quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Alcest no RCA Club, Lisboa (07-12-2019)

No dia 7 de Dezembro de 2019, fui ao RCA Club, em Lisboa, ver os franceses Alcest.
Nunca tinha ido ao Under The Doom Festival nos anos anteriores, mas quando reparei o cartaz dos nomes que vêm cá nesta nova edição (nos dias 6,7 e 8 de Dezembro, nos primeiros dois dias no RCA Club e no último dia, no Lisboa Ao Vivo), entre eles estava os Alcest, que irão estar no dia 7 de Dezembro. E então, optei por comprar só por um dia. E fiquei admirado e surpreendido com essa notícia.
Os Alcest são uma banda que é por vezes muito difícil de categorizar o estilo de música que eles tocam. As músicas deles são transcendentais e não são nada barulhentas, criando um sentido de beleza e da melancolia evocando uma atmosfera cada vez etérea e ao mesmo tempo sombria, uma mistura de black metal atmosférico com os elementos do shoegaze, pós-rock e dream pop. Como se os Ulver ou Burzum cruzasse com os Cocteau Twins, My Bloody Valentine ou até mesmo os Slowdive ou Sigur Rós.
A sonoridade black metal não é propriamente conhecida por vozes limpas, mas sim por gravações ruidosas, muito próximas do lo-fi, blast beats, guitarras arranhadas, tremolo pickings, vozes guinchadas e escuridões nas capas. Provavelmente um dos sub-géneros do metal mais complexos nesta cena. Lembro-me quando ouço o disco de estreia dos noruegueses Ulver, em meados dos 1990s, no inicio de carreira deles antes de virar para às tendências electrónicas e experimentais, eles conseguiram incorporar elementos do black metal com a conjugação de harmonia de vozes etéreas e por vezes, nem sempre, guinchadas, passando pelas secções acústicas inspiradas na folk escandinava, dando a atmosfera transcendental e gélida, bem como o dramatismo às canções. Aquelas vozes limpas ao que os Ulver cantam soam tão melódica e profunda fazendo-me imaginar de espreitar a paisagem florestal invernosa ao pôr do sol. Mas voltando ao assunto mais importante.
Os dois primeiros álbuns dos Alcest, "Souvenirs D'un Autre Monde" (2007) e "Écailles De Lune" (2010), foram a minha introdução para a banda que descobri via Internet sobre os melhores álbuns de shoegaze, estes foram os dois dos meus favoritos no catálogo deles. O relacionamento entre o black metal e do shoegaze pode ser incompreendido alguns dos ouvintes mas acabou por se tornar um género algo totalmente novo e inovador. O líder da banda e multi-instrumentista, Stéphane "Neige" Paut, tem a própria personalidade, com aquelas guitarras acima dos 11 recheadas de reverbs, ritmos lentos, um pouco de blast beats, vozes sonhadoras e, de vez em quando, grunhidas, acompanhando algumas nuances da neofolk e do pós-rock para transmitir o sentido de atmosfera do outro lado do mundo, e fez parte de alguns projectos como Amesoeurs (era ele e mais os membros dos Les Discrets, por onde o baterista Winterhalter convidou o Neige para fazer parte dos Alcest, numa altura em que os Amesoeurs estava a terminar). O que é certo em que eles não sabem fazer maus discos, continuam a fazer música com qualidade, embora que o "Shelter" (2014), um disco muito ambiental e menos metálico, não ser o ponto fulcral da carreira deles, tem alguns momentos bonitos que valeram a pena escutar. Já com o "Kodama" (2016), o outro dos meus favoritos, e o mais recente, "Spiritual Instinct", editado este ano, voltaram a incorporar as tendências do shoegaze e do pós-metal como tinha acontecido nos primeiros trabalhos e o resultado final surpreenderam-me, não vou dizer que tudo é óptimo mas sim muito peculiar e singular. E então decidi ver os Alcest no RCA Club.
O concerto arrancou com uma soundcheck do tema instrumental "Onyx", como introdução, apenas com o uso de camadas de distorção de guitarras. Os Alcest subiram ao palco e ouvimos então os primeiros acordes com o tema "Kodama". Dirigi-me ao fundo da plateia cercado por uns inúmeros fãs dos Alcest e dos Paradise Lost. Ainda assim, as guitarras, os ruídos e as vozes cintilantes do Niege estão bem presenciados neste concerto de pós-metal com espirito. Uma boa maneira de começar o espectáculo. Um momento desejável da noite. Neige, Winterhalter e companhia estiveram bem dispostos para o grande público no RCA Club. Na interacção com o público foi muito comunicativo. E ainda assim, prosseguimos com "Sapphire" e "Protection", dois temas do "Spiritual Instinct". E com esses efeitos transmitiram um clima da festa algo característico, apresentando para as audiências rendidas ao seu dispor. Já com a "Oiseaux de Proie", num regresso a "Kodama", um belo exemplo da conjugação das passagens mais calmas e outras mais pesadas, e essa característica resultou muito bem em palco, nos meus ouvidos. O momento perfeito para mim foi a interpretação da "Autre Temps", no álbum "Les Voyages De L'Âme". Nesta música acolhemos às secções de guitarras delicadas, bem como as melodias cativantes. E esses efeitos fizeram-me arrepiar. Os seguintes temas "Percées de Lumière", no "Écailles De Lune", e "Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles", num regresso a "Les Voyages De L'Âme", foram também belos momentos durante a actuação. E finalmente, muitas pessoas esperavam que tocassem algumas cenas do "Souvenirs D'un Autre Monde", a festa encerrou em plena emoção com a calma e bonita "Délivrance", tema que fecha o "Shelter".
E pronto foi um extraordinário concerto mas curto que deram para o público cheio emocionado no RCA Club. Foi precisamente uma hora de música emocionante, mas não foi dos melhores concertos dos Alcest que eu assisti. Para a próxima, toquem algumas malhas do "Souvenirs D'un Autre Monde".


Alcest








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/alcest/2019/rca-club-lisbon-portugal-539a6ba9.html

Onyx
Kodama
Sapphire
Protection
Oiseaux de Proie
Autre Temps
Percées de Lumière
Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles
Délivrance

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