quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Angel Olsen no Capitólio, Lisboa (22 de Janeiro de 2020)

No dia 22 de Janeiro de 2020, fui ao Capitólio, em Lisboa, ver a cantautora norte-americana Angel Olsen. E a propósito da festa de aniversário dos seus 33 anos, a minha expectativa transcendeu-me, por o facto de ser no mesmo dia de actuação já esgotado.
Conheci Angel Olsen através do segundo álbum "Burn Your Fire For No Witness", de 2014, e achei subtil desde a minha primeira escuta. Ela tem uma voz única e diversificada a nível de timbre. O terceiro álbum "My Woman", de 2016, marca uma mudança estilística dos territórios da folk, do psicadelismo e da country alternativo com uma estética lo-fi embaraçando os elementos do revivalismo rock de garagem, indie rock com sintetizadores à mistura e ecoando a sensibilidade pop à anos 1960s. E em relação ao novo álbum "All Mirrors", editado no ano passado, marca outra vez uma nova mudança, desta vez num lado mais abstracto, experimental e onírico, recheado de canções muito bem arranjadas acompanhando uma orquestra sinfónica graças ao mago produtor e compositor John Congleton (ex-membro dos The Paper Chase, que trabalhou com ela várias vezes e também trabalhou com a Sharon Van Etten, St. Vincent, The Walkmen, Bill Callahan, Chelsea Wolfe, Alvvays, Xiu Xiu, Explosions In The Sky e, nomeadamente, os Swans, incluindo o meu álbum favorito deles "To Be Kind") e o resultado final foi tão visceral e magnifico como no disco anterior, "My Woman".
Vi-a pela primeira vez no NOS Primavera Sound 2017, nos tempos da digressão do "My Woman", e foi fantástico. Em termos de actuação, a Angel representou as canções desse mesmo álbum e dos anteriores para o público sem nenhuma falha.
E então decidi ver outra vez a Angel Olsen, no Capitólio, depois de adorar o "All Mirrors".
Mas antes disso, estive a ver o projecto musical da Meg Duffy, Hand Habits, que faz a primeira parte dos concertos da Angel Olsen durante a digressão europeia. As músicas dela são introspectivas, delicidadas, influenciadas pela indie folk e pelo movimento slowcore. Aqui, ouvem-se os ecos dos Low, Galaxie 500 ou Red House Painters/Sun Kil Moon. E achei-a agradável como artista de abertura.
Quanto a Angel Olsen, gostei bastante da actuação. Foi muito intimista, emocional, épico e comunicativa num sentido mais pejorativo.
No entanto, ouvimos os primeiros acordes da "New Love Cassette". Esta música, acolhemos as tenebrosas secções de cordas (violoncelo e violino) e de sintetizadores para dar um efeito fantasmagórico seduzindo a vários ouvintes. Na verdade em que as canções desse novo álbum "All Mirrors" não são fáceis de caracterizar, não é um disco pop, nem de rock em comparação com o anterior, mas sim mais arty e progressivo. Depois disso, o público cantou os parabéns a Angel Olsen, atirando vários balões aos espectadores durante o espectáculo. As cordas e os sintetizadores no tema "All Mirrors" soam tão plenamente ameaçadoras que me conseguiram fazer arrepiar por completo. Esses elementos transmitiram a esse mesmo efeito. O dramatismo e a intensidade das canções tornaram-se absolutamente estrondosas. Ela conseguiu representar de uma forma concisa com muita emoção e suspense para o grande público no Capitólio rendido. Logo de seguida, prosseguimos com a suave balada de piano na "Spring", do qual achei cativante que atingiu o resultado agradável. O uso de guitarra eléctrica da Angel Olsen aconteceu um pouco mais tarde no épico "Lark", tema de abertura de "All Mirrors". Um momento irrepreensível da noite para mim. A secção de cordas mais sinistras, o espirito das performances vocais da Angel conseguiram encaixar muito bem sem perder o objectivo. De seguida, encaixamos os acordes belos, simples e intensos de guitarra, bem como a secção das cordas e das teclas dinâmicas na "Summer" ou na abordagem mais experimental como a "Tonight" que resultam de uma forma sensacional. Outros momentos impecáveis que ficará na memória. O tema folkalhado "Acrobat", no álbum de estreia "Half Way Home", de 2012, ecoam as linhas de guitarras desejáveis ou nos momentos mais arrojados como a psicadélica "Sweet Dreams", nada a ver com os Eurythmics, canção encontrada no disco de colectânea de raridades e lados-B gravados de 2012-2016 intitulado "Phases", de 2017. Houve também momentos em que me façam arrebatar como o rockalhado "Shut Up Kiss Me", no "My Woman", ou a delicodoce "Windows", no "Burn Your Fire For No Witness". A dada altura, já perto do fim, antes do encore, a misteriosa e noiresca "Endgame", num regresso a "All Mirrors", e a belíssima interpretação da "Some Things Cosmic", ela sozinha no palco sem banda, no EP de estreia "Strange Cacti", de 2010, fiquei simplesmente impressionado pela sonoridade que a Angel e companhia fizeram até então.
Ficou a faltar a "Unfucktheworld" ou "Sister". A festa encerrou com a lindíssima e surpreendentemente belo "Chance", tema que encerra o "All Mirrors", com aquelas nuances jazzísticas atmosféricas e languidas ao fazer lembrar da banda sonora dos filmes do David Lynch.
A aniversariante esteve de parabéns por trazer cá em Portugal. Ela e os restantes companheiros estiveram muitíssimo bem dispostos no palco, em termos de actuação, e ajudaram a manter o grande público a animar a festa rendida. E valeu a mesma pena ver. 
Birthday wishes, my "Angel" of music...xx


Hand Habits




Angel Olsen 



  






Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

New Love Cassette
All Mirrors
Spring
Impasse
Lark
Summer
Tonight
Acrobat
Sweet Dreams
Shut Up Kiss Me
Windows
Endgame
Some Things Cosmic

Encore:
Chance

Sem comentários:

Enviar um comentário