domingo, 13 de outubro de 2019

Mão Morta no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (11-10-2019)

Lisboa (Ao Vivo), Por Entre As Sombras E O Lixo

No dia 11 de Outubro de 2019, fui ao Lisboa Ao Vivo ver os bracarenses Mão Morta.
Vi-os pela primeira vez na 25ª edição do Paredes De Coura de 2017, a propósito da digressão dos 25 anos do álbum histórico "Mutantes S.21", de 1992. Deram um concerto fantástico, conseguiram interpretar temas desse álbum na integra, bem como os restantes temas que fizeram história, para além desse. O líder carismático Adolfo Luxúria Canibal obteve uma sublime interacção com o público rendido. Dois anos depois, decidi vê-los no Lisboa Ao Vivo a apresentar o novo álbum "No Fim Era O Frio". 
O álbum "Primavera De Destroços" ou talvez "Mutantes S.21" foram as minhas introduções para a banda. Ao ouvir o primeiro álbum de um qualquer artista ou banda pode decidir se gosta ou não. Ou talvez possa descobrir ou explorar os trabalhos ao que o artista/banda gravou. E depois de explorar a discografia dos Mão Morta, tenha-se tornado uma das minhas bandas favoritas dentro do movimento rock português. Gosto da combinação de elementos pós-punk, rock industrial, rock alternativo e avant-garde. Considero também o Adolfo Luxúria Canibal um excelente contador de histórias. As suas poesias e a nível de escrita são inigualáveis. "Mutantes S.21", "Primavera De Destroços", "O.D., Rainha Do Rock & Crawl" e o álbum de estreia homónimo são um dos meus favoritos álbuns do catálogo deles. Eles não sabem fazer maus discos e continuam a fazer música com qualidade e sem repetir a mesma fórmula dos outros trabalhos, diversificando-se em cada um deles. E em relação ao novo álbum é frio (como o título indica), gélido e distópico que se trata dos assuntos do aquecimento global, bem como da subida das águas do mar, humanidade e histórias fictícias que não sabemos se é real. Têm momentos de existencialismo nas letras por parte do Adolfo Luxúria. Esse novo álbum tem cerca de 11 temas ou módulos.
No palco do Lisboa Ao Vivo, estava o Adolfo Luxúria Canibal na voz, os guitarristas Sapo (que vem dos Pop Dell Arte), Vasco Vaz e António Rafael (também teclista), a baixista Joana Longobardi e o baterista, co-fundador e produtor Miguel Pedro.
Na primeira parte do concerto, tocaram o álbum "No Fim Era O Frio" na integra. O trio de guitarras por parte do Sapo, Vasco Vaz e António Rafael trouxeram a um nível totalmente dispensável, ouvindo-se os riffs melodiosos e caracterizando a beleza e o caos nos temas "O Mundo Não É Mais Um Lugar Seguro" e "Um Ser Que Se Não Ilumina". E esse tal efeito resulta de uma forma avassaladora. A voz rouca do Adolfo Luxúria é inconfundível, na maneira como ele desempenha nas performances, o seu dramatismo intercalado pelo seu estilo de canto "meia-fala, meia-grunhida" tornou-se característico da banda. No momento final onde tocaram a "Deflagram Clarões de Luz", Adolfo Luxúria Canibal protagoniza como o desempenho de danças epilépticas herdado de Ian Curtis no palco, momento muito bom da noite. A utilização do backing track sintetizado por parte do Miguel Pedro, no tema "krautrockiano" e prolongado "A Minha Amada", é sobretudo o meu tema favorito do novo álbum. As linhas de guitarras e de baixo repetitivas atingem os crescendos em termos de intensidade intercalando os sentimentos do Adolfo Luxúria que descreve os seus piores pesadelos parecendo que está a contar uma história. Esta música é de alguma forma bizarra e hilariante ao mesmo tempo. Outro momento sublime. É sobre o indivíduo que se apaixona por uma amada, descobre que a amada dele não é mesmo uma ser humana, mas sim uma Alien (ou pode ser um insecto gigante), o que acho ameaçador. Ou pode ter sido uma alucinação. Demasiado Kafkiano ou Burroughsiano. Antes da acabar a primeira parte, dois temas que fecham o ciclo desse novo álbum, o desespero "Isto É Real?" e os coros a cargo dos restantes membros da banda "Sinto Tanto Frio". Por isso, gostei muito do novo álbum deles. Gostei na maneira como representam.
