segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Pixies no Campo Pequeno, Lisboa (25-10-2019)

"Hey!....Been Trying To Meet You"

No dia 25 de Outubro de 2019, fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os norte-americanos Pixies.
Os Pixies são uma das minhas bandas favoritas de sempre por terem realizado as obras intemporais e sensacionais como o EP de estreia "Come On Pilgrim" (1987), bem como os quatros álbuns de estúdio "Surfer Rosa" (1988), "Doolittle" (1989), "Bossanova" (1990) e "Trompe Le Monde" (1991). Dentro desse panorama do rock alternativo, antes da explosão, em que o tal termo não existia nessa altura, os Pixies demonstram os seus talentos irrepreensíveis e característicos revelando a sua maturidade, bem como a sua diversificação às canções. A maior parte delas são curtas mas muito memoráveis. Tem muito surrealismo nas letras por parte do Charles Thompson IV (conhecido como Black Francis). A sua combinação imaculada de duelo de guitarras rugidas do Black Francis e Joey Santiago, de linhas de baixo e de secções rítmicas simplificadas por parte da Kim Deal e do David Lovering com melodias pop cativantes e orelhudas em termos de textura, as influências do punk e do surf rock, bem como a conjugação de vozes masculina e feminina (os berros e os uivos do Black Francis intercalando com a voz delicodoce da Kim Deal) e a dinâmica do género "LOUD-quiet-LOUD" (ou seja, versos calmos e refrões barulhentos), que se inspirou vários músicos de uma determinada geração, até os dias de hoje. Podemos então encaixar de nomes como Nirvana, The Smashing Pumpkins, Radiohead, PJ Harvey, Weezer ou The Strokes. Isto só para dar alguns exemplos. Os Pixies separaram-se em 1993, dedicando a vários projectos paralelos, que também acompanho. Frank Black (ou seja, Black Francis) a solo, e Kim Deal nas The Breeders/The Amps (juntamente com a sua irmã-gémea Kelley Deal). Mais tarde em 2004, os Pixies voltaram a reunir-se para dar concertos ao vivo, que foi pela primeira vez, salvo erro, em que eles vieram cá e eu era jovem demais a assistir concertos, por isso nunca lá fui, e não gravaram nenhum álbum ou EP até 2013. Subitamente a editora 4AD é muito mais do que a paisagem sonora etérea e gótica, bem como as capas enigmáticas que tenha desenvolvido na altura, nos 1980s, e que mais tarde, desde finais dessa década, procura novos horizontes dentro da música independente até então.
Lembro-me quando os Pixies estiveram cá no Coliseu dos Recreios de 2013 com a Kim Shattuck (recentemente falecida, que vem dos The Muffs e das The Pandoras) no baixo e voz. em substituição da Kim Deal (que foi despedida da banda, nesse mesmo ano, e concentrar-se mais nas The Breeders), e não tive oportunidade de os ver. E agora, desde finais desse mesmo ano, é a vez da Paz Lenchantin (que já trabalhou com os Queens Of The Stone Age, A Perfect Circle, ZWAN, entre outros), em substituição da Kim Shattuck. No more Kim(s) anymore.
Vi-os no NOS Primavera Sound 2014 e surpreendeu-me por completo do que esperava. Deram um concerto fantástico do principio ao fim. E dois anos seguintes, vi-os outra vez no NOS Alive 2016 e não foi assim tão bom devido à dificuldade na projecção vocal por parte do Black Francis. Por enquanto, não cheguei a tempo de ouvir os álbuns recentes. excepto o último "Beneath The Eyrie", lançados nos 2010s na fase pós-Kim Deal, como "Indie Cindy" ou "Head Carrier", desde que andei a ler críticas decepcionantes e mixadas em relação a esses dois mencionados. Em relação ao "Beneath The Eyrie", não me atingiu as expectativas, tem alguns temas decentes mas o resultado final deixou muito a desejar. A propósito da digressão europeia deste ano, como uma expectativa muito elevada, decidi ver os Pixies no Campo Pequeno.
Mas antes disso, estive a ver os ingleses Blood Red Shoes, que fizeram a primeira parte do concerto dos Pixies. O duo Laura Mary-Carter (na voz e guitarra) e Steven Ansell (na voz e bateria) e companhia conseguiram manter o público admirado. Eu estava no lado esquerdo da plateia da frente no Campo Pequeno. O som do revivalismo do rock de garagem destes fulanos estava bem presente neste espectáculo. Apesar de não explorar o suficiente a discografia deles, a energia e o poder das canções tornaram-se muito receptíveis. Com aquelas secções de guitarras e de bateria frenéticas intercalando com o duo das vozes por parte dos fundadores da banda (Laura e Steven). E ao sentir e ouvir as músicas deles, fazem-me lembrar dos The Kills ou dos Yeah Yeah Yeahs. Para além desses dois, no palco, estavam também a baixista Ayse Hassan, que vem das Savages, e o sampler e teclista de sessão que não consigo mencionar o nome. Laura Mary-Carter obteve um carisma suficiente às performances. A sua atitude punk estava no topo. Enquanto o baterista estava cada vez mais forte e segurou também. Já a "Mexican Dress", no álbum mais recente lançado este ano. "Get Tragic", chamou-me a atenção no que toca a intensidade. E portanto são 7 músicas no total de 30 minutos. Excelente banda de abertura.
Quanto aos Pixies, estiveram muito bem dispostos no palco e que deram um concerto totalmente irrepreensível do principio ao fim. No palco, estava o Black Francis (na voz e guitarra), Joey Santiago (na guitarra), Paz Lenchantin (na voz e baixo) e David Lovering (na bateria). Entraram no palco e ouvindo a alguém a usar uma backing track de música de fundo do tema perdido do James Blake, julgo eu. Mas adiante então.
