segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Pixies no Campo Pequeno, Lisboa (25-10-2019)

"Hey!....Been Trying To Meet You"

No dia 25 de Outubro de 2019, fui ao Campo Pequeno, em Lisboa, ver os norte-americanos Pixies.
Os Pixies são uma das minhas bandas favoritas de sempre por terem realizado as obras intemporais e sensacionais como o EP de estreia "Come On Pilgrim" (1987), bem como os quatros álbuns de estúdio "Surfer Rosa" (1988), "Doolittle" (1989), "Bossanova" (1990) e "Trompe Le Monde" (1991). Dentro desse panorama do rock alternativo, antes da explosão, em que o tal termo não existia nessa altura, os Pixies demonstram os seus talentos irrepreensíveis e característicos revelando a sua maturidade, bem como a sua diversificação às canções. A maior parte delas são curtas mas muito memoráveis. Tem muito surrealismo nas letras por parte do Charles Thompson IV (conhecido como Black Francis). A sua combinação imaculada de duelo de guitarras rugidas do Black Francis e Joey Santiago, de linhas de baixo e de secções rítmicas simplificadas por parte da Kim Deal e do David Lovering com melodias pop cativantes e orelhudas em termos de textura, as influências do punk e do surf rock, bem como a conjugação de vozes masculina e feminina (os berros e os uivos do Black Francis intercalando com a voz delicodoce da Kim Deal) e a dinâmica do género "LOUD-quiet-LOUD" (ou seja, versos calmos e refrões barulhentos), que se inspirou vários músicos de uma determinada geração, até os dias de hoje. Podemos então encaixar de nomes como Nirvana, The Smashing Pumpkins, Radiohead, PJ Harvey, Weezer ou The Strokes. Isto só para dar alguns exemplos. Os Pixies separaram-se em 1993, dedicando a vários projectos paralelos, que também acompanho. Frank Black (ou seja, Black Francis) a solo, e Kim Deal nas The Breeders/The Amps (juntamente com a sua irmã-gémea Kelley Deal). Mais tarde em 2004, os Pixies voltaram a reunir-se para dar concertos ao vivo, que foi pela primeira vez, salvo erro, em que eles vieram cá e eu era jovem demais a assistir concertos, por isso nunca lá fui, e não gravaram nenhum álbum ou EP até 2013. Subitamente a editora 4AD é muito mais do que a paisagem sonora etérea e gótica, bem como as capas enigmáticas que tenha desenvolvido na altura, nos 1980s, e que mais tarde, desde finais dessa década, procura novos horizontes dentro da música independente até então.
Lembro-me quando os Pixies estiveram cá no Coliseu dos Recreios de 2013 com a Kim Shattuck (recentemente falecida, que vem dos The Muffs e das The Pandoras) no baixo e voz. em substituição da Kim Deal (que foi despedida da banda, nesse mesmo ano, e concentrar-se mais nas The Breeders), e não tive oportunidade de os ver. E agora, desde finais desse mesmo ano, é a vez da Paz Lenchantin (que já trabalhou com os Queens Of The Stone Age, A Perfect Circle, ZWAN, entre outros), em substituição da Kim Shattuck. No more Kim(s) anymore.
Vi-os no NOS Primavera Sound 2014 e surpreendeu-me por completo do que esperava. Deram um concerto fantástico do principio ao fim. E dois anos seguintes, vi-os outra vez no NOS Alive 2016 e não foi assim tão bom devido à dificuldade na projecção vocal por parte do Black Francis. Por enquanto, não cheguei a tempo de ouvir os álbuns recentes. excepto o último "Beneath The Eyrie", lançados nos 2010s na fase pós-Kim Deal, como "Indie Cindy" ou "Head Carrier", desde que andei a ler críticas decepcionantes e mixadas em relação a esses dois mencionados. Em relação ao "Beneath The Eyrie", não me atingiu as expectativas, tem alguns temas decentes mas o resultado final deixou muito a desejar. A propósito da digressão europeia deste ano, como uma expectativa muito elevada, decidi ver os Pixies no Campo Pequeno.
