sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Mark Lanegan Band no Lisboa Ao Vivo, Lisboa (30-10-2019)

"I Hit The City"

No dia 30 de Outubro de 2019, quase no Halloween, fui ao Lisboa Ao Vivo ver o Mark Lanegan.
Conheci Mark Lanegan através dos álbuns a solo "Bubblegum" de 2004 e "Blues Funeral" de 2012, então decidi pesquisar mais informações sobre ele no site da Wikipedia. Descobri que ele era líder dos Screaming Trees, também cantou com os Queens Of The Stone Age, com os Mad Season e mais recentemente com os Dead Combo no último álbum deles "Odeon Hotel" (que deram um extraordinário concerto no Coliseu Dos Recreios deste ano). Mais tarde, decidi ouvir algumas músicas dele tanto na solo como nos Screaming Trees e que se tornaram uma das minhas descobertas agradáveis alguma vez exploradas.
Screaming Trees é uma das bandas mais associadas ao movimento grunge de Seattle que abriu o mundo em inicio dos 1990s. Apesar de terem feito trabalhos realizados de 1986 a 1996, os Trees, tal como os Mudhoney, nunca passaram do patamar de banda de culto, longe do sucesso comercial de outros nomes como Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains ou Soundgarden. Existem poucas bandas desse movimento como os Trees a cruzarem o garage rock, aquele som mais sujo que se definiu com grunge, com referências do neo-psicadelismo, em vez da fusão do punk com elementos do hard rock, do heavy metal e do rock alternativo de um desses nomes. A voz barítono do Lanegan, as cargas de electricidade distorcidas e musculadas com tendências psicadélicas que fazem dos Trees uma das bandas mais distintas bandas de toda a cena grunge e infelizmente, uma serie de percalços durante o seu percurso, impediram um êxito maior e a dificuldade em fazer o novo disco em finais de 1990s e ditou o fim oficial da banda em 2000.
A meu ver, os dois últimos álbuns "Sweet Oblivion", de 1992, e "Dust", de 1996, foram os trabalhos mais coesos e diversificados no que diz respeito à criatividade. A canção retirada do "Sweet Oblivion", "Nearly Lost You" foi a primeira música dos Trees que ouvi graças a este tema que entrou no filme realizado por Cameron Crowe, "Singles" de 1992. Fiquei arrependido pela música deles. Também gosto dos discos de Lanegan a solo como o "Bubblegum", "Blues Funeral" e "Whiskey For The Holy Ghost" e também com a Isobel Campbell, ex-vocalista dos Belle and Sebastian. Apesar de não ter tempo de explorar os álbuns que vêm seguir a "Phantom Radio" ou "Gargoyle", decidi ver o Mark Lanegan Band no Lisboa Ao Vivo.
Mas antes disso, mal comecei a ver o cantor e o guitarrista Simon Bonney a solo (que vem da banda post-punk australiana Crime and The City Solution), que começou às 21:00 e que fez a primeira parte do concerto do Mark Lanegan Band.
Em relação ao concerto do Simon Bonney, acompanhando com a violinista e cantora Bronwyn (a mulher do Bonney), pareceram-me interessantes. Embora que as cenas do Bonney a solo não atingiram o mesmo conhecimento como o membro fundador dos Crime and The City Solution. As canções dele servem para contar uma historia e atingiram as expectativas para o palco diversificado. A sonoridade do country gótico, alt-country e americana esteve presente nesta actuação. O uso de backing track no meio do espectáculo no "Time Machine", tenho impressão que é essa música onde a violinista e cantora fez a interpretação, apenas a voz, sozinha no palco. O concerto acabou com as duas músicas do mesmo estilo após um enorme feedback colocado o violino perto do PA por engano feita pela Bronwyn. Um belo artista de abertura.
Quanto ao concerto do Mark Lanegan foi maravilhoso. Aos 54 anos, após uma vida muito alternativa, a sua voz cavernosa, grave e rouca, reminescente à do Tom Waits, continua a acarinhar a todo o público do nosso país.
No palco estava o Mark Lanegan na voz, Shelley Brien nas teclas e voz, Jeff Fielder nas guitarras, J P de Bheest na bateria, Frederic Lyenn Jacques no baixo e Aldo Struyf nas guitarras e no órgão.