O concerto arrancou de uma nota explosiva com a "Gouge Away" (tema que encerra o "Doolittle"), com uma introdução prolongada do baixo, da bateria e dos solos de guitarra fulgurantes por parte do Francis e do Santiago. As cargas de electricidade, a simplificação do baixo e da bateria e a voz, ora estridente ora sussurrante, de Francis estão todos no sitio certo. Por acaso, ouvi muitas das bandas dos 1990s a copiarem ao que os Pixies fizeram, tanto na dinâmica como na textura. Uma excelente maneira de começar o espectáculo, provavelmente um dos grandes temas de abertura de qualquer concerto. De seguida, prossegue com o lado mais abrasivo e energético da banda no "Something Against You" e "U-Mass". No entanto, a partir do momento infalível, expandido pelo grande público, onde tocaram a "Hey" (been trying to meet you!), fiquei alegrado desde a nota inicial da linha de baixo. Pois esse efeito da pérola instantânea alcançou a minha experiência dando o mote para a grande festa onde os Pixies protagonizaram. Clássicos após clássicos, o espectáculo continua a evoluir-se sem se esquecer os momentos mais rock e outros mais pop como "The Holiday Song" ou a mais conhecida "Here Comes Your Man". O uso de guitarra acústica do Francis estava também presente nalguns dos temas inesquecíveis como "Cactus" (com aqueles grooves ao fazer lembrar dos The Cars ou dos T.Rex) ou o lúdico "Nimrod's Son" (com uns toques meio folk meio punk), demonstrando a sua versatilidade no palco. Com a "Mr. Grieves" e "Brick Is Red", transmitiram a esse mesmo efeito de uma forma singular. Apesar do "Beneath The Eyrie", o álbum mais recente lançado no mês passado deste ano, não ser o aspecto mais forte da carreira dos Pixies, eles safaram-se ao vivo, apresentando quase todos os temas como "On Graveyard Hill", "Catfish Kate" ou "Silver Bullet" e o resultado surpreendeu-se de uma boa forma para as audiências.
"Motorway To Roswell" foi um belíssimo tema e é uma pérola rock melódica em que o Neil Young nunca escreveu. Um pouco tempo depois, com a "Caribou", no EP "Come On Pilgrim", o grupo representa o lado mais críptico e abstracto, com uma excelente combinação do arranho de guitarras e de vozes melodicas e gritadas típicas do Francis. Mas no verdadeiro momento em que interpretaram a "Monkey Gone To Heaven", no álbum "Doolittle", felicitei-me ainda mais desde os acordes de guitarras acolhendo à harmonia das vozes do Francis e da Lenchantin no refrão, bem como as falas nos versos e os gritos finais espectaculares a cargo do Francis. A sequência do tema instrumental "Cecilia Ann", original da banda ligada ao movimento surf rock The Surftones, para uma vertente punk semelhante à fase inicial deles "St. Nazaire", no álbum mais recente, foi muito irresistível às performances. Naquele momento em que tocaram o "Planet Of Sound", no álbum "Trompe Le Monde", demonstra o lado mais spacey e punkalhado da banda e ao sentir essa música é como se estivéssemos a imaginar o avião a jacto a voar a velocidade superior à da propagação do som, tendo a forma mais parecida com a de uma bala (Sonic Boom) do que os aviões de baixa velocidade. Isso encaixa-se perfeitamente. Houve também momentos mais calmo como as belíssimas "Ana" e "Havalina", duas do "Bossanova", as guitarras cintilantes do Francis e do Santiago inspiradas no surf rock evocam-se o sentido da natureza e da atmosfera. Outro momento perfeito para mim no "Vamos", onde o guitarrista Joey Santiago teve capacidade para improvisar os solos muito fixes ao longo da canção, tirando o chapéu, segurando-o e indicando o gesto com o chapéu ao improvisar o jogo de guitarra para o público rendido.
Já com a intocável "Where Is My Mind?", no álbum "Surfer Rosa", a minha jovialidade despertou-me ao nível mais alto, enchendo o estado de espirito do público totalmente espalhado por todo o lado no Campo Pequeno, cantando em plenos pulmões. E com esse efeito resultou de uma forma gloriosa. Provavelmente um dos melhores capítulos neste alinhamento. Mais tarde, a grande parte da popularidade foi graças à este tema que entrou no filme "Fight Club" (um dos meus filmes favoritos) em que muitas das pessoas (incluindo newbies e jovens adolescentes) ouviram falar e descobriram os Pixies. No excepcional "Velouria", no álbum "Bossanova", encontra-se o lado mais melodioso da banda. Pouco tempo depois, já perto do fim, com a "Bone Machine" (tema que abre o "Surfer Rosa"), a felicidade em mim permaneceu ao nível da ambição. A única coisa que ficou a faltar foi a "Break My Body", que vem a seguir a "Bone Machine". E a festa finalizou com as quatro canções totalmente perfeitas, "Wave Of Mutilation", "Debaser" (com referências à curta-metragem surrealista "Un Chien Andalou" do realizador Luis Buñuel), o frenético "Tame" e finalmente, o meu tema favorito de todos, "Gigantic", com a Paz Lenchantin a assumir à voz principal e que obteve um sublime desempenho ao fazer de Kim Deal.
São quase 40 músicas no total de cerca de 2 horas e 15 minutos de pura diversão, alegria e magia no Campo Pequeno. Desta vez, tocaram quase toda a música do "Surfer Rosa", do "Doolittle" e do "Beneath The Eyrie", bem como algumas do "Bossanova" e do "Trompe Le Monde", no que diz respeito ao alinhamento. Apesar de não haver encores, estiveram muito bem preparados como a regra principal. Black Francis conseguiu manter a energia e a projecção vocal concisa para o público cheio sem uma única falha. Paz Lenchantin alcançou ao nível do talento e do carisma irrepreensível que me faça arrepiar ainda mais. Por acaso tenho um crush a ela. Joey Santiago e David Lovering ajudaram também. Até agora, está de parabéns por trazerem cá em Portugal, mantendo a interacção com o público mais adorado e honesto, rendido ao seu dispor. As pessoas como eu, ficaram espantadas de assistir o espectáculo da noite. Simplesmente grandiosos.


