitão Romance" entre o Manel Cruz e o baixista Nuno Prata, que obteve um excelente desempenho ao fazer de Gordon Gano (que na versão do álbum mal conseguiu pronunciar as letras em português, o que acho hilariante), e "Dia Mau", tema mais orelhudo do "O Monstro..." que nunca consegui resistir.
Depois disso, voltaram para um extenso encore com os temas "A Dama Do Sinal", no álbum "Cão!", "Fim Da Canção", num regresso a "O Monstro Precisa De Amigos" ou "Débil Mental", num regresso a "Cão!". Houve um momento em que interpretaram a canção "Punk Moda Funk", no álbum "Cão!", eu achava piada ao primeiro verso desta música, fartei-me de rir desde a minha infância quando o Manel Cruz disse "quero mijar, agora quero mijar". Outro aspecto positivo da noite. Mais tarde, a festa encerrou com a canção acústica, gira mas curta "Raquel". Logo de seguida, os Ornatos despediram-se de audiência com o soundcheck do hino da RTP, "Derby Day", da autoria do compositor Robert Farnon, transformando a comunhão com o público mais honesto. No álbum "Cão!" também tem a esse sample quando acaba a canção "Raquel".
Posto isto, desses dois concertos que eu vi, este foi um dos concertos que valeu a pena ver em termos de alinhamento. Gostei bastante da actuação e estiveram bem dispostos. O Manel Cruz sentiu-se cada vez mais energético ao representar o palco. Grande animal. Na interacção com o público foi muito fixe. Esperemos que não vão demorar mais de 7 anos para mais concertos. 


Ornatos Violeta

 
 
 

 
 

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Como Afundar
Tanque
Pára de Olhar Para Mim
Para Nunca Mais Mentir
Ouvi Dizer
Nuvem
Notícias do Fundo
Há-de Encarnar
O.M.E.M.
Chaga
Coisas
Deixa Morrer
Devagar
Capitão Romance
Pára-me Agora
Dia Mau

Encore:
Tempo de Nascer
A Dama do Sinal
Fim da Canção

Encore 2:
Débil Mental
Punk Moda Funk

Encore 3:
Chuva (não estava no setlist escrito)
Dias da Fé
Raquel
(Derby Day) (Robert Farson song) (Hino da RTP)