quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O meu novo álbum "The Party's Over", disponível na página da Bandcamp

Pessoal,

O meu novo álbum já está disponível na página da Bandcamp e chama-se "The Party's Over".

Musicalmente, é bastante eclético, demonstrando o meu fascínio, desde adolescente, da cena rock independente/alternativa dos 80s e dos 90s, pop electrónica, trip hop, pós-punk, new wave, dub, rock industrial e art rock.

Em termos temáticos relatam-se as minhas experiências pessoais depois de ver as notícias nos tempos do COVID-19, da quarentena, da morte do George Floyd, do Brexit e do 45º candidato presidencial dos EUA (o Trump), bem como o medo, o alienismo, o apocalipse, a pandemia global, a morte das celebridades bem amadas (nomeadamente os músicos) dos anos 2016 e 2020, a luta contra a indústria musical (que se tornou cada vez mais suja, vulgar, odiosa e pornográfica em várias situações) e os pesadelos da minha adolescência (não vou dizer quais são, é segredo).

A escolha do titulo do novo álbum "The Party's Over", porque este ano tem sido catastrófico devido à pandemia, às corrupções e os erros ou enganos que muitas das pessoas votaram no Trump ou no Bolsonaro (desde nos últimos 4 anos), este ano irá acontecer a mesma coisa, se os indivíduos votar outra vez a esses dois fascistas hipócritas, acaba-se já a festa. Apesar de incluir uma única canção da festa no meu álbum, de vez em quando costumo ironizar as coisas. As minhas letras de canção tornam-se meio poéticas, meio nonsense (bem, muitas delas são tipicamente nonsense) e meio autobiográficas, tudo ao mesmo tempo. Não me interesso muito por política, mas estou mais interessado pela minha experiência sobre os acontecimentos que estão a passar no nosso planeta. A capa do álbum (feita da minha autoria), com uma cor de fundo preto e uma fonte de texto escrita a cinzento escuro, é bastante adequado porque as canções demonstram o lado mais dark do Black Cat. Este maldito ano não houve e nem vai haver concertos, nem festas e nem celebrações. Tudo vazio e apagado.

As séries da Netflix, "DARK" e "Stranger Things", bem como os álbuns "Strange Times" dos The Chameleons, "Rattus Norvergicus" dos The Stranglers e "Forever Breathes The Lonely Word" dos Felt, foram as minhas inspirações principais ao nível da escrita de canções no "The Party's Over", das quais tenho acompanhado bastante.

E ao ver o filme "Contágio" de Steven Soderbergh (realizador de "Ocean's Eleven"), outra fonte de inspiração no meu novo trabalho, cheguei a pensar. "Isso foi feito no inicio da década dos 2010s antes da pandemia? Bem, isto está acontecer agora". E então decidi escolher quais as músicas que irão fazer parte do "The Party's Over".

As gravações e as produções do álbum foram feitas em casa do meu pai, em Lisboa. De início de 2019 até finais de Setembro de 2020. Um trabalho demasiado complexo.

Equipamentos:

  • Komplete Kontrol S49 - Teclado USB
  • Audient iD14 - Controlo de volume
  • SubZero SZC-T700 - Microfone de condensador
  • Yamaha Model HS7 - Colunas de áudio

Software:

  • Pro Tools 12

Instrumentos:

  • Guitarra acústica - Yamaha C40

Computador:

  • Apple / Mac Mini

Para além de The Chameleons, Felt, The Stranglers e, principalmente, os Kraftwerk, decidi fazer uma listagem de outros artistas ou bandas que me influenciaram ao longo dos anos:
Joy Division/New Order, The Cure, Siouxsie and The Banshees, David Bowie, Nine Inch Nails, The Prodigy, Depeche Mode, Nirvana, My Bloody Valentine, The Smashing Pumpkins, The Smiths, Sonic Youth, Pixies, The Fall, The Strokes, Interpol, Cocteau Twins, Angelo Badalamenti, Chromatics, Nick Cave and The Bad Seeds, The Velvet Underground / Lou Reed, The Doors, The Stooges, Sex Pistols, Buzzcocks, Bauhaus, Lee Scratch Perry, Echo and The Bunnymen, Orchestral Manoeuvres In The Dark, Ramones, The Clash, U2, REM, Patti Smith, Belle and Sebastian, XTC, The Replacements, Aphex Twin, Radiohead, DJ Shadow, Massive Attack, Portishead, Run The Jewels, Public Enemy, Gang Of Four, IDLES, The Sisters Of Mercy, The Mission, Type O Negative, Jean Michel Jarre e Brian Eno.