Blood Red Shoes





Pixies






  



Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/pixies/2019/campo-pequeno-lisbon-portugal-6b9dd202.html

Gouge Away
Something Against You
U-Mass
Hey
Cactus
Bird Of Prey
Nimrod's Son
Blown Away
The Holiday Song
All The Saints
Here Comes Your Man
Mr. Grieves
Brick Is Red
Ready For Love
Motorway To Roswell
Los Surfers Muertos
Caribou
Monkey Gone To Heaven
On Graveyard Hill
Cecilia Ann
St. Nazaire
Planet Of Sound
Ana
Death Horizon
Vamos
In The Arms Of Mrs. Mark Of Cain
Havalina
Silver Bullet
Where Is My Mind?
Daniel Boone
Velouria
Snakes
This Is My Fate
Catfish Kate
Bone Machine
Wave Of Mutilation
Debaser
Tame
Gigantic

sábado, 19 de outubro de 2019

The Psychedelic Furs no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (16-10-2019)

"Heaven is the whole of the heart"

No dia 16 de Outubro de 2019, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os The Psychedelic Furs.
Formados em 1977, no mesmo ano em que a cena punk se expandiu para o grande público, expressando a rebelião contra a sonoridade pomposa do rock mainstream dos 1970s (nomeadamente no movimento prog rock ou soft rock), bem com a representação da estética Do-It-Yourself. As canções desse movimento eram rápidas, caracterizadas pelas melodias agressivas e ao mesmo tempo simplificadas, em termos de composição. 
Mas com o álbum de estreia homónimo, lançado em 1980, os The Psychedelic Furs fizeram uma ponte entre o pós-punk e da new wave. A combinação densa de pós-punk com pitadas "psicadélicas", por vezes atmosféricas sem se esquecer aquela estética "arty", estava bem presente na sua própria aparelhagem. Aqui, a banda liderada por irmãos Richard e Tim Butler demonstra o fascínio e a influência de nomes como The Velvet Underground (daí onde se inspiraram o nome da canção "Venus In Furs"), Roxy Music, Sex Pistols ou até mesmo de David Bowie (na fase "trilogia Berlinense"). Em relação ao segundo álbum "Talk Talk Talk", os Furs iriam revelar a sua maturidade, incorporando elementos mais pop com classe e elegância da banda com elementos pós-punk encontrados no disco anterior. A aventura continua com os seguintes álbuns "Forever Now" e "Mirror Moves". Esses quatro álbuns demonstram os seus talentos previsíveis dentro do espirito da banda e que são de certeza absoluta os trabalhos mais conseguidos que se tenham desenvolvido de inicio até meados de 1980s, tal como os Echo and The Bunnymen. Pois, a partir daí nunca mais conseguiram igualar e os próprios ficaram desapontados com a nova direcção musical, uma estética muito próxima do arena rock, por terem feito o disco seguinte "Midnight To Midnight", em finais de 1980s. Depois de editar o último álbum "World Outside" de 1991, separou-se e voltou a juntar-se em 2000, não tendo gravado qualquer álbum desde então.
Lembro-me quando os The Psychedelic Furs vieram cá no Coliseu de Lisboa em 2010, eu era para ter visto mas acabei por não poder ir ver. A última vez em que vieram cá foi no festival EDP Vilar de Mouros, dois anos anteriores e não tive oportunidade de os ver.
Dois anos mais tarde, depois de anunciar a digressão europeia deste ano, a minha expectativa permaneceu. E então, decidi ver os Furs no Lisboa Ao Vivo.
