sexta-feira, 1 de junho de 2018

The Jesus and Mary Chain no Coliseu dos Recreios, Lisboa (28-05-2018)

"Listen to the girl as she takes on half the world"

No dia 28 de Maio de 2018, fui ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, ver os escoceses The Jesus and Mary Chain. 
Os primeiros dois álbuns "Psychocandy" e "Darklands", lançados de meados a finais de 1980s, foram as minhas introduções para uma lendária banda de rock alternativo, liderada pelos irmãos Jim e William Reid dos quais foram um dos meus discos que tenho acompanhado bastante pela quantidade de vezes que ouço. Mas as primeiras canções que ouvi foram a "April Skies" e a "Just Like Honey" e fiquei surpreendido pela sonoridade que tocam. E depois de explorar os restantes trabalhos para além desses que mencionei, acabou por se tornar uma das minhas bandas favoritas de sempre, a par dos Cocteau Twins, Mogwai e Belle and Sebastian. Normalmente, os artistas ou bandas de Escócia, a maior parte deles, são uma belíssima caixa de surpresas com muita produtividade, sobretudo na cena da música independente.
Com o álbum de estreia "Psychocandy", em 1985, os JAMC conseguem combinar a parede sónica do ruído e do feedback de guitarras sem se esquecer os elementos pop de uma forma simplificada. Aqui, os irmãos Reid demonstram a sua inspiração de nomes como The Velvet Underground (pelo qual são descendentes dessa banda com a sua abordagem do noise e do rock artístico), The Stooges (nos momentos rock agressivos), The Beach Boys ou até mesmo as Shangri-Las (com aquela sonoridade pop/rock com arranjos do Wall of Sound à Phil Spector, produtor musical). 
O álbum "Psychocandy" acabou por abrir as portas de todas as bandas ligadas ao movimento shoegaze, de nomes como os My Bloody Valentine, Slowdive, Ride, Lush, The Pains Of Being Pure At Heart, A Place To Bury Strangers, entre muito outros. Também ajudou a influenciar dentro do panorama alternativo/indie como os Black Rebel Motorcycle Club, The Black Angels, The Kills ou The Horrors.
Em relação ao segundo álbum "Darklands", após a saída do baixista Douglas Hart e o baterista Bobby Gillespie (fundador dos Primal Scream) durante as gravações do álbum anterior, revela-se a maturidade dos irmãos Reid, focando mais as melodias à base nas texturas pop e distanciando-se o noise. Os próprios cantaram, tocaram a guitarra, o baixo e a programação da máquina de ritmo.
Com os álbuns seguintes "Automatic", "Honey's Dead", "Stoned & Dethroned" e "Munki", antes da separação em 1999, exploram o rumo às novas sonoridades mas no meu ponto de vista, os quatro primeiros álbuns (de "Psychocandy" a "Honey's Dead") demonstram os seus talentos inigualáveis dentro do espirito da banda e que são, sem dúvida nenhuma, um dos trabalhos mais conseguidos que se tenham desenvolvido de meados de 1980s até inicio de 1990s em termos de evolução artística. Os restantes foram muito bons mas não atingem à mesma escala do que os quatro primeiros. Em 2007, os JAMC voltaram ao activo.
Lembro-me quando os Jesus and Mary Chain estiveram cá em Portugal, pela última vez, no festival EDP Vilar de Mouros no ano passado, e não tive oportunidade de os ver, devido aos compromissos pessoais. E a propósito da digressão do mais recente álbum "Damaged and Joy", sucessor de "Munki" editado há 19 anos, com a minha expectativa elevada, decidi-os ver.
Apesar do álbum mais recente não ser tão mau como esperava (por acaso gostei do mais recente deles) no que diz respeito aos comebacks, os JAMC continuam a fazer músicas com qualidade e deram um concerto espectacular para o público quase cheio rendido. 
Estava os irmãos Reid (Jim, na voz e William, na guitarra), Scott Von Ryper (na guitarra), Brian Young (na bateria) e Mark Crozer (no baixo).