Após um intervalo de um quarto de hora, na segunda parte do concerto, Adolfo Luxúria Canibal e companhia regressaram aos palcos e deram um concerto magnífico, caloroso e contagiante sem falhas para o público caloroso no Lisboa Ao Vivo. Ouvimos os acordes de "Pássaros a Esvoaçar" e "Hipótese de Suicídio", temas retirados no disco anterior "Pelo Meu Relógio São Horas De Matar", estive que ir ao lado esquerdo da plateia da frente para não ser apanhado por um grupo de fãs a usarem camisolas dos Mão Morta no meio da plateia. Foi, sem dúvida nenhuma, incrível a partir do momento onde tocaram temas como "Sitiados" e "Em Directo (Para A Televisão)" que me fizeram arrepiar. O uso de backing track no "Tu Disseste", arrepiante secção das teclas que fez soar na actuação. E safaram-se como presenciado. O efeito conseguiu surpreender. Era o que esperasse. Depois disso, o palco encheu-se para acolher as guitarras arranhadas formidáveis no "Barcelona (Encontrei-me Na Plaza Real)". "E Se Depois" é a canção mais dentro do pós-punk e rock industrial levando o público ao êxtase, o uso de guitarras faz-me lembrar os Killing Joke, ou os Swans na fase inicial, nos melhores momentos, mesmo com os gritos e risos diabólicos no fim da música. Foi daí é que me alegrei ainda mais. Os temas que teve um momento singular foi o "Bófia" e "1º De Novembro", com o público, em coro, a cantar em plenos pulmões durante vários minutos, mais o Adolfo a berrar à frente do microfone na parte final, fazendo stagediving antes do encore.
No meio da plateia da frente estava muita malta a saltitar, fazer stagedivings, crowdsurfings e moshar. Uma noite cheia de diversão e de loucura. 
No encore, o concerto terminou com os dois temas "Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)" e uma vertente pesada "Anarquista Duval" com uma nota super estrondosa. E logo de seguida, despediram-se da audiência transformando uma comunhão com o público português. E que boa relação com o público que eles têm. 
Apesar de não tocar a mais conhecida deles "Budapeste (Sempre A Rock n' Rollar)", tema pertencente ao álbum "Mutantes S.21", a maturidade deles revelou-se num inesquecível e excelente concerto que deram no LAV, tal como aconteceu em Paredes De Coura que os vi há dois anos, como referi anteriormente. Até à próxima e espero que eles voltam daqui a um instantes.


Mão Morta  
    


    



  


Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/mao-morta/2019/lisboa-ao-vivo-lisbon-portugal-2b9d9ca2.html

ACT I
O Despertar
O Mundo Não é Mais um Lugar Seguro
Um Ser Que Se Não Ilumina
Quem És Tu?
Oxalá
Passo o Dia a Olhar o Sol
Deflagram Clarões de Luz
Invasão Bélica
A Minha Amada
Isto É Real?
Sinto Tanto Frio

ACT II
Pássaros a Esvoaçar
Sitiados
Hipótese de Suicídio
Tu Disseste
Em Directo (Para A Televisão)
Barcelona (Encontrei-me Na Plaza Real)
Vamos Fugir
E Se Depois...
Bófia
1º de Novembro

Encore:
Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)
Anarquista Duval

Sem comentários:

Enviar um comentário