No palco, estava os dois irmãos Butler (Richard, na voz, e Tim, no baixo), Rich Good na guitarra principal, Paul Garisto na bateria, Amanda Kramer nas teclas e Mars Williams no saxofone e na guitarra rítmica. O concerto abriu em grande com a "Dumb Waiters", tema que abre o segundo álbum "Talk Talk Talk", dirigi-me no meio da plateia da frente no Lisboa ao Vivo. A voz inconfundível, smoky e quase sedutor do excêntrico Richard Butler dominou perfeitamente para o público rendido, o resto da banda ajudou também sem faltar os solos delicados do saxofone do Mars Williams intercalando com a sonoridade rock com qualidade. A canção "Mr. Jones", dá o mote para a grande festa da noite onde os Furs protagonizam, intercalando os momentos mais rock com os momentos mais pop. De seguida, o uso de teclas fascinantes por parte da Amanda Kramer do momento mais pop "Love My Way", o concerto ganhou uma nova fortuna em palco. Anos mais tarde, só por curiosidade, este tema entrou no filme "Call Me By Your Name". Pouco tempo depois, no momento em que tocaram a bela "The Ghost In You", os Furs representam o lado mais sofisticado e romântico da banda. No palco, Mars Williams resolveu a improvisar o seu oboé tocando com um tom acima do normal simulando o trompete na parte do refrão admirado do "Like A Stranger". E ao ver o espectáculo, podemos então encaixar os solos dinâmicos de bateria do Paul Garisto e do baixo do Tim Butler logo no início do sombrio "Sister Europe" (uma das canções favoritas do saudoso radialista António Sérgio), bem como o uivo dos solos de saxofone espectaculares a cargo do Mars. De todos esses elementos fizeram-me arrepiar e esse tal efeito cumpriram os seus objectivos. Mas o outro momento perfeito para mim foi mesmo a "Heaven", enchendo o público ao nível mais alto da euforia. O efeito resultou de uma forma gloriosa e admirável, ouvindo os belos solos de guitarra do Rich Good, em substituição do John Ashton. O tema novo "The Boy That Invented Rock N' Roll" foi muito bom com as guitarras ao fazer lembrar o primeiro álbum deles. Logo depois, outros momentos perfeitos "Into You Like A Train" ou até a "Pretty In Pink", daí é que me extasiei ainda mais desde os primeiros acordes. Tanto na escrita como na música é fulgurante. Em relação à música "Pretty In Pink", a grande parte da sua popularidade deve-se ao filme com o mesmo nome "Pretty In Pink", do realizador John Hughes (o mesmo do "The Breakfast Club"). Em tela, alguns dos actores do chamado "Brat Pack" como Molly Ringwald, Andrew McCarthy ou Jon Cryer. A música também se tornou um tema principal do filme clássico de 1986. A dada altura, antes do encore, o concerto estava quase a chegar ao fim com as outras pérolas "President Gas" e "Heartbreak Beat".
No encore, voltaram aos palcos para acabar apenas o único tema prolongado "India". Espalhados por uma multidão cheia acolhendo a vários secções, desde a introdução das guitarras à mentalidade próxima do punk e do psicadelismo, passando também pelos improvisos estrondosos do saxofone até alcançar às notas agudas prolongadas. E posto isto, eles deram um espectáculo formidável do principio ao fim. Conseguiram interpretar os clássicos temas no que diz respeito ao alinhamento sem uma mínima falha. Foi como uma espécie de best of , excepto a "Until She Comes" que ficou a faltar. Os Furs mantiveram a comunhão com o público no Lisboa Ao Vivo. Estiveram muito bem dispostos na maneira como representam no palco. O público ficou muito entusiasmado ao assistir o concerto, tal como eu. Adorei os ver.    


The Psychedelic Furs
   

  
   

  
   



Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/the-psychedelic-furs/2019/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-539d93e5.html

Dumb Waiters
Mr. Jones
Love My Way
There's A World Outside
The Ghost In You
Like A Stranger
Sister Europe
Heaven
All That Money Wants
Into You Like A Train
The Boy That Invented Rock n' Roll
Pretty In Pink
President Gas
Sleep Come Down
Heartbreak Beat

Encore:
India

Orchestral Manoeuvres In The Dark na Aula Magna, Lisboa (15-10-2019)

"My feelings still remain..."

