domingo, 16 de fevereiro de 2020

RIDE no Lisboa Ao Vivo (10 de Fevereiro de 2020)

"Made In OX4"

No dia 10 de Fevereiro de 2020, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os Ride.
Num papel determinante na definição do som do sub-género do indie rock, o shoegaze foi, e continua a ser, um dos estilos que me acompanho bastante e devo confessar que durante a minha adolescência comecei a explorar músicas novas através da internet, tal como a maioria das pessoas. O álbum "Loveless" dos My Bloody Valentine foi o meu ponto de partida para o estilo musical que desconhecia por completo e em relação a este álbum está tudo cheio de canções fundamentais de uma ponta a outra. Depois disso, explorei o catalogo dos restantes artistas, para além dos MBV, pertencentes ao mesmo estilo, de nomes como os Slowdive, Ride, Lush, Catherine Wheel, Swervedriver, The Boo Radleys, Chapterhouse e assim por diante. Dando a origem a este género, os Spacemen 3 e os The Jesus and Mary Chain são uma das influentes e importantíssimas chavetas que revelaram um domínio do ruído com texturas pop bem definidas e delicodoces. Voltando ao assunto.   
Os Ride, são uma das minhas bandas favoritas desse movimento, a par dos My Bloody Valentine e dos Slowdive. Nisto, a etiqueta Creation Records, batendo a 4AD (de nomes como Lush ou Pale Saints), estava um pacote de nomes geniais neste género, que mencionei há bocado (MBV, Slowdive, Ride, Swervedriver, Telescopes, The Boo Radleys, The Jesus and Mary Chain, House Of Love).
Os lideres da banda Andy Bell e Mark Gardener (vocalistas e guitarristas) demonstram os seus talentos de uma forma original e única ao longo dos anos da carreira. Se os My Bloody Valentine explorassem os elementos do ruído e do feedback e se os Slowdive explorassem os elementos das melodias oníricas repletas de paisagens sonoras etéreas. Então os Ride exploram os elementos mais pop, muito próximos dos The Stone Roses ou dos The Charlatans do que os seus pares, incorporando as pitadas do psicadelismo dos 1960s. No inicio dos 1990s, na era da flanela, os dois primeiros álbuns "Nowhere" (1990) e "Going Blank Again" (1992), bem como o disco de colectânea de EPs "Smile" (1990), foram as obras bem conseguidas alguma vez feita, cruzando às fronteiras da britpop. É como se estivéssemos a imaginar as ondas do mar a fluir. Os que vêm a seguir, antes da separação, não resultou muito bem, esse não era um momento muito bonito para os Ride, com a excepção do "Carnival Of Light" (1994) que por acaso tenho um soft spot a esse álbum, um disco de transição para a onda do britpop, que estava na moda na altura, os seus Oasis(s) ou os seus Blur(s) da vida. De seguida, o Andy Bell foi para os Oasis a tocar baixo após a separação e da realização daquele álbum super horrível que é o "Tarantula", em 1996. E não cheguei a tempo de ouvir as cenas ao que o Andy Bell fez para os Hurricane #1.
18 anos mais tarde, os Ride decidiram reunir-se. Primeiro, a propósito da tournée mundial e seguindo, mais dois álbuns de estúdio, "Weather Diaries" (2017), que, a meu ver, foi agradável mas não encaixa a mesma atmosfera que fazem dos dois primeiros memoráveis, e "This Is Not A Safe Place" (2019).
Vi-os no Primavera Sound 2015 e foi espectacular. E então, depois de gostar do último álbum "This Is Not A Safe Place", decidi os ver ao vivo, outra vez.
Normalmente, as bandas vindas de Oxford, muito mais que os Radiohead, têm mais produtividade e saudável, tal como as de Liverpool, Manchester ou de Birmingham.
Mas antes disso, estive a ver o trio londrino Crushed Beaks, que fizeram a primeira parte dos concertos dos Ride na digressão desse último álbum. Pareceram-me simpáticos do que vi. As músicas deles são mais ligadas ao dream pop com alguns elementos do shoegaze e do noise pop, quase semelhante às dos Ride. Eu gostei de os ver.
Quanto aos Ride, achei tão formidável e espectacular como no Primavera 2015.
Para além do duo dinâmico Andy Bell e Mark Gardener, estava Steve Queralt (baixo) e Laurence Colbert (bateria).
No entanto, ouvimos a canção "R.I.D.E" reproduzida através da soundcheck, simbolizando à introdução da banda. Acolhemos às primeiras duas músicas que começou o espectáculo, "Jump Jet" e "Future Love", do mais recente disco, que os Ride tocaram nos palcos. As canções desse disco são mais focadas às melodias e à atmosfera intensa, tal como no "Weather Diaries". E em aqui ao vivo têm-se instalado numa actuação bem estruturada e esse efeito surpreendeu para uma audiência determinada no Lisboa Ao Vivo. No entanto, a partir do momento em que tivemos o direito às linhas de guitarras fluorescentes no clássico "Leave Them All Behind", quanto a mim despertou-me a felicidade logo no inicio, pois o efeito a ser tocado no palco resultou-se de uma forma arrepiante. A certa altura nesta setlist singular, também tivemos a "Charm Assault" ou "Repetition", que representam um lado mais psicadélico da banda. Andy/Mark e companhia conseguiram ajudaram a manter o suor a mim e ao público. Mais tarde, já com as pérolas "OX4" e "Taste" fizeram-me arrepiar e o resultado alcançou de uma forma irresistível. Outro momento positivo para mim em que o concerto acabou com a trilogia de canções perfeitas como a "Dreams Burn Down" (sobretudo na parte dos solos de bateria magníficos logo no inicio), "Polar Bear" e o glorioso "Vapour Trail", todas pertencentes ao álbum "Nowhere" (que tem aquela capa oceânica das ondas do mar, a minha capa favorita e é tão linda que vale mesmo a pena).
No encore, tivemos a bela secção acústica "In This Room" e finalmente, o icónico "Seagull", tema que abre a "Nowhere", conseguiu perfeitamente para o grande público e seguramos à intercalação de secções do baixo espectaculares, bem como o duo de guitarras distorcidas e cruas recheadas de feedback e ritmos frenéticos com a forte sensibilidade pop. Só que ficou a faltar a algumas cenas como "Twistarella", "Chelsea Girl" ou "Like A Daydream".
Posto isto, os Ride fizeram uma actuação incrível que mantiveram a comunhão com o público igualmente formidável. Estiveram muito bem dispostos por estarem cá. E portanto, foi um concerto imaculado e subtil que irá ficar para a história.



Crushed Beaks




Ride











Outro
(photo by: @rideox4official via instagram)

Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/ride/2020/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-63982e57.html

R.I.D.E.
Jump Jet
Future Love
Leave Them All Behind
Charm Assault
Sennen
Fifteen Minutes
Dial Up
Repetition
Lannoy Point
End Game
All I Want
OX4
Taste
Kill Switch
Dreams Burn Down
Polar Bear
Vapour Trail

Encore:
In This Room
Seagull

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