Se quiserem ouvir as músicas do meu novo álbum, podem ir ao site: https://blackcat3.bandcamp.com/album/the-partys-over

Se quiserem sacar, consultem na mesma. É pago, cada faixa do álbum custa 1 euro e o álbum todo custa 7 euros (ou mais).

Tracklist:
Welcome To The Show (Contagion Wave)
My Phone Is Off The Hook
Untitled Pop Track
Topiary Garden
Winona Ryder (Crush On You)
No More Room In Hell (Interlude)
Vanishing Point / Days Until The Apocalypse
Sweet Strawberry
It Was Just A Nightmare
Bang Bang Party Anthem
Falling Down The Rabbit Hole
Annus Horribilis (The Apathy Continues)
Paralisado (Por Quarentena)
Lemmings
America Is Not What It Used To Be
Boiled Head
I Had A Dream About This Place
It's All Over Now Baby Blue (Bob Dylan cover)


quarta-feira, 18 de março de 2020

The Mission + Gene Loves Jezebel no Lisboa Ao Vivo (dias 11 e 12 de Março de 2020)

"As duas noites dos góticos vivos"

Nos dias 11 e 12 de Março de 2020 fui ao Lisboa Ao Vivo ver os The Mission.
Os The Mission são uma das bandas que gosto dentro do movimento rock gótico nos 1980s, mesmo que não seja aficionado, surgidas no meio-legado dos The Sisters Of Mercy, banda liderada por um mentor louco mas talentoso Andrew Eldritch, nos tempos do disco de estreia "First and Last and Always". Quanto a mim, prefiro os Sisters do que os Mission. Os três primeiros álbuns de estúdio ("God's Own Medicine", "Children" e "Carved In Sand") ou quatro se tivéssemos a contar ("The First Chapter", sei que é um disco de colectânea de gravações de temas antes do lançamento do "God's Own...") foram muito bons em termos musicais e de escrita, a partir daí nunca mais igualaram e não tiveram inspiração a que me chamasse a atenção. Gostei do último que eles editaram recentemente, "Another Fall From Grace", cujo álbum faz-me remeter aqueles momentos muito agradáveis das fases iniciais dos The Sisters Of Mercy (no primeiro álbum deles) e dos The Mission. E com uma expectativa moderada, decidi os ver no Lisboa Ao Vivo, marcando o regresso do Wayne Hussey e dos seus membros originais Simon Hinkler (guitarra) e Craig Adams (baixo), bem como o novo baterista Mike Kelly aos palcos nacionais. O principal objectivo da actuação era a representação das canções dos álbuns em duas noites: uma noite em álbuns impares ("God's Own Medicine, "Carved In Sand", "Masque", "Another Fall From Grace", etc.) e a outra noite em álbuns pares ("The First Chapter", "Children", "Grains In Sand", etc.)
Antes da entrada e devido ao COVID-19, decidiram cancelar os concertos no Hard Club do Porto e nos restantes locais europeus. Felizmente, nunca apanhei a tosse seca ou constipação, nem a febre quanto menos durante o concerto. As duas noites no LAV, e que são as últimas na digressão europeia, mantiveram-se como tinha prometido. 
Mas antes disso estive a ver os Gene Loves Jezebel, que fizeram a primeira parte dos concertos dos The Mission durante a digressão europeia deste ano.
Os Gene Loves Jezebel foi uma banda que me despertou a atenção. O álbum "Heavenly Bodies", foi a minha introdução para a banda, durante a minha adolescência, graças ao sucesso da canção "Break The Chain" ou "Josephina", que teve ou tiveram inúmeros airplays apenas em Portugal, duvido eu, não tenho bem a certeza se foi aqui ou se foi num país qualquer. Para além desse, investiguei os restantes catálogos deles. E ao reparar, gostei muito dos primeiros três álbuns que editaram ("Promise", "Immigrant" e "Discover"), esses três oferecem uma fusão de rock gótico com uma decadência pós-punk fantasmagórico com originalidade e alma.