No dia 15 de Outubro de 2019, fui à Aula Magna ver os Orchestral Manoeuvres In The Dark.
Lembro-me quando estiveram cá pela última vez no ano passado na Aula Magna, durante a digressão do último álbum "The Punishment Of Luxury", e não tive oportunidade de os ver devido aos compromissos pessoais. Um ano depois, a propósito da digressão "Souvenir Tour", ou seja, a comemoração dos 40 anos de carreira, a minha expectativa foi a mais elevada possível. Então decidi ver-os.
A minha descoberta dos OMD foi através dos meus pais. Ouviam e descobriram muita música quando eram jovens, tinham um disco deles em vinil. Como ainda não era nascido nessa altura, os OMD tenha-se tornado a minha banda favorita dentro do movimento synth-pop, a par dos Kraftwerk e Depeche Mode, desde adolescente. O disco de colectânea "The Best Of OMD" foi o primeiro que eu ouvi. Antes de explorar a discografia da banda de Andy McCluskey e Paul Humphreys, o "The Best Of" reune-se a selecção de canções que fizeram história na década de 1980. Temas como "Electricity", "Enola Gay" (tema anti-guerra que referencia ao bombardeiro que lançou a bomba atómica no Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial), "Souvenir", "Joan Of Arc" e "If You Leave". A escolha de canções foi a perfeita introdução para alguém que quer descobrir a discografia da banda. Os primeiros quatro álbuns de estúdio ("Orchestral Manoeuvres In The Dark", "Organisation", "Architecture & Morality" e o experimental "Dazzle Ships") foram altamente recomendáveis que se tenham desenvolvido de inicio a meados de 1980s. Depois disso não atingiram nenhum calibre e nem conseguiram igualar aos anteriores, mesmo recortando alguns dos singles. Na década de 1990s, a cena synth-pop passou-se despercebida, devido à grande explosão de guitarras do rock alternativo, tanto no grunge como na britpop, dominada pelo público em ambos os lados do Atlântico. E nessa altura, após a despedida de Paul Humphreys, arrastou a banda para águas muito turbulentas. Anos mais tarde, em 2006, numa espécie de segunda vida, após o regresso do Humphreys, os OMD lançaram três álbuns como "History Of Modern", "English Electric" e "The Punishment Of Luxury".
A cena musical de Liverpool, na mesma cidade onde formaram os The Beatles, era algo mais definitiva. Pós-punk e new wave tornaram-se saudáveis em finais de 1970s e inicio dos 1980s. Na cena de Liverpool, as bandas eram mais focadas nas guitarras aos sintetizadores. Nomes como Echo & The Bunnymen (que deram um concerto fantástico no Lisboa Ao Vivo em Fevereiro deste ano), The Teardrop Explodes (banda liderada por Julian Cope) ou Frankie Goes To Hollywood são alguns dos exemplares de um determinado capítulo. Mas os OMD é uma banda mais focada apenas nos sintetizadores. Aos 40 anos, em que eles apresentaram ao público com o single de estreia "Electricity", que é ainda hoje um dos mais adorados no nosso país, sendo um dos primeiros sucessos do que viria a ser chamado de "synth-pop" e que acabou por influenciar a vários músicos de uma determinada geração, desde os The XX aos LCD Soundsystem ou Saint Etienne.
Antes disso, estive a ver os Cavaliers Of Fun, que fizeram a primeira parte do concerto dos OMD. Pelo que vi, não gostei muito deles. É como se os Alt-J não tivesse qualidades redentoras. A maioria das canções não são nada lembradas em termos de melodia, muito menos na secção vocal.
Quanto aos OMD foi espectacular. O vocalista, baixista e líder da banda, Andy McCluskey, aos 60 anos, sentiu-se cada vez energético. Na interacção com o público foi muito comunicativo. O teclista e também vocalista Paul Humphreys, aos 59 anos, esteve bem disposto na actuação. Para além desses dois fundadores, estava também Martin Cooper nas teclas e no saxofone e o Stuart Kershaw na bateria, em substituição do original Malcolm Holmes (que fez parte da banda ao longo do tempo).
O espectáculo começou-se com o tema recente "Isotype", do último álbum. O uso de sintetizadores digitais e vocoders ao fazer lembrar os Kraftwerk, a principal influência dos OMD, obteve uma boa representação. De seguida, Andy chamou a atenção aos espectadores para se levantar das cadeiras e dançar. No momento em que tocaram a "Messages" e a energética "Tesla Girls", a actuação ganhou uma luminosidade para o público cheio na Aula Magna, intercalando perfeitamente entre os temas antigos e alguns temas recentes, que estavam no alinhamento. Pouco tempo depois, no momento onde tocaram a "(Forever) Live and Die", cantado pelo Paul Humphreys, nem consigo comentar quanto foi emocional a essa música. Embora que na fase pós-Paul Humphreys não seja nada representativa para a banda, recortando um single ou dois como o "Sailing On The Seven Seas" e "Pandora's Box", aqui ao vivo, esses dois singles resultaram-se de uma forma imperdível. Mas a partir do momento a sério, ficamos extasiados ao som da trilogia de canções pop perfeitas como "Souvenir" (com Paul Humphreys na voz), "Joan Of Arc" e "Joan Of Arc (Maid Of Orleans)" (temas pertencentes ao "Architecture & Morality"). E esse tal efeito aumentou o nível de intensidade. A determinada altura, pensei que alguém andou a utilizar uma soundcheck de samples de comunicações de rádio relacionados com a Guerra Fria, encontrados no "Dazzle Ships" e chegou a acontecer. Mas vamos lá o que interessa. Houve também momentos atmosféricos, temperados pelos loops de ritmos electrónicos e pelos acordes de sintetizadores de Humphreys e Cooper como "Statues" e "Almost", tema que originalmente fez parte do Lado-B do single "Electricity". O novo single "Don't Go", que fez parte do disco de colectânea "Souvenir: The Singles Collection 1979-2019" lançado recentemente, soa muito reminescente à fase inicial deles. A sonoridade pop colorida recheada de hooks orelhudos sem se esquecer as outras pérolas que temos como "So In Love", arrepiante ao saxofone bem como aos coros, "Dreaming" e "Locomotion". Já antes do encore, o outro momento perfeito para mim foi, sem dúvida nenhuma, a interpretação da "Enola Gay" (tema do segundo álbum "Organisation"), conseguindo despertar e arrepiar o público rendido. E esse efeito resultou como prometido. Inesquecível.
No encore teve momentos estrondosos, os OMD voltaram aos palcos ao som de "If You Leave", tema que entrou no filme "Pretty In Pink", realizado por John Hughes (o mesmo cineasta que fez o "The Breakfast Club"), e de "Secret". E finalmente, o concerto encerrou com o futurista "Electricity", primeiro single lançado pela Factory Records (nome da etiqueta discográfica ligado à cena Underground de Manchester, podemos aqui encaixar os artistas como Joy Division, New Order, Happy Mondays, entre muitos outros) despertando a mente para uma multidão explosiva.
Posto isto, foi um dos mais desejáveis concertos que vi. A selecção das canções previstas no alinhamento parecia uma espécie de greatest hits deles. E que festa de aniversário que eles deram. Está de parabéns por trazer cá em Portugal que mantiveram a comunhão com o público infalível. O meu problema já está resolvido. Não vai haver chatices.


