sábado, 19 de outubro de 2019

Orchestral Manoeuvres In The Dark na Aula Magna, Lisboa (15-10-2019)

"My feelings still remain..."

No dia 15 de Outubro de 2019, fui à Aula Magna ver os Orchestral Manoeuvres In The Dark.
Lembro-me quando estiveram cá pela última vez no ano passado na Aula Magna, durante a digressão do último álbum "The Punishment Of Luxury", e não tive oportunidade de os ver devido aos compromissos pessoais. Um ano depois, a propósito da digressão "Souvenir Tour", ou seja, a comemoração dos 40 anos de carreira, a minha expectativa foi a mais elevada possível. Então decidi ver-os.
A minha descoberta dos OMD foi através dos meus pais. Ouviam e descobriram muita música quando eram jovens, tinham um disco deles em vinil. Como ainda não era nascido nessa altura, os OMD tenha-se tornado a minha banda favorita dentro do movimento synth-pop, a par dos Kraftwerk e Depeche Mode, desde adolescente. O disco de colectânea "The Best Of OMD" foi o primeiro que eu ouvi. Antes de explorar a discografia da banda de Andy McCluskey e Paul Humphreys, o "The Best Of" reune-se a selecção de canções que fizeram história na década de 1980. Temas como "Electricity", "Enola Gay" (tema anti-guerra que referencia ao bombardeiro que lançou a bomba atómica no Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial), "Souvenir", "Joan Of Arc" e "If You Leave". A escolha de canções foi a perfeita introdução para alguém que quer descobrir a discografia da banda. Os primeiros quatro álbuns de estúdio ("Orchestral Manoeuvres In The Dark", "Organisation", "Architecture & Morality" e o experimental "Dazzle Ships") foram altamente recomendáveis que se tenham desenvolvido de inicio a meados de 1980s. Depois disso não atingiram nenhum calibre e nem conseguiram igualar aos anteriores, mesmo recortando alguns dos singles. Na década de 1990s, a cena synth-pop passou-se despercebida, devido à grande explosão de guitarras do rock alternativo, tanto no grunge como na britpop, dominada pelo público em ambos os lados do Atlântico. E nessa altura, após a despedida de Paul Humphreys, arrastou a banda para águas muito turbulentas. Anos mais tarde, em 2006, numa espécie de segunda vida, após o regresso do Humphreys, os OMD lançaram três álbuns como "History Of Modern", "English Electric" e "The Punishment Of Luxury".
A cena musical de Liverpool, na mesma cidade onde formaram os The Beatles, era algo mais definitiva. Pós-punk e new wave tornaram-se saudáveis em finais de 1970s e inicio dos 1980s. Na cena de Liverpool, as bandas eram mais focadas nas guitarras aos sintetizadores. Nomes como Echo & The Bunnymen (que deram um concerto fantástico no Lisboa Ao Vivo em Fevereiro deste ano), The Teardrop Explodes (banda liderada por Julian Cope) ou Frankie Goes To Hollywood são alguns dos exemplares de um determinado capítulo. Mas os OMD é uma banda mais focada apenas nos sintetizadores. Aos 40 anos, em que eles apresentaram ao público com o single de estreia "Electricity", que é ainda hoje um dos mais adorados no nosso país, sendo um dos primeiros sucessos do que viria a ser chamado de "synth-pop" e que acabou por influenciar a vários músicos de uma determinada geração, desde os The XX aos LCD Soundsystem ou Saint Etienne.
Antes disso, estive a ver os Cavaliers Of Fun, que fizeram a primeira parte do concerto dos OMD. Pelo que vi, não gostei muito deles. É como se os Alt-J não tivesse qualidades redentoras. A maioria das canções não são nada lembradas em termos de melodia, muito menos na secção vocal.
Quanto aos OMD foi espectacular. O vocalista, baixista e líder da banda, Andy McCluskey, aos 60 anos, sentiu-se cada vez energético. Na interacção com o público foi muito comunicativo. O teclista e também vocalista Paul Humphreys, aos 59 anos, esteve bem disposto na actuação. Para além desses dois fundadores, estava também Martin Cooper nas teclas e no saxofone e o Stuart Kershaw na bateria, em substituição do original Malcolm Holmes (que fez parte da banda ao longo do tempo).