Mas antes disso, estive a ver os ingleses Blood Red Shoes, que fizeram a primeira parte do concerto dos Pixies. O duo Laura Mary-Carter (na voz e guitarra) e Steven Ansell (na voz e bateria) e companhia conseguiram manter o público admirado. Eu estava no lado esquerdo da plateia da frente no Campo Pequeno. O som do revivalismo do rock de garagem destes fulanos estava bem presente neste espectáculo. Apesar de não explorar o suficiente a discografia deles, a energia e o poder das canções tornaram-se muito receptíveis. Com aquelas secções de guitarras e de bateria frenéticas intercalando com o duo das vozes por parte dos fundadores da banda (Laura e Steven). E ao sentir e ouvir as músicas deles, fazem-me lembrar dos The Kills ou dos Yeah Yeah Yeahs. Para além desses dois, no palco, estavam também a baixista Ayse Hassan, que vem das Savages, e o sampler e teclista de sessão que não consigo mencionar o nome. Laura Mary-Carter obteve um carisma suficiente às performances. A sua atitude punk estava no topo. Enquanto o baterista estava cada vez mais forte e segurou também. Já a "Mexican Dress", no álbum mais recente lançado este ano. "Get Tragic", chamou-me a atenção no que toca a intensidade. E portanto são 7 músicas no total de 30 minutos. Excelente banda de abertura.
Quanto aos Pixies, estiveram muito bem dispostos no palco e que deram um concerto totalmente irrepreensível do principio ao fim. No palco, estava o Black Francis (na voz e guitarra), Joey Santiago (na guitarra), Paz Lenchantin (na voz e baixo) e David Lovering (na bateria). Entraram no palco e ouvindo a alguém a usar uma backing track de música de fundo do tema perdido do James Blake, julgo eu. Mas adiante então.
O concerto arrancou de uma nota explosiva com a "Gouge Away" (tema que encerra o "Doolittle"), com uma introdução prolongada do baixo, da bateria e dos solos de guitarra fulgurantes por parte do Francis e do Santiago. As cargas de electricidade, a simplificação do baixo e da bateria e a voz, ora estridente ora sussurrante, de Francis estão todos no sitio certo. Por acaso, ouvi muitas das bandas dos 1990s a copiarem ao que os Pixies fizeram, tanto na dinâmica como na textura. Uma excelente maneira de começar o espectáculo, provavelmente um dos grandes temas de abertura de qualquer concerto. De seguida, prossegue com o lado mais abrasivo e energético da banda no "Something Against You" e "U-Mass". No entanto, a partir do momento infalível, expandido pelo grande público, onde tocaram a "Hey" (been trying to meet you!), fiquei alegrado desde a nota inicial da linha de baixo. Pois esse efeito da pérola instantânea alcançou a minha experiência dando o mote para a grande festa onde os Pixies protagonizaram. Clássicos após clássicos, o espectáculo continua a evoluir-se sem se esquecer os momentos mais rock e outros mais pop como "The Holiday Song" ou a mais conhecida "Here Comes Your Man". O uso de guitarra acústica do Francis estava também presente nalguns dos temas inesquecíveis como "Cactus" (com aqueles grooves ao fazer lembrar dos The Cars ou dos T.Rex) ou o lúdico "Nimrod's Son" (com uns toques meio folk meio punk), demonstrando a sua versatilidade no palco. Com a "Mr. Grieves" e "Brick Is Red", transmitiram a esse mesmo efeito de uma forma singular. Apesar do "Beneath The Eyrie", o álbum mais recente lançado no mês passado deste ano, não ser o aspecto mais forte da carreira dos Pixies, eles safaram-se ao vivo, apresentando quase todos os temas como "On Graveyard Hill", "Catfish Kate" ou "Silver Bullet" e o resultado surpreendeu-se de uma boa forma para as audiências.
"Motorway To Roswell" foi um belíssimo tema e é uma pérola rock melódica em que o Neil Young nunca escreveu. Um pouco tempo depois, com a "Caribou", no EP "Come On Pilgrim", o grupo representa o lado mais críptico e abstracto, com uma excelente combinação do arranho de guitarras e de vozes melodicas e gritadas típicas do Francis. Mas no verdadeiro momento em que interpretaram a "Monkey Gone To Heaven", no álbum "Doolittle", felicitei-me ainda mais desde os acordes de guitarras acolhendo à harmonia das vozes do Francis e da Lenchantin no refrão, bem como as falas nos versos e os gritos finais espectaculares a cargo do Francis. A sequência do tema instrumental "Cecilia