Orchestral Manoeuvres In The Dark



 



 


Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/orchestral-manoeuvres-in-the-dark/2019/aula-magna-lisbon-portugal-339d8879.html

Isotype
Messages
Tesla Girls
History Of Modern (Part I)
Pandora's Box
(Forever) Live and Die
Souvenir
Joan Of Arc
Joan Of Arc (Maid Of Orleans)
Time Zones
Statues
Almost
Don't Go
So In Love
The Punishment Of Luxury
Dreaming
Locomotion
Sailing On The Seven Seas
Enola Gay

Encore:
If You Leave
Secret
Electricity

domingo, 13 de outubro de 2019

Mão Morta no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (11-10-2019)

Lisboa (Ao Vivo), Por Entre As Sombras E O Lixo

No dia 11 de Outubro de 2019, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os bracarenses Mão Morta.
Vi-os pela primeira vez na 25ª edição do Paredes De Coura de 2017, a propósito da digressão dos 25 anos do álbum histórico "Mutantes S.21", de 1992. Deram um concerto fantástico, conseguiram interpretar temas desse álbum na integra, bem como os restantes temas que fizeram história, para além desse. O líder carismático Adolfo Luxúria Canibal obteve uma sublime interacção com o público rendido. Dois anos depois, decidi vê-los no Lisboa Ao Vivo a apresentar o novo álbum "No Fim Era O Frio". 
O álbum "Primavera De Destroços" ou talvez "Mutantes S.21" foram as minhas introduções para a banda. Ao ouvir o primeiro álbum de um qualquer artista ou banda pode decidir se gosta ou não. Ou talvez possa descobrir ou explorar os trabalhos ao que o artista/banda gravou. E depois de explorar a discografia dos Mão Morta, tenha-se tornado uma das minhas bandas favoritas dentro do movimento rock português. Gosto da combinação de elementos pós-punk, rock industrial, rock alternativo e avant-garde. Considero também o Adolfo Luxúria Canibal um excelente contador de histórias. As suas poesias e a nível de escrita são inigualáveis. "Mutantes S.21", "Primavera De Destroços", "O.D., Rainha Do Rock & Crawl" e o álbum de estreia homónimo são um dos meus favoritos álbuns do catálogo deles. Eles não sabem fazer maus discos e continuam a fazer música com qualidade e sem repetir a mesma fórmula dos outros trabalhos, diversificando-se em cada um deles. E em relação ao novo álbum é frio (como o título indica), gélido e distópico que se trata dos assuntos do aquecimento global, bem como da subida das águas do mar, humanidade e histórias fictícias que não sabemos se é real. Têm momentos de existencialismo nas letras por parte do Adolfo Luxúria. Esse novo álbum tem cerca de 11 temas ou módulos.
No palco do Lisboa Ao Vivo, estava o Adolfo Luxúria Canibal na voz, os guitarristas Sapo (que vem dos Pop Dell Arte), Vasco Vaz e António Rafael (também teclista), a baixista Joana Longobardi e o baterista, co-fundador e produtor Miguel Pedro.
Na primeira parte do concerto, tocaram o álbum "No Fim Era O Frio" na integra. O trio de guitarras por parte do Sapo, Vasco Vaz e António Rafael trouxeram a um nível totalmente dispensável, ouvindo-se os riffs melodiosos e caracterizando a beleza e o caos nos temas "O Mundo Não É Mais Um Lugar Seguro" e "Um Ser Que Se Não Ilumina". E esse tal efeito resulta de uma forma avassaladora. A voz rouca do Adolfo Luxúria é inconfundível, na maneira como ele desempenha nas performances, o seu dramatismo intercalado pelo seu estilo de canto "meia-fala, meia-grunhida" tornou-se característico da banda. No momento final onde tocaram a "Deflagram Clarões de Luz", Adolfo Luxúria Canibal protagoniza como o desempenho de danças epilépticas herdado de Ian Curtis no palco, momento muito bom da noite. A utilização do backing track sintetizado por parte do Miguel Pedro, no tema "krautrockiano" e prolongado "A Minha Amada", é sobretudo o meu tema favorito do novo álbum. As linhas de guitarras e de baixo repetitivas atingem os crescendos em termos de intensidade intercalando os sentimentos do Adolfo Luxúria que descreve os seus piores pesadelos parecendo que está a contar uma história. Esta música é de alguma forma bizarra e hilariante ao mesmo tempo. Outro momento sublime. É sobre o indivíduo que se apaixona por uma amada, descobre que a amada dele não é mesmo uma ser humana, mas sim uma Alien (ou pode ser um insecto gigante), o que acho ameaçador. Ou pode ter sido uma alucinação. Demasiado Kafkiano ou Burroughsiano. Antes da acabar a primeira parte, dois temas que fecham o ciclo desse novo álbum, o desespero "Isto É Real?" e os coros a cargo dos restantes membros da banda "Sinto Tanto Frio". Por isso, gostei muito do novo álbum deles. Gostei na maneira como representam.
Após um intervalo de um quarto de hora, na segunda parte do concerto, Adolfo Luxúria Canibal e companhia regressaram aos palcos e deram um concerto magnífico, caloroso e contagiante sem falhas para o público caloroso no Lisboa Ao Vivo. Ouvimos os acordes de "Pássaros a Esvoaçar" e "Hipótese de Suicídio", temas retirados no disco anterior "Pelo Meu Relógio São Horas De Matar", estive que ir ao lado esquerdo da plateia da frente para não ser apanhado por um grupo de fãs a usarem camisolas dos Mão Morta no meio da plateia. Foi, sem dúvida nenhuma, incrível a partir do momento onde tocaram temas como "Sitiados" e "Em Directo (Para A Televisão)" que me fizeram arrepiar. O uso de backing track no "Tu Disseste", arrepiante secção das teclas que fez soar na actuação. E safaram-se como presenciado. O efeito conseguiu surpreender. Era o que esperasse. Depois disso, o palco encheu-se para acolher as guitarras arranhadas formidáveis no "Barcelona (Encontrei-me Na Plaza Real)". "E Se Depois" é a canção mais dentro do pós-punk e rock industrial levando o público ao êxtase, o uso de guitarras faz-me lembrar os Killing Joke, ou os Swans na fase inicial, nos melhores momentos, mesmo com os gritos e risos diabólicos no fim da música. Foi daí é que me alegrei ainda mais. Os temas que teve um momento singular foi o "Bófia" e "1º De Novembro", com o público, em coro, a cantar em plenos pulmões durante vários minutos, mais o Adolfo a berrar à frente do microfone na parte final, fazendo stagediving antes do encore.
No meio da plateia da frente estava muita malta a saltitar, fazer stagedivings, crowdsurfings e moshar. Uma noite cheia de diversão e de loucura. 
No encore, o concerto terminou com os dois temas "Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)" e uma vertente pesada "Anarquista Duval" com uma nota super estrondosa. E logo de seguida, despediram-se da audiência transformando uma comunhão com o público português. E que boa relação com o público que eles têm. 
Apesar de não tocar a mais conhecida deles "Budapeste (Sempre A Rock n' Rollar)", tema pertencente ao álbum "Mutantes S.21", a maturidade deles revelou-se num inesquecível e excelente concerto que deram no LAV, tal como aconteceu em Paredes De Coura que os vi há dois anos, como referi anteriormente. Até à próxima e espero que eles voltam daqui a um instantes.


Mão Morta  
    


    



  


Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/mao-morta/2019/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-2b9d9ca2.html

ACT I
O Despertar
O Mundo Não é Mais um Lugar Seguro
Um Ser Que Se Não Ilumina
Quem És Tu?
Oxalá
Passo o Dia a Olhar o Sol
Deflagram Clarões de Luz
Invasão Bélica
A Minha Amada
Isto É Real?
Sinto Tanto Frio

ACT II
Pássaros a Esvoaçar
Sitiados
Hipótese de Suicídio
Tu Disseste
Em Directo (Para A Televisão)
Barcelona (Encontrei-me Na Plaza Real)
Vamos Fugir
E Se Depois...
Bófia
1º de Novembro

Encore:
Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)
Anarquista Duval

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Wayne Hussey no RCA Club, Lisboa (05-10-2019)