Sem o guitarrista James Stevenson (que tocava com os Generation X, de Billy Idol, e que também colaborou outros nomes como The Cult, Kim Wilde, Tricky ou Scott Walker), na primeira noite, o líder Jay Aston e companhia ajudaram a manter o público honesto. Mesmo que estivéssemos a ignorar o irmão gémeo Michael Aston, que cantava no inicio de carreira, nos 1980s, e após vários álbuns, decidiu abandonar a banda, deixando o resto da banda, incluindo o Jay, e alcançando o sucesso comercial sem ele. Após a realização dos 2 álbuns dos verdadeiros GLJ, Michael formou outra banda utilizando o mesmo nome "Gene Loves Jezebel". Confuso? Jay e Michael andaram todos a batatada, depois pediram desculpas e um pouco tempo depois, pancadaria outra vez e por aí fora. Uma verdadeira guerra contra os irmãos em relação ao domínio do nome. E por fim da batalha, Jay e companhia nunca mais comunicou com Michael. Mas adiante então para não armar em confusão, os verdadeiros GLJ (Jay Aston, James Stevenson, Peter Rizzo e Chris Bell) estiveram cá em Portugal, por uma quantidade de vezes em vários locais, sobretudo no Hard Rock Café, em anos anteriores, e trouxeram o novo álbum "Dance Underwater", de 2017, do qual ouvi e devo confessar que nunca me despertou a atenção. Fiquei decepcionado com tudo que fizeram até aí e não cheguei ao fim, ía na quarta ou na quinta música. 
No inicio do espectáculo da primeira noite, com aquelas linhas de teclas melódicas ao fundo, pensei que estivessem a tocar a "Break The Chain", mas não, começaram com a "Charmed Life", que é uma espécie de "Break The Chain" mas menos memorável, enquanto a balada "How Do You Say Goodbye" é basicamente "Any Anxious Colour", mas cansativo e middle of the road. Para além de representar as canções do último álbum deles, tocaram também as cenas do passado como o sinistro e minimal "Stephen", passando também pela delicadeza "Any Anxious Colour" ou nos momentos gloriosos como "Desire" e "The Motion Of Love". Ao dançar, saltitar e andar de pés para trás ("moonwalking"), ainda me lembrei do Michael Jackson, que Jay Aston protagoniza durante a performance. Sinto tanto a falta do James Stevenson, o guitarrista, que era muito importante para o som característico da banda e do seu sucesso, é o que aconteceria se, em vez de Keith Richards e Mick Jagger, tivéssemos apenas o Jagger.
Na segunda noite, mas desta vez com o James Stevenson (até que enfim, caramba!), foi uma grande surpresa para todos nós. Para além do alinhamento da noite anterior (alguns do último álbum), ainda estivemos a oportunidade de ouvir temas bem conseguidos como "Sweet Sweet Rain", "Jealous", "The Cow", outra vez os dois como "Desire" e "The Motion Of Love". E finalmente, ficamos rendidos ao som do "Break The Chain", que é a última música que eles tocaram, num momento fulgurante para o público bastante admirado.
O espectáculo, na primeira noite, não acho assim tão memorável como esperava, precisava ter equilíbrio e ter poder ao representar as canções mas safaram-se em termos de performance.
E na segunda noite está muito melhor do que a anterior, tanto no poder das canções como na postura em palco. Estiveram muito bem dispostos, isso valeu a pena.
Quanto aos The Mission, nas duas noites, foram espectaculares e foram um retorno ao formulário após o concerto a solo do Hussey (do qual fiquei muito aborrecido, achei muito longo e muito apagado que quase não conseguimos sair daqui, como se tivéssemos numa prisão preventiva ou num manicómio, 3 horas de actuação é um exagero de todo tamanho). Eles não sabem fazer maus concertos, o que acho admirável. Quando eu estava a frente da plateia, no interior da LAV, atrás de mim estavam uma legião de fãs a usarem camisolas dos The Mission a assistirem o espectáculo.
Na primeira noite, agarramos às guitarras espectaculares e aos ritmos frenéticos ao som dos três primeiros temas, "Wasteland", "Bridges Burning" e "Severina", do álbum de estreia "God's Own Medicine". E com esse efeito dominado, os The Mission apresentaram um concerto de rock extenso com convicção para uma multidão rendida. E foram uma boa maneira de começar o espectáculo. Um dos momentos perfeitos da noite. Passando outras como "Can't See The Ocean For The Rain", do último "Another Fall From Grace", que representa um lado místico da banda com aquelas guitarras acústicas meio folkalhadas ao fazer lembrar dos Led Zeppelin. Já com a "Within The Deepest Darkness (Fearful)", desfrutamos os dedilhados de um duo de guitarras a cargo do Hussey e do Hinkler que colam os ouvintes mas com qualidade. Um pouco mais tarde, num momento mais pop com a "Butterfly On A Wheel", no "Carved In Sand", a actuação dos The Mission iria evoluir-se numa forma muito requintada. Depois disso, tocaram aquela que não gosto