Ann", original da banda ligada ao movimento surf rock The Surftones, para uma vertente punk semelhante à fase inicial deles "St. Nazaire", no álbum mais recente, foi muito irresistível às performances. Naquele momento em que tocaram o "Planet Of Sound", no álbum "Trompe Le Monde", demonstra o lado mais spacey e punkalhado da banda e ao sentir essa música é como se estivéssemos a imaginar o avião a jacto a voar a velocidade superior à da propagação do som, tendo a forma mais parecida com a de uma bala (Sonic Boom) do que os aviões de baixa velocidade. Isso encaixa-se perfeitamente. Houve também momentos mais calmo como as belíssimas "Ana" e "Havalina", duas do "Bossanova", as guitarras cintilantes do Francis e do Santiago inspiradas no surf rock evocam-se o sentido da natureza e da atmosfera. Outro momento perfeito para mim no "Vamos", onde o guitarrista Joey Santiago teve capacidade para improvisar os solos muito fixes ao longo da canção, tirando o chapéu, segurando-o e indicando o gesto com o chapéu ao improvisar o jogo de guitarra para o público rendido.
Já com a intocável "Where Is My Mind?", no álbum "Surfer Rosa", a minha jovialidade despertou-me ao nível mais alto, enchendo o estado de espirito do público totalmente espalhado por todo o lado no Campo Pequeno, cantando em plenos pulmões. E com esse efeito resultou de uma forma gloriosa. Provavelmente um dos melhores capítulos neste alinhamento. Mais tarde, a grande parte da popularidade foi graças à este tema que entrou no filme "Fight Club" (um dos meus filmes favoritos) em que muitas das pessoas (incluindo newbies e jovens adolescentes) ouviram falar e descobriram os Pixies. No excepcional "Velouria", no álbum "Bossanova", encontra-se o lado mais melodioso da banda. Pouco tempo depois, já perto do fim, com a "Bone Machine" (tema que abre o "Surfer Rosa"), a felicidade em mim permaneceu ao nível da ambição. A única coisa que ficou a faltar foi a "Break My Body", que vem a seguir a "Bone Machine". E a festa finalizou com as quatro canções totalmente perfeitas, "Wave Of Mutilation", "Debaser" (com referências à curta-metragem surrealista "Un Chien Andalou" do realizador Luis Buñuel), o frenético "Tame" e finalmente, o meu tema favorito de todos, "Gigantic", com a Paz Lenchantin a assumir à voz principal e que obteve um sublime desempenho ao fazer de Kim Deal.
São quase 40 músicas no total de cerca de 2 horas e 15 minutos de pura diversão, alegria e magia no Campo Pequeno. Desta vez, tocaram quase toda a música do "Surfer Rosa", do "Doolittle" e do "Beneath The Eyrie", bem como algumas do "Bossanova" e do "Trompe Le Monde", no que diz respeito ao alinhamento. Apesar de não haver encores, estiveram muito bem preparados como a regra principal. Black Francis conseguiu manter a energia e a projecção vocal concisa para o público cheio sem uma única falha. Paz Lenchantin alcançou ao nível do talento e do carisma irrepreensível que me faça arrepiar ainda mais. Por acaso tenho um crush a ela. Joey Santiago e David Lovering ajudaram também. Até agora, está de parabéns por trazerem cá em Portugal, mantendo a interacção com o público mais adorado e honesto, rendido ao seu dispor. As pessoas como eu, ficaram espantadas de assistir o espectáculo da noite. Simplesmente grandiosos.


Blood Red Shoes





Pixies






  



Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/pixies/2019/campo-pequeno-lisbon-portugal-6b9dd202.html

Gouge Away
Something Against You
U-Mass
Hey
Cactus
Bird Of Prey
Nimrod's Son
Blown Away
The Holiday Song
All The Saints
Here Comes Your Man
Mr. Grieves
Brick Is Red
Ready For Love
Motorway To Roswell
Los Surfers Muertos
Caribou
Monkey Gone To Heaven
On Graveyard Hill
Cecilia Ann
St. Nazaire
Planet Of Sound
Ana
Death Horizon
Vamos
In The Arms Of Mrs. Mark Of Cain
Havalina
Silver Bullet
Where Is My Mind?
Daniel Boone
Velouria
Snakes
This Is My Fate
Catfish Kate
Bone Machine
Wave Of Mutilation
Debaser
Tame
Gigantic

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