segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Ornatos Violeta no Campo Pequeno, Lisboa (06-12-2019)

"A cidade está deserta. E alguém escreveu o teu nome em toda a parte"

No dia 6 de Dezembro de 2019, fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os portuenses Ornatos Violeta.
Pela primeira vez, só vi metade da actuação deles no NOS Alive 2019 e foi muito bom, eu gostei. E a propósito da comemoração dos 20 anos do célebre segundo e último álbum "O Monstro Precisa de Amigos" de 1999, sucessor a energética "Cão!" de 1997, decidi ver os Ornatos outra vez, no Campo Pequeno.
Se o "Cão!" apresenta uma banda mais adulta, demonstrando uma mistura de punk, rock e funk com piscar de olho ao som dos Red Hot Chili Peppers ou dos Faith No More, então o "O Monstro Precisa De Amigos", o meu álbum favorito deles, revela a maturidade e a versatilidade do grupo, demonstrando o intimismo às canções, afastando a sonoridade funk rock do disco de estreia, encontrando o lado mais orgânico e abstracto do grupo com uma produção cuidada e a voz inconfundível e a escrita do carismático Manel Cruz encaixam-se de uma forma singular. Bem como os convidados especiais como os Corvos, que fazem a secção de cordas, o crooner Vitor Espadinha e Gordon Gano, o líder dos americanos Violent Femmes, que interpretam as canções "Ouvi Dizer" e "Capitão Romance". O resultado desses dois foi algo muito coesivo e único de um dos nomes mais respeitados da música nacional na década dos 1990s no que toca a evolução artística e a originalidade.
Lembro-me quando os Ornatos anunciaram a digressão da reunião da banda em 2012, nos Coliseus do Porto e de Lisboa, e não tive oportunidade de os ver.
Antes de eu entrar no Campo Pequeno, estava muita gente na fila de espera em várias secções, quer nas plateias quer nas bancadas.
Passaram alguns minutos e ouvimos os acordes do "Como Afundar", tema inédito, dirigi-me na plateia da frente em pé. Não sabia que o concerto fosse em 360º. No palco estava o líder Manel Cruz (voz e guitarra), Peixe (guitarra), Elísio Donas (teclas), Nuno Prata (baixo) e Kinörm (bateria).
Depois do "Como Afundar", passamos para os temas que fazem parte do "O Monstro Precisa de Amigos" na integra, como as belas "Tanque" ou "Para Nunca Mais Mentir" temperadas de acordes de guitarras do Manel Cruz e do Peixe.
Mas no momento perfeito em que tocaram a mais conhecida, ou seja, a balada à base do piano "Ouvi Dizer", o público, como eu, mantiveram a alegria e a felicidade, cantando em uníssono. E esse arrepio transcendeu-nos às minhas expectativas. E nesse momento em que o Manel Cruz obteve um sublime desempenho ao fazer as partes das falas (ou spoken words) do Vitor Espadinha, no fim da música.  Provavelmente, um dos aspectos positivos na actuação. Durante o concerto, Manel Cruz, Peixe e companhia conseguiram intercalar entre os temas mais rock como "O.M.E.M." e "Chaga" e os temas mais introspectivos como a bonita e charmosa "Coisas" e "Deixa Morrer". E com esses efeitos ajudaram a surpreender a vários espectadores rendidos. Houve também outros momentos em que tivemos as canções inéditas tais como "Como Afundar", "Há-de Encarnar" ou "Devagar", que foram rejeitadas durante as gravações do "O Monstro...". Já antes do concerto acabar, tivemos também outras pérolas como o dueto infalível "Capitão Romance" entre o Manel Cruz e o baixista Nuno Prata, que obteve um excelente desempenho ao fazer de Gordon Gano (que na versão do álbum mal conseguiu pronunciar as letras em português, o que acho hilariante), e "Dia Mau", tema mais orelhudo do "O Monstro..." que nunca consegui resistir.
Depois disso, voltaram para um extenso encore com os temas "A Dama Do Sinal", no álbum "Cão!", "Fim Da Canção", num regresso a "O Monstro Precisa De Amigos" ou "Débil Mental", num regresso a "Cão!". Houve um momento em que interpretaram a canção "Punk Moda Funk", no álbum "Cão!", eu achava piada ao primeiro verso desta música, fartei-me de rir desde a minha infância quando o Manel Cruz disse "quero mijar, agora quero mijar". Outro aspecto positivo da noite. Mais tarde, a festa encerrou com a canção acústica, gira mas curta "Raquel". Logo de seguida, os Ornatos despediram-se de audiência com o soundcheck do hino da RTP, "Derby Day", da autoria do compositor Robert Farnon, transformando a comunhão com o público mais honesto. No álbum "Cão!" também tem a esse sample quando acaba a canção "Raquel".
Posto isto, desses dois concertos que eu vi, este foi um dos concertos que valeu a pena ver em termos de alinhamento. Gostei bastante da actuação e estiveram bem dispostos. O Manel Cruz sentiu-se cada vez mais energético ao representar o palco. Grande animal. Na interacção com o público foi muito fixe. Esperemos que não vão demorar mais de 7 anos para mais concertos. 


Ornatos Violeta

 
 
 

 
 

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Como Afundar
Tanque
Pára de Olhar Para Mim
Para Nunca Mais Mentir
Ouvi Dizer
Nuvem
Notícias do Fundo
Há-de Encarnar
O.M.E.M.
Chaga
Coisas
Deixa Morrer
Devagar
Capitão Romance
Pára-me Agora
Dia Mau

Encore:
Tempo de Nascer
A Dama do Sinal
Fim da Canção

Encore 2:
Débil Mental
Punk Moda Funk

Encore 3:
Chuva (não estava no setlist escrito)
Dias da Fé
Raquel
(Derby Day) (Robert Farson song) (Hino da RTP)

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