muito que é a "Like A Child Again", no despercebido "Masque" (cujo álbum marca o fim do legado dos The Mission), em versão ao vivo safaram-se muito bem. No tema "Met-Amor-Phosis", num regresso ao último, encontra-se no lado mais bonito e imaginário da banda com aquelas guitarras muito reminescentes às cenas onde o Hussey colaborou com os The Sisters Of Mercy, no álbum "First and Last and Always". O alinhamento original terminou com a pérola fantástica "Deliverance", num regresso a "Carved In Sand", com o público maior a cantar em uníssono, finalizando com uma versão despida da "Never Let Me Down Again", dos Depeche Mode, com o Wayne a cantar e tocar piano, sozinho em palco. E foi outro momento perfeito para mim. No encore, os The Mission voltaram ao palco com as outras pérolas "Blood Brother", no "God's Own Medicine", e "Belief", no "Carved In Sand", bem como a versão formidável da "Marian", dos The Sisters Of Mercy. Na primeira noite terminou em grande com a "Tower Of Strength", ouvindo os samples da voz da Lisa Gerrard dos Dead Can Dance, no tema "The Host Of Seraphim", acompanhando as teclas e ritmos electrónicos reproduzidos na soundcheck, com o Hussey sozinho na guitarra e voz na parte inicial e depois com o resto da banda, espalhados por todo o público acolhendo a várias secções (as guitarras, o baixo e a bateria) cada vez dinâmicas.
Na segunda noite, os The Mission regressaram aos palcos, no último espectáculo deles, e começaram  com a "Beyond The Pale", uma no "Children", e naquele momento em que nós focamos às linhas de guitarras muito bonitas, a festa continuou a manter o público rendido. Passando algumas cenas do "The First Chapter", temas como "Serpent's Kiss" e a versão eléctrica da "Garden Of Delight", diferente do que o arranjo orquestral no "God's Own Medicine", têm também sido outros aspectos positivos. Com o uso de caixas de ritmos na "Naked and Savage" e na "Wake (RSV)", daí encontra-se o lado mais sinistro e dark da banda. Música dark para pessoas alegres. O outro perfeito momento para mim foi a interpretação fantástica da "Kingdom Come", outra no "Children", começando com as teclas do Hinkler, e logo depois, acolhemos às secções brilhantes de guitarras, do baixo e da bateria. E como resultado, ajudaram a manter o suor para o público. A certa altura nestes setlists intermináveis, pensei que andaram a tocar a "With or Without You" dos U2, como se o concerto dos The Mission se tratasse, mas adiante. Já perto do fim tivemos a outra pérola como a interpretação da "Like A Hurricane", do Neil Young, e tocaram outra vez a "Like A Child Again", no alinhamento anterior. No outro encore extensivo, o Wayne Hussey fez uma interpretação magnifica em formato acústico a solo da "Stay With Me", no "God's Own Medicine". Depois disso, tivemos a bela "Bird Of Passage", bem como a versão prolongada da "Wasteland" com o excerto da "Marian" dos The Sisters Of Mercy, que tocaram no concerto anterior, rendido ao seu dispor. Não gostei muito da interpretação da "The Crystal Ocean", porque é uma das canções que não me aquece, nem me arrefece, na parte do refrão precisa de melhorar. Na segunda e última noite terminou com a "Tower Of Strength", que tocaram também esta no concerto anterior, ouvindo os samples da voz da Lisa Gerrard dos Dead Can Dance, no tema "The Host Of Seraphim", acompanhando as teclas e ritmos electrónicos reproduzidos na soundcheck, com o Hussey, como adepto do Liverpool F.C., sozinho na guitarra e voz na parte inicial e depois com o resto da banda, espalhados por todo o público acolhendo a várias secções (as guitarras, o baixo e a bateria) cada vez dinâmicas, finalizando a secção prolongada do noisefeedback de guitarras do Hussey e Hinkler, enquanto cantaram o hino nacional do Liverpool F.C., "You'll Never Walk Alone", para uma multidão de fãs na plateia, soando ainda melhor do que a noite anterior.
Posto isto, estiveram muito bem dispostos ao representar as canções dos álbuns em duas noites sem repetir a mesma formula. Uma espécie de "Greatest Hits I & II". Eles mantiveram a alegria e o coração com o público no LAV. Gostei de os ver e não tenho mais uma coisa a acrescentar.