O espectáculo começou-se com o tema recente "Isotype", do último álbum. O uso de sintetizadores digitais e vocoders ao fazer lembrar os Kraftwerk, a principal influência dos OMD, obteve uma boa representação. De seguida, Andy chamou a atenção aos espectadores para se levantar das cadeiras e dançar. No momento em que tocaram a "Messages" e a energética "Tesla Girls", a actuação ganhou uma luminosidade para o público cheio na Aula Magna, intercalando perfeitamente entre os temas antigos e alguns temas recentes, que estavam no alinhamento. Pouco tempo depois, no momento onde tocaram a "(Forever) Live and Die", cantado pelo Paul Humphreys, nem consigo comentar quanto foi emocional a essa música. Embora que na fase pós-Paul Humphreys não seja nada representativa para a banda, recortando um single ou dois como o "Sailing On The Seven Seas" e "Pandora's Box", aqui ao vivo, esses dois singles resultaram-se de uma forma imperdível. Mas a partir do momento a sério, ficamos extasiados ao som da trilogia de canções pop perfeitas como "Souvenir" (com Paul Humphreys na voz), "Joan Of Arc" e "Joan Of Arc (Maid Of Orleans)" (temas pertencentes ao "Architecture & Morality"). E esse tal efeito aumentou o nível de intensidade. A determinada altura, pensei que alguém andou a utilizar uma soundcheck de samples de comunicações de rádio relacionados com a Guerra Fria, encontrados no "Dazzle Ships" e chegou a acontecer. Mas vamos lá o que interessa. Houve também momentos atmosféricos, temperados pelos loops de ritmos electrónicos e pelos acordes de sintetizadores de Humphreys e Cooper como "Statues" e "Almost", tema que originalmente fez parte do Lado-B do single "Electricity". O novo single "Don't Go", que fez parte do disco de colectânea "Souvenir: The Singles Collection 1979-2019" lançado recentemente, soa muito reminescente à fase inicial deles. A sonoridade pop colorida recheada de hooks orelhudos sem se esquecer as outras pérolas que temos como "So In Love", arrepiante ao saxofone bem como aos coros, "Dreaming" e "Locomotion". Já antes do encore, o outro momento perfeito para mim foi, sem dúvida nenhuma, a interpretação da "Enola Gay" (tema do segundo álbum "Organisation"), conseguindo despertar e arrepiar o público rendido. E esse efeito resultou como prometido. Inesquecível.
No encore teve momentos estrondosos, os OMD voltaram aos palcos ao som de "If You Leave", tema que entrou no filme "Pretty In Pink", realizado por John Hughes (o mesmo cineasta que fez o "The Breakfast Club"), e de "Secret". E finalmente, o concerto encerrou com o futurista "Electricity", primeiro single lançado pela Factory Records (nome da etiqueta discográfica ligado à cena Underground de Manchester, podemos aqui encaixar os artistas como Joy Division, New Order, Happy Mondays, entre muitos outros) despertando a mente para uma multidão explosiva.
Posto isto, foi um dos mais desejáveis concertos que vi. A selecção das canções previstas no alinhamento parecia uma espécie de greatest hits deles. E que festa de aniversário que eles deram. Está de parabéns por trazer cá em Portugal que mantiveram a comunhão com o público infalível. O meu problema já está resolvido. Não vai haver chatices.


Orchestral Manoeuvres In The Dark



 



 


Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/orchestral-manoeuvres-in-the-dark/2019/aula-magna-lisbon-portugal-339d8879.html

Isotype
Messages
Tesla Girls
History Of Modern (Part I)
Pandora's Box
(Forever) Live and Die
Souvenir
Joan Of Arc
Joan Of Arc (Maid Of Orleans)
Time Zones
Statues
Almost
Don't Go
So In Love
The Punishment Of Luxury
Dreaming
Locomotion
Sailing On The Seven Seas
Enola Gay

Encore:
If You Leave
Secret
Electricity

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