O concerto arrancou com o tema "Amputation" (tema que faz parte do "Damaged and Joy"). A música transmite-me a sensação orgânica em versão ao vivo, soando melhor do que no estúdio. O ruído das guitarras pareceu equilibrado em termos de textura mantendo o ritmo certo. Eu estava na plateia da frente ao ver o espectáculo que mais esperava. Estiveram muito bem dispostos no palco, mantendo a interacção com o público mais vasto. Depois disso, houve momentos onde tocaram os clássicos "April Skies", "Head On" e "Blues From A Gun". O noise e o feedback são obras de arte presenciados nesta actuação. E esse efeito está transmitido às nossas almas. De seguida, com os temas recentes "Black and Blues" e "Mood River", o concerto evoluiu de forma que os irmãos Reid e companhia se transborda a intercalação dos temas recentes com os temas antigos para os espectadores. A determinada altura, podemos encaixar os outros momentos cativantes no caso da "Far Gone and Out" e "Teenage Lust", ambos os temas do "Honey's Dead". Mas com a "Cherry Come Too", os JAMC demonstram a sua variedade que nem todas as músicas são apenas abordadas ao ruído mas também a sua abordagem das melodias pop com muita delicadeza e sentimentalidade e o resultado foi uma experiência irrepreensível. Já em "All Things Pass", no regresso ao mais recente álbum, transborda a esse mesmo efeito. Na "Some Candy Talking", pôs-me jovial, pois esse efeito do clássico instantâneo nesta actuação permaneceu de todo tamanho. Na edição original da "Psychocandy", esta canção foi removida devido às metáforas explícitas relacionadas com a droga (na verdade é que a maioria das letras encontradas nesse mesmo álbum são um perfeito sinónimo). O alinhamento original já estava quase no fim, antes do encore, tivemos as outras pérolas como "Darklands" e "Reverence", tema de abertura do "Honey's Dead" dos quais me surpreendeu ainda mais, para mim e para o público caloroso no Coliseu.
No encore, os JAMC regressaram aos palcos com o outro clássico absoluto "Just Like Honey", com a vocalista como convidada especial, espalhando-se por uma multidão cheia, daí é que me alegrei por completo desde os ritmos iniciais até às guitarras fulgurantes, e "Crackin' Up" arrepiou a esse mesmo efeito. E em relação a "Just Like Honey", tema que abre o álbum "Psychocandy", a grande parte da sua popularidade, anos mais tarde, integra a banda sonora do "Lost In Translation", filme de culto de 2003 realizado por Sofia Coppola. Depois disso o caótico "In A Hole", "War On Peace" e para a fechar essa sequência com a outra pérola "I Hate Rock N' Roll".
E não há muita coisa a acrescentar. O Jim Reid, como vocalista, manteve o seu carisma suficiente para o pessoal super motivado. E esse objectivo foi totalmente comprido, com as 21 músicas no total. E pronto, foi um dos grandes concertos que deram no Coliseu, tanto no alinhamento das canções como nas performances, tal como os outros que eu assisti. E valeu a pena também porque o preço de o bilhete até foi acessível.



The Jesus and Mary Chain









Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/the-jesus-and-mary-chain/2018/coliseu-dos-recreios-lisbon-portugal-7bed0634.html

Amputation
April Skies
Head On
Blues From A Gun
Black and Blues
Mood River
Far Gone And Out
Between Planets
Snakedriver
Teenage Lust
Cherry Come Too
All Things Pass
Some Candy Talking
Halfway To Crazy
Darklands
Reverence

Encore:
Just Like Honey
Crackin' Up
In A Hole
War On Peace
I Hate Rock N' Roll

Video dos JAMC a tocarem a "Just Like Honey" no Coliseu dos Recreios, filmado por Pedro Miguel Dias via iPhone5: https://www.youtube.com/watch?v=LaCI04bkbu0

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