Gene Loves Jezebel








The Mission










Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Wasteland
Bridges Burning
Severina
Grotesque
Shades Of Green
Can't See The Ocean For The Rain
That Tears Shall Drown The Wind
Within The Deepest Darkness (Fearful)
Butterfly On A Wheel
Like A Child Again
Met-Amor-Phosis
Deliverance
Never Let Me Down Again (Depeche Mode cover)

Encore:
Blood Brother
Belief
Marian (The Sisters Of Mercy cover)

Encore 2:
Tower Of Strength



Beyond The Pale
Serpent's Kiss
Garden Of Delight
Naked And Savage
Afterglow
Wake (RSV)
In Denial
Kingdom Come
Swoon
Like A Hurricane (Neil Young cover)
Like A Child Again
Swan Song

Encore:
Stay With Me (Wayne solo acoustic)
Bird Of Passage
Wasteland (with a bit of Marian)
The Crystal Ocean

Encore 2:
Tower Of Strength

domingo, 1 de março de 2020

Tindersticks na Aula Magna, Lisboa (18 de Fevereiro de 2020)

No dia 18 de Fevereiro fui à Aula Magna, Lisboa, a ver os Tindersticks.
Com o seu disco de estreia em 1993, na era onde a industria musical foi dominada pela sonoridade do grunge e da britpop, os Tindersticks resolveram optar por canções com arranjos elegantes, escrita  e poesia coerente e vozes murmuradas do líder idiossincrático Stuart Staples acompanhadas por violinos meio desafinados, glockenspiel e piano ou órgão eléctrico. Para além da melancolia e da beleza também trazia um dramatismo às canções de uma forma peculiar, ecoando os nomes como Leonard Cohen, The Velvet Underground ou Nick Cave and The Bad Seeds. Devo confessar que os três primeiros álbuns, "Tindersticks I", "Tindersticks II" e "Curtains", editados entre 1993 a 1997, foram as minhas introduções para o catalogo da banda e que foram sensacionais de uma ponta a outra, os restantes que vêm a seguir são agradáveis, mais ou menos o mesmo, no meu ponto de vista.
Vi-os pela primeira vez no Coliseu dos Recreios de Lisboa em 2013 e foi espantoso, mágico e arrepiante. Quanto as performances foram fantásticas, o Stuart Staples esteve muito bem disposto ao representar as canções, umas mais recentes (a propósito da digressão daquele álbum muito bom, que é o "The Something Rain" de 2012) e outras antigas, para o grande público admirado. E então, como uma expectativa moderada, decidi os ver outra vez na Aula Magna.
O que é que temos aqui? Em termos de alinhamento é baseado na apresentação das canções do mais recente álbum "No Treasure But Hope", do qual soa a todo o catalogo da banda alguma vez realizado.  
Durante a actuação, Staples afirmou que os Tindersticks chegaram a Portugal pela primeira vez a dar concertos em 1994, nessa altura eu era jovem demais a assistir concertos por isso nunca lá fui. 
Naquele momento em que tocaram as malhas do passado como o magnífico "Another Night In" e o glorioso "Jism", os murmúrios do Stuart Staples estiveram no topo, mesmo sem os violinos, as guitarras soam tão intensas que me transcende às sensibilidades. Já com a "Show Me Everything", demonstra um lado de desespero por parte da banda e provavelmente, resultou. O mesmo acontece em "Her", que para mim, foi um momento estrondoso da noite com uma secção de guitarra acústica formidável. O uso de drum machine minimal na "Medicine", gostei na forma como o Staples interpreta nesta canção, ouvindo os toques do glockenspiel e do orgão eléctrico lindos que até me arrepiam no meu coração. No entanto, tivemos o direito ao representar as canções do mais recente álbum mencionado logo no inicio, como a emocional e bonito tema "The Amputees". O outro tema destacado "See My Girls", agarramos às guitarras cintilantes bem como os toques do piano memoráveis com o Staples num registo grave à boa mistura. O concerto encerrou com a languida "Take Care In Your Dreams", uma espécie de música da despedida para o público que estiveram presentes a assistir num determinado sonho.
O concerto foi emocional, apesar de não achar tão irrepreensível como no Coliseu de 2013, mas não foi assim tão contagiante como esperava em termos do alinhamento, devido à falta de violinos e convidados especiais às vozes femininas mas safaram-se em palco. Ou seja, não tocaram a "Traveling Light", nem a "If You're Looking For A Way Out" (que é uma cover dos Odyssey), nem a "My Sister", nem a "Can We Start Again?" e nem a "City Sickness". Faltava muita coisa boa a tocar. Staples e companhia estiveram bem dispostos às performances para o público rendido na Aula Magna e não tenho mais acrescentar sobre a minha experiência. Até o proximo.  


Tindersticks








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

A Street Walker's Carol
Running Wild
The Amputees
Second Chance Man
How He Entered
Medicine
Black Night (Bob Lind cover)
Trees Fall
Pinky In The Daylight
Her
Carousel
Willow
See My Girls
The Old Man's Galt
Tough Love
Another Night In
Show Me Everything
Jism
For The Beauty

Encore:
A Night So Still
Take Care In Your Dreams

domingo, 16 de fevereiro de 2020

RIDE no Lisboa Ao Vivo (10 de Fevereiro de 2020)

"Made In OX4"

No dia 10 de Fevereiro de 2020, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os Ride.
Num papel determinante na definição do som do sub-género do indie rock, o shoegaze foi, e continua a ser, um dos estilos que me acompanho bastante e devo confessar que durante a minha adolescência comecei a explorar músicas novas através da internet, tal como a maioria das pessoas. O álbum "Loveless" dos My Bloody Valentine foi o meu ponto de partida para o estilo musical que desconhecia por completo e em relação a este álbum está tudo cheio de canções fundamentais de uma ponta a outra. Depois disso, explorei o catalogo dos restantes artistas, para além dos MBV, pertencentes ao mesmo estilo, de nomes como os Slowdive, Ride, Lush, Catherine Wheel, Swervedriver, The Boo Radleys, Chapterhouse e assim por diante. Dando a origem a este género, os Spacemen 3 e os The Jesus and Mary Chain são uma das influentes e importantíssimas chavetas que revelaram um domínio do ruído com texturas pop bem definidas e delicodoces. Voltando ao assunto.   
Os Ride, são uma das minhas bandas favoritas desse movimento, a par dos My Bloody Valentine e dos Slowdive. Nisto, a etiqueta Creation Records, batendo a 4AD (de nomes como Lush ou Pale Saints), estava um pacote de nomes geniais neste género, que mencionei há bocado (MBV, Slowdive, Ride, Swervedriver, Telescopes, The Boo Radleys, The Jesus and Mary Chain, House Of Love).
Os lideres da banda Andy Bell e Mark Gardener (vocalistas e guitarristas) demonstram os seus talentos de uma forma original e única ao longo dos anos da carreira. Se os My Bloody Valentine explorassem os elementos do ruído e do feedback e se os Slowdive explorassem os elementos das melodias oníricas repletas de paisagens sonoras etéreas. Então os Ride exploram os elementos mais pop, muito próximos dos The Stone Roses ou dos The Charlatans do que os seus pares, incorporando as pitadas do psicadelismo dos 1960s. No inicio dos 1990s, na era da flanela, os dois primeiros álbuns "Nowhere" (1990) e "Going Blank Again" (1992), bem como o disco de colectânea de EPs "Smile" (1990), foram as obras bem conseguidas alguma vez feita, cruzando às fronteiras da britpop. É como se estivéssemos a imaginar as ondas do mar a fluir. Os que vêm a seguir, antes da separação, não resultou muito bem, esse não era um momento muito bonito para os Ride, com a excepção do "Carnival Of Light" (1994) que por acaso tenho um soft spot a esse álbum, um disco de transição para a onda do britpop, que estava na moda na altura, os seus Oasis(s) ou os seus Blur(s) da vida. De seguida, o Andy Bell foi para os Oasis a tocar baixo após a separação e da realização daquele álbum super horrível que é o "Tarantula", em 1996. E não cheguei a tempo de ouvir as cenas ao que o Andy Bell fez para os Hurricane #1.
18 anos mais tarde, os Ride decidiram reunir-se. Primeiro, a propósito da tournée mundial e seguindo, mais dois álbuns de estúdio, "Weather Diaries" (2017), que, a meu ver, foi agradável mas não encaixa a mesma atmosfera que fazem dos dois primeiros memoráveis, e "This Is Not A Safe Place" (2019).
Vi-os no Primavera Sound 2015 e foi espectacular. E então, depois de gostar do último álbum "This Is Not A Safe Place", decidi os ver ao vivo, outra vez.
Normalmente, as bandas vindas de Oxford, muito mais que os Radiohead, têm mais produtividade e saudável, tal como as de Liverpool, Manchester ou de Birmingham.
Mas antes disso, estive a ver o trio londrino Crushed Beaks, que fizeram a primeira parte dos concertos dos Ride na digressão desse último álbum. Pareceram-me simpáticos do que vi. As músicas deles são mais ligadas ao dream pop com alguns elementos do shoegaze e do noise pop, quase semelhante às dos Ride. Eu gostei de os ver.
Quanto aos Ride, achei tão formidável e espectacular como no Primavera 2015.
Para além do duo dinâmico Andy Bell e Mark Gardener, estava Steve Queralt (baixo) e Laurence Colbert (bateria).
No entanto, ouvimos a canção "R.I.D.E" reproduzida através da soundcheck, simbolizando à introdução da banda. Acolhemos às primeiras duas músicas que começou o espectáculo, "Jump Jet" e "Future Love", do mais recente disco, que os Ride tocaram nos palcos. As canções desse disco são mais focadas às melodias e à atmosfera intensa, tal como no "Weather Diaries". E em aqui ao vivo têm-se instalado numa actuação bem estruturada e esse efeito surpreendeu para uma audiência determinada no Lisboa Ao Vivo. No entanto, a partir do momento em que tivemos o direito às linhas de guitarras fluorescentes no clássico "Leave Them All Behind", quanto a mim despertou-me a felicidade logo no inicio, pois o efeito a ser tocado no palco resultou-se de uma forma arrepiante. A certa altura nesta setlist singular, também tivemos a "Charm Assault" ou "Repetition", que representam um lado mais psicadélico da banda. Andy/Mark e companhia conseguiram ajudaram a manter o suor a mim e ao público. Mais tarde, já com as pérolas "OX4" e "Taste" fizeram-me arrepiar e o resultado alcançou de uma forma irresistível. Outro momento positivo para mim em que o concerto acabou com a trilogia de canções perfeitas como a "Dreams Burn Down" (sobretudo na parte dos solos de bateria magníficos logo no inicio), "Polar Bear" e o glorioso "Vapour Trail", todas pertencentes ao álbum "Nowhere" (que tem aquela capa oceânica das ondas do mar, a minha capa favorita e é tão linda que vale mesmo a pena).
No encore, tivemos a bela secção acústica "In This Room" e finalmente, o icónico "Seagull", tema que abre a "Nowhere", conseguiu perfeitamente para o grande público e seguramos à intercalação de secções do baixo espectaculares, bem como o duo de guitarras distorcidas e cruas recheadas de feedback e ritmos frenéticos com a forte sensibilidade pop. Só que ficou a faltar a algumas cenas como "Twistarella", "Chelsea Girl" ou "Like A Daydream".
Posto isto, os Ride fizeram uma actuação incrível que mantiveram a comunhão com o público igualmente formidável. Estiveram muito bem dispostos por estarem cá. E portanto, foi um concerto imaculado e subtil que irá ficar para a história.



Crushed Beaks




Ride











Outro
(photo by: @rideox4official via instagram)

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/ride/2020/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-63982e57.html

R.I.D.E.
Jump Jet
Future Love
Leave Them All Behind
Charm Assault
Sennen
Fifteen Minutes
Dial Up
Repetition
Lannoy Point
End Game
All I Want
OX4
Taste
Kill Switch
Dreams Burn Down
Polar Bear
Vapour Trail

Encore:
In This Room
Seagull

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

DESENHOS FEITOS

No atelier de Expressão Plástica da APSA, comecei a desenvolver este trabalho porque costumo a assistir concertos de artistas ou bandas que me acompanho num determinado local.
Antes de começar a desenhar, tiro as fotos das actuações de artistas ou bandas. Mais tarde, coloco a foto no documento Word e converto a imagem a cores para preto e branco numa folha A4. E depois imprimo. De seguida, desenho numa folha A3 (do tipo papel cavalinho) reproduzindo a foto de tamanho A4 para A3 mas através de desenho de observação. Primeiro com um lápis de carvão de vários tipos, uns mais finos e outros mais grossos, uns com mais carvão e outros com menos carvão, uns para fazer as zonas mais claras e outras para fazer as zonas mais escuras. Segundo pinto com a tinta da china sobre papel para dar um contraste entre a luz e sombra. E finalmente a minha assinatura e o ano em que foi feito o desenho e fica concluído. Estes desenhos faço a divulgação do meu blog e na minha página do Facebook que podem visitar em:

A exposição está em exibição até ao dia 28 de Fevereiro.

Obrigado e espero que gostem.
Pedro Miguel Dias


Actuação dos Arcade Fire no Campo Pequeno (23/04/2018)

Actuação dos Cigarettes After Sex no Vodafone Mexefest 2017, Coliseu dos Recreios (25/11/2017)

 Actuação dos Echo and The Bunnymen no Lisboa Ao Vivo (10/02/2019)

Actuação do Father John Misty no Coliseu dos Recreios (20/11/2017)

 Actuação dos IDLES no Lisboa Ao Vivo (27/11/2018)

 Actuação do Johnny Marr no Super Bock em Stock 2018, no Coliseu dos Recreios (23/11/2018)

 Actuação dos LCD Soundsystem no Coliseu dos Recreios (19/06/2018)

 Actuação dos Mercury Rev no Lux Frágil (27/09/2018)

 Actuação do Nick Cave and The Bad Seeds no NOS Primavera Sound (09/06/2018)

 Actuação do Peter Hook and The Light na Aula Magna (12/04/2019)

 Actuação do Peter Murphy - 40 Years Of Bauhaus (featuring David J) no LX Factory (17/11/2018)

 Actuação dos Slowdive no Lisboa Ao Vivo (08/03/2018)

 Actuação dos Spoon no Coliseu Dos Recreios (17/11/2017)

 Actuação dos The Horrors no Lisboa Ao Vivo (10/12/2017)

 Actuação dos The Jesus and Mary Chain no Coliseu Dos Recreios (28/05/2018)

 Actuação dos The Soft Moon no RCA Club (12/10/2018)

 Actuação dos Wire no RCA Club (24/11/2018)


As imagens originais dos concertos estão no Blog. Conseguem descobrir quais são?