O concerto arrancou com os temas "Disbelief Suspension" e "Letter Never Sent", dos quais fazem parte do último álbum "Somebody's Knocking", lançado em meados de Outubro deste ano. Nesses temas encontram-se o lado aproximado do pós-punk, ouvindo-se os ecos de New Order e de Joy Division e no entanto gostei desses. Uma boa maneira de começar o concerto. Mas a partir daí, houve momentos muito interessantes como "Nocturne", no álbum "Gargoyle", e a vibrante "Hit The City" (com a Shelley Brien a desempenhar as partes da PJ Harvey, originalmente gravadas no estúdio, encontradas no álbum "Bubblegum") a actuação despertou a felicidade ao grande público rendido, ouvindo os solos tremendos por parte do Jeff Fielder. E quanto a mim, o meu sentimento permanece até então. Pouco tempo depois, no regresso a "Somebody's Knocking", a canção rock energética com qualidade "Stitch It Up", começou a ganhar uma nova vida durante o espectáculo, enquanto a sombria mas quase gótica "Night Flight To Kabul", instala-se o sentimento cada vez singular por toda a dimensão e com esse efeito a essas canções mencionadas transmite a nossa sensação mais orgânica. Um exemplo adequado de híbrido de blues rock com elementos de electrónica temperado de drum machines espectaculares encontrados no tema "Beehive", no regresso a "Gargoyle", sem medo de usar as camadas de distorção, tornou-se o momento impressionante da noite. Mas, na trilogia de canções do álbum "Blues Funeral", já com o bluesy hipnótico "Bleeding Muddy Water", depois do guitarrista Jeff Fielder tocar o snippet de um tema qualquer dos Dead Combo, um dos fascínios do Mark Lanegan, fiquei surpreendido pela performance intimista e emocionante por parte do Lanegan, para além da melancolia trazia uma elegância e como o título indica, aposto que seja uma espécie de tributo a Muddy Waters, um músico mais ligado ao movimento blues de Chicago. Tenho impressão que sim. O outro momento imprescindível, "Ode To Sad Disco", a combinação subtil de ritmos electrónicos dançáveis e de sintetizadores luminosos e dramáticos intercalando com os solos delicados do Fielder ao fazer lembrar dos New Order (o outro fascínio e namoro do Lanegan, a par dos Joy Division), e "Harborview Hospital" cruza-se com o mesmo efeito em relação a canção anterior mas mais coerente e conciso. A interpretação do tema "Deeper Shade" escrito por Greg Dulli (dos The Afghan Whigs e dos The Twilight Singers), com quem já colaborou com o Lanegan no projecto musical The Gutter Twins, estava razoável na minha opinião mas adiante então. Voltando ao "Bubblegum" com o "One Hundred Days", uma canção blues rock climático que instalou para o público, como eu, adequado no Lisboa Ao Vivo. Podemos aqui encaixar os talentos e os belos solos de guitarra do Fielder no fim da música. E esses efeitos fizeram-me arrepiar. De seguida, mais dois ou três temas do "Somebody's Knocking" como "Penthouse High". Esse temas continuam no mesmo território electrónico underground cruzado os ritmos minimais com acordes de guitarras. Apesar de não ser o melhor momento da noite, desenvolveram-se bem ao vivo. Antes do encore, o alinhamento original fechou com as pérolas fulgurantes "Harvest Home" e "Death Trip To Tulsa", dois temas que fazem parte do álbum "Phantom Radio".
No encore, voltaram ao palco a interpretar a belíssima "Come To Me", outra vez, o Lanegan a fazer o dueto com a Shelley Brien, tal como a "Hit The City", outro momento brindado da noite. E finalmente, um pouco tempo depois, o concerto terminou com "The Killing Season", no regresso a "Phantom Radio", acolhendo as cargas de electricidade recheadas de feedback e do noise por parte do Jeff Fielder ao longo da música.
Portanto, foi um concerto singular e admirável. Mark Lanegan trouxe um carisma peculiar às performances e às canções que encheram a sala. Para além da variedade de estilos como o rock, grunge, blues, folk, americana, alt-country e mais recentemente electrónica underground em cada um dos álbuns, Mark e companhia representaram muito bem no palco, mantiveram a relação com o público português muito motivado. Lanegan e a sua banda continuam a explorar diferentes repertórios musicais, por toda a carreira, para atingir as novas audiências na música independente.
P.S.: Para a próxima, Mark Lanegan, canta a "Where Did You Sleep Last Night?" do Leadbelly, só para nós, se faz favor. Pode ser?


Simon Bonney




Mark Lanegan Band 








Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias

Disbelief Suspension
Letter Never Sent
Nocturne
Hit The City
Sister
Stitch It Up
Night Flight To Kabul
Burning Jacob's Ladder
Beehive
Bleeding Muddy Water
Deepest Shade (The Twilight Singers cover)
Ode To Sad Disco
Harborview Hospital
Penthouse High
One Hundred Days
Floor Of The Ocean
Dark Disco Jag
Harvest Home
Name and Number
Death Trip To Tulsa
Come To Me
Playing Nero
The Killing Season

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