quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Weyes Blood no B.Leza Clube, Lisboa (06-11-2019)

No dia 6 de Novembro de 2019, fui ao B.Leza Clube, em Lisboa, a ver Weyes Blood.
Vi-a uma vez no Coliseu dos Recreios em 2017, que fez a primeira parte do concerto do Father John Misty (ex-membro dos Fleet Foxes) e fiquei acarinhado pela actuação ao que a compositora e cantautora representou sozinha no palco, na voz e guitarra acústica. Conheci a Natalie Merling, ou seja a Weyes Blood, na altura do lançamento do segundo álbum "Front Row Seat To Earth", editado em 2016, em que cruza os territórios da folk psicadélica encontrados no álbum de estreia "The Innocents" em 2014, utilizando o seu nome artístico "Weyes Blood", com algumas tendências da pop barroca. Ela tem uma voz serena, transcendental e única ao mesmo tempo com muita emoção e encanto, herdeira de Karen Carpenter e Carole King, um pouco de Joni Mitchell à mistura. A nível de poesia e da escrita de canções são muito peculiares. E ao ouvir o mais recente álbum editado este ano, "Titanic Rising", com uma produção cristalina e algo mais homogénea, tenha-se tornado um dos aspectos muito fortes da carreira bem como um dos meus favoritos deste ano. Este álbum tem canções absolutamente fantásticas tanto na escrita como na música, marcando um disco de transição da folk para uma estética mais pop barroca e artística à anos 1960s e 1970s. Então decidi ver-a outra vez, depois de namoriscar a esse álbum mencionado, a propósito da galeria Zé Dos Bois que apresenta uma série de concertos fora de portas para celebrar o 25º aniversário.
Mas antes disso, estive a ver a cantora e compositora Ana Roxanne, que faz a primeira parte dos concertos da Weyes Blood na digressão europeia intitulado "Something To Believe Tour", em suporte do álbum "Titanic Rising". E foi pela primeira vez que vem cá a apresentar ao vivo no B.Leza Clube. O estilo dela é mais ligado à musica ambiente e experimental constituído pela paisagem sonora onírica e arranjos de synth-pads atmosféricos e luxuosos. A sua voz etérea evoca-se o sentido de atmosfera, transmitindo a beleza orgânica. De um desses elementos são muito agradáveis de ouvir. A meu ver, as músicas dela são relaxantes, apontando os híbridos de Enya, um pouco de Brian Eno e a Grouper (pseudónimo de Liz Harris). O meu coração ficou extasiado pela interpretação do tema "The World Spins", da série "Twin Peaks". No entanto, a banda sonora dessa série composta por Angelo Badalamenti e interpretada pela Julee Cruise, foi a principal influência dela, tanto na paisagem sonora lynchiana como na música. E assim encerrou o concerto. Foi uma surpresa muito agradável.
Quanto ao concerto da Weyes Blood foi adorável. Ela conseguiu surpreender as actuações para o grande público e o sapo cocas também.
No palco estava a Weyes Blood (na voz, nas teclas ou no piano e na guitarra acústica). Na banda dela estava o Stephen Heath (na guitarra eléctrica), a Eliana Athayde (no baixo e voz de fundo), Kevin Yokota (na bateria) e Walt McClements (nas teclas).
No entanto, ouvimos a harmonia das vozes e das progressões de acordes com a "A Lot's Gonna Change", tema da abertura do "Titanic Rising", acolhendo às delicadas secções de piano e das teclas.  E ao sentir a essa música, faz-me querer imaginar se tivesse a afogar e nadar debaixo de água do mar após o grande navio ter abatido contra o icebergue. Uma delicada maneira de começar o espectáculo. De seguida, a outra belíssima "Used To Be", uma no "Front Row Seat To Earth", manteve-se a rendição do público cheio motivado no B.Leza Clube. Ao nível de talento da Natalie Merning tornou-se receptível. Tanto na interacção com o público como na sua própria personalidade. O resto da banda dela segurou também. Mas já com a gloriosa "Everyday", num regresso a "Titanic Rising", destaca-se o momento mais pop com qualidade, resultando de um determinado arrepio. O sentimento em mim permanece ao nível singular. A "Seven Words", mais outra no "Front Row Seat To Earth", encontra-se o lado mais calmo e mais introspectivo, e é uma canção bonita que me faça arrepiar por completo ouvindo os cintilantes solos de pedal steel de guitarras por parte do Stephen Heath e de orgãos do Walt McClements. Depois disso, a Weyes Blood comandou às audiências e disse "levantam-se as mãos se um de vocês acreditam que a aterragem à lua fosse filmada no estúdio pelo Stanley Kubrick". "Um de vocês andaram a ver videos no Youtube". Esse tipo de comentário ao que ela interagiu tornou-se cada vez humorístico, demasiado tongue in cheek. A determinada altura, no tema "Something To Believe", a actuação continua a evoluir às expectativas calorosas. Esses momentos de uma dessas canções conseguiram alcançar as nossas ambições. A intimista "Mirror Forever" foi um momento maravilhoso, destacado com uma imagem de fundo da água do mar ao longo da música, com um foco de luz azul dirigido pela voz da Natalie Mering. Logo de seguida, os solos esplendorosos de piano, bem como a conjugação da harmonia das vozes dirigidas pela Mering e da Eliana Athayde, desta vez nas teclas, no "Diary", despertaram-me a minha sensibilidade. Mas no verdadeiro aspecto positivo para mim, fiquei jubliado pela interpretação da "Picture Me Better", tema que fala sobre o suicídio de um amigo da Natalie Mering, no tempo das gravações do "Titanic Rising". Esta música há muita emoção com toques de melancolia e da tristeza que me leva as lágrimas nos olhos. E esse tal efeito característico resulta de uma forma ponderosa. Já perto do fim, antes de encerrar o concerto, a bela "Andromeda" (com os belos pedal steels de Heath), e a prolongada mas misteriosa "Movies" (ouvindo-se as linhas de sintetizadores fantásticos ao longo da música) fizeram-me arrepiar desde as primeiras audições.
No encore, ela e a sua banda voltaram ao palco para a interpretação contagiante de "Do You Need My Love". A maravilha rendição da "A Whiter Shade Of Pale", dos Procol Harum, atingiu a minha surpresa. E por último, a banda dela foi-se logo embora e a Weyes Blood interpretou sozinha no palco, apenas na voz e guitarra, com os temas que finalizam o espectáculo, as belíssimas "Bad Magic" (no álbum "The Innocents") e "In The Beginning".
E portanto, foi uma experiência divinal. A interacção com o público foi totalmente positivo. E que esplendor concerto que a Weyes Blood e a sua banda representaram ao vivo no palco. Relativamente triunfal.


Ana Roxanne




Weyes Blood












Photos by: Pedro Miguel Dias
Text by: Pedro Miguel Dias
Setlist: https://www.setlist.fm/setlist/weyes-blood/2019/bleza-lisbon-portugal-b9d5d3a.html

A Lot's Gonna Change
Used To Be
Everyday
Seven Words
Something To Believe
Mirror Forever
Diary
Picture Me Better
Wild Time
Andromeda
Movies

Encore:
Do You Need My Love
A Whiter Shade Of Pale (Procol Harum cover)
Bad Magic
In The Beginning

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