A noite acústica no RCA Club

No dia 5 de Outubro de 2019, no mesmo dia onde comemora a Implantação Da República, estive a ver a actuação de Wayne Hussey, em formato acústico, na digressão Salad Daze (nome referenciado ao livro autobiográfico escrito por ele próprio), no RCA Club, em Lisboa.
Conheci o Wayne Hussey como o líder dos The Mission, bem como o antigo guitarrista dos The Sisters Of Mercy (na fase "First and Last and Always" juntamente com o baixista Craig Adams, também membro dos The Mission) e dos Dead Or Alive. Apesar de não ser a minha banda favorita dentro do movimento gótico, os primeiros três álbuns dos The Mission (nomeadamente a "God's Own Medicine"), foram muito bons no que diz respeito à criatividade musical. Pois a partir daí, nunca mais foi a mesma, devido às mudanças de line-ups, às novas direcções musicais desinspiradas, um slap in the face para a banda após a despedida do guitarrista Simon Hinkler. Tem aquela música que não suporto, que é a "Like A Child Again". Não vou começar a perder tempo com isso, vamos lá o que interessa.

Antes disso estive a ver o guitarrista e cantor Ashton Nyte, também em formato acústico, que foi a primeira parte do concerto do Wayne Hussey a solo. Na maneira como ele canta faz-me lembrar Johnny Cash. Não conheci nenhuma das músicas originais que ele tocou, só me lembro de tocar a "The Sound Of Silence", original dos Simon and Garfunkel. Bonito artista de abertura.
Quanto ao Wayne Hussey, foi bom mas um bocadinho sonso. Para além de ser cantor, escritor de canções e guitarrista, ele também é adepto do Liverpool FC. Ele estava sozinho no palco, nas guitarras, nas drum machines (caixa de ritmos) e nas teclas. Ele andava de óculos escuros, chapéu preto, julgando que poderia ser o irmão perdido do Bono (U2) mas não. Conseguiu interpretar os temas dos The Mission e de outros artistas durante a noite. Mal começou o espectáculo, a interpretação da mal-amada "Like A Child Again", os elementos de música pseudo-oriental estereotipada encontrados na versão original foram substituídos apenas por guitarra de 12 cordas e voz a cargo do Hussey que enche a atmosfera de simplicidade, demonstrando a alteração do mood e do tom da música, para dar um novo significado. Depois de tocar a "Garden of Delight", um momento imprescindível da noite, ouvindo o backing track da secção das cordas, houve aí uma fumarada no palco que distrai a vários espectadores e a mim também. Não costumo fumar, não tenho experiência para isso.
Houve também momentos em que me façam arrepiar foi a interpretação da "Island In The Stream", utilizando a guitarra de 12 cordas, bem como a interpretação da "Severina" na guitarra eléctrica, utilizando os efeitos "aguados" (flanger ou chorus), esse efeito instalou-se um clímax desejável.
Nas teclas, tocou dois temas de outros artistas como "Mr. Pleasant", original dos The Kinks, mas o que me surpreendeu mais foi a interpretação da "Hurt", o original dos Nine Inch Nails.
Depois disso, regressando à guitarra eléctrica ao som da interpretação algo sinistra, lenta mas fúnebre da "Marian", dos The Sisters Of Mercy, ouvindo o backing track dos sons desafinados do piano de cauda. Fiquei entusiasmado na maneira como ele interpreta a essa canção para uma multidão rendida. Mais um cover, a "All Along The Watchtower", original do Bob Dylan, mais tarde popularizado pela versão do Jimi Hendrix, acompanhando as drum machines foi também bonito.
Após alguns minutos de adorável "Belief" segue-se a interpretação da mais conhecida dos The Mission, "Wasteland", aqui encontra-se a versão mais calma e quase minimalista do que o normal, prosseguindo com um medley de canções de outros artistas, no caso de "Wishing Well", original dos Free, "Dancing Barefoot", original da Patti Smith, "Like A Hurricane", original do Neil Young, "Lucky", dos Radiohead e a "Personal Jesus", dos Depeche Mode e finalmente a última parte da "Wasteland" até chegar ao fim do alinhamento original.
Durante um encore extenso, foi o aspecto fraco nesta actuação que nem me levou as minhas expectativas como esperado. De maneira como sinto, poderei então imaginar de eu ficar preso no sitio isolado que quase nem consigo sair daqui. A "Butterfly On A Wheel", tocada nas teclas, foi a única coisa que me agrada neste alinhamento final, de resto não me agrada e nem me recordo muito bem o que é que tocou as outras músicas para alem dessa, regressando finalmente às guitarras acompanhando as drum machines, pode ser um qualquer tema perdido dos The Mission ou a solo. Posso então assumir a isso.
Foi uma pena de não tocar a "Deliverance", "Beyond The Pale", "Serpent's Kiss" ou até a "Tower Of Strength". Portanto, não foi dos melhores concertos que assisti. Julgava que o concerto acabasse o mais cedo possível para não apanhar aquela confusão no RCA Club. Duas horas e meia da actuação é demasiado. Por acaso foi quase mediano. Mas pronto, não há crise.


Ashton Nyte




Wayne Hussey 